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Artistas comemoram o dia do grafite, em SP, neste fim de semana

Mesmo sem ser oficial, o 27 de março é celebrado para preservar a trajetória da arte de rua brasileira e reafirmar lei extinta pela prefeitura

Por Fernanda Catania Publicado em 26/03/2010, às 18h54

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Grafite de Ozeas Duarte, homenageado nesta edição do evento do dia do grafite, realizado pela ONG Ação Educativa - Reprodução/Flickr Graffiti Vivo
Grafite de Ozeas Duarte, homenageado nesta edição do evento do dia do grafite, realizado pela ONG Ação Educativa - Reprodução/Flickr Graffiti Vivo

Pouca gente sabe que São Paulo já teve, oficialmente, o dia do grafite. A data, 27 de março, não faz mais parte do calendário da cidade - em 2007, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) acabou com a lei que determinava a homenagem, a fim de seguir à risca a Lei Cidade Limpa -, mas continua sendo celebrada por muitos artistas. Desde 2004, a ONG Ação Educativa comemora o dia com atividades gratuitas no centro paulistano. A abertura do evento acontece nesta sexta-feira, 26, às 19h, na sede da ONG. Lá, serão expostas 27 obras de artistas indicados por sete coletivos, em mostra que ficará aberta até 24 de maio.

Cada um dos grupos - 5 Zonas, CDV, Coletivo Água Branca, Stensil Brasil, Imargem, Cedeca Interlagos e o exclusivamente feminino Noturnas - selecionou um representante para pintar a imagem do rosto de Ozeas Duarte, o Ozi, homenageado desta edição, no painel que ficará exposto no hall da ONG durante o ano todo.

No sábado, 27, haverá uma intervenção no centro da cidade. O quarteirão das ruas Maria Borba e Cesário da Mota, na Vila Buarque, será fechado para que os grafiteiros possam exibir sua arte nos muros de duas casas abandonadas no local. Diferente dos outros anos, a intervenção acontece apenas no centro, com o intuito de reforçar a arte da periferia na região. "Senão fica essa coisa da elite da arte dominando e a população periférica sempre à margem. Queremos incluir e mudar esse paradigma", explica Celso Gitahy, organizador do evento e artista do coletivo Stensil.

Por fim, no domingo, 28, a intervenção vai para a rua Santo Antônio, no Bixiga, onde os coletivos irão grafitar um painel da DGT Filmes. Também vão acontecer shows de música (a única apresentação confirmada pela organização foi a do cantor de funk soul Wesley Nóog, no Quiosque 8 do Parque da Água Branca).

História

O dia do grafite foi criado informalmente em 1988 para homenagear Alex Vallauri, um dos pioneiros da arte de rua no Brasil, morto em decorrência da aids, em 27 de março de 1987. No aniversário de um ano de sua morte, um grupo de artistas veteranos, entre eles Ozi, Maurício Villaça e Julio Barreto, se reuniu para grafitar instalações públicas de São Paulo, como o túnel da avenida Paulista.

Logo depois, ainda no final da década de 80, o então deputado federal Fabio Feldmann (PSDB/SP) apresentou um projeto de lei na Câmara dos Deputados, em Brasília, com o objetivo de estabelecer nacionalmente o dia do grafite, mas a proposta acabou sendo engavetada. Em 2004, depois do pedido de jovens da periferia de São Paulo, o principal pólo de grafite do país, a Câmara Municipal aprovou um projeto do vereador Odilon Guedes (PT) e a lei foi sancionada pela prefeita Marta Suplicy, oficializando a data na capital paulista.

No entanto, por conta da Lei Cidade Limpa, estabelecida na gestão Kassab, em 2007, muitas pinturas e grafites foram apagados pela prefeitura, por serem ilegais - o que culminou na retirada da data do calendário. Mesmo assim, todos os dias há gente estampando os muros da cidade.

"Chega a ser uma questão contraditória, porque é ilegal, mas as pessoas continuam pintando na rua sistematicamente. A street art já é assimilada pela população brasileira. Se fosse de fato ilegal, não haveria tolerância", acredita Ozi. Para Celso, a celebração deste fim de semana é importante justamente para chamar a atenção das autoridades. "Deve haver um apoio de verdade, tanto no sentido de fazer um evento mais bem estruturado, como para a publicação de livros e catálogos", diz. "A própria obra do Vallauri não é reconhecida, não se tem nenhum livro ou site de verdade dedicado a ele ou a história da arte de rua brasileira."

Tudo pela arte

Graças à insistência destes artistas na luta pela valorização da arte de rua brasileira, aos poucos começam a surgir resultados. Foi o que aconteceu quando a prefeitura autorizou a 1ª Bienal Internacional da Arte de Rua (BIAR), que deve acontecer no final deste ano.

Com curadoria de artistas como Rui Amaral, Tikka (do Noturnas), o próprio Celso e também Ozi, a BIAR está sendo vista com otimismo pelos artistas. Amaral fez questão de explicar que esta edição da Bienal é dedicada a arte de rua, evitando utilizar o nome grafite, justamente para preservar o termo. "Aos poucos vamos conquistando um espaço, com inscrições junto às autoridades. Eles nos regularizam algumas instalações públicas para revitalização, como vamos fazer durante a BIAR, no metrô, em trechos do Minhocão e no buraco da avenida Paulista."

Dia do Grafite em SP

Realização: ONG Ação Educativa

Entrada franca

Informações pelo telefone: (11) 3152-2333

26 de março, 19h

Exposição de abertura (até 24 de maio - segunda à sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 14h)

Local: Ação Educativa - Espaço Cultural Periferia (Rua General Jardim, 660, Vila Buarque)

27 de março

Intervenção na rua Maria Borba e entorno, Vila Buarque (Centro)

28 de março, 14h

Intervenção na rua Santo Antônio, no bairro do Bixiga, e no Quiosque 8 do Parque da Água Branca