Festival aconteceu em São Paulo no último domingo, 14, e teve como atração principal o Twisted Sister
Dee Snider, 58, pareceu querer dar um recado quando começou o show do Twisted Sister com “You Can’t Stop Rock 'n' Roll” (você não pode parar o rock 'n' roll, na tradução). A idade dele e dos demais músicos não impediu que a banda fizesse uma ótima, apesar de curta (1h10), apresentação no festival Live 'N' Louder, mas faltavam dez minutos para a 0h deste domingo, 14, quando o grupo subiu ao palco do Espaço das Américas, e somente quem não dependia de transporte público e/ou era muito fã do quinteto norte-americano esperou.
Por conta disso, o Twisted Sister fez seu maior show no Brasil, porém para o menor público. Apenas cerca de um terço da casa (cuja capacidade é de oito mil pessoas) ficou “povoado” ao longo da noite por fãs das seis atrações do line-up do evento. Alguns chegavam para ver uma ou duas bandas e saíam. Quando o Twisted Sister começou a tocar, o lugar parecia ter ainda mais espaço livre do que no pico da noite, quando se apresentou a banda norte-americana Metal Church.
“É domingo à noite e vocês estão aqui. Por isso amamos vocês”, disse Snider, perto do fim do show. O cantor e os colegas do Twisted não se incomodaram com a falta de quórum e mandaram versões pesadas e enérgicas de músicas como “Under the Blade”, “The Kids Are Back” e “S.M.F.”. Esta última encerrou o show, no bis. Como é habitual nas performances do TS, o vocalista pulou e correu durante boa parte do tempo. Intercalou a energia com visitas constantes à parte de trás do palco, sem demonstrar o que fazia lá. “Vou ali beber um pouco de água”, disse, em uma das saídas, mas não voltou com garrafa ou copo do líquido.
O Twisted Sister começou o show com uma hora de atraso, e, antes, quem tocou foi o Angra, que também entrou atrasado. Como havia espaço de sobra, muita gente ficou sentada ou deitada durante o show da banda brasileira. Snider pegou o público cansado, mas, como um animador de torcida de time que está na lanterna, fez a plateia gritar refrães – como o do hit “I Wanna Rock” – e acompanhá-lo em estrofes de outras canções. No meio de “I Believe in Rock 'n' Roll”, brincou: “Bem-vindos à igreja Twisted Sister. Eu sou o pastor”, falou o cantor, que nos anos 1980 esteve na mira do PMRC (Parents Music Resource Center), um comitê moralista criado nos Estados Unidos, na década de 80, que via bandas de metal como ameaças à sociedade.
“We’re Not Gonna Take It”, o maior sucesso do TS, foi tocado no meio do show, mas não teve a versão de “It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like it)”, dos Rolling Stones, que o grupo tocou no Chile na noite anterior.
Apesar dos atrasos e do pouco público, outros bons shows marcaram esta terceira edição do Live 'N' Louder, a primeira em sete anos. A surpresa da noite foi o grupo norte-americano de southern rock Molly Hatchet, que, com a sonoridade mais “mansa” do elenco, fez o público acompanhar cada música. Isso muito por conta da performance do guitarrista Bobby Ingram, bom e carismático músico que ainda caiu nas graças da plateia após começar a jogar várias palhetas para o povo, que por vezes quase se estapeava para pegá-las. A banda dos anos 1970, que veio pela primeira vez ao Brasil, dedicou a canção “Justice” ao cantor Ronnie James Dio, morto em 2010.
Outro que estreou no país foi o Loudness. O grupo japonês, que já não contaria com a presença de seu vocalista Minoru Niihara (que tem outra banda, paralelamente), também não teve o convidado Mike Vescera. O cantor não conseguiu embarcar, nos EUA. Quem cantou com a banda foi o brasileiro Iuri Sanson, do grupo Hibria, que já conhecia pessoalmente o pessoal do Loudness. Iuri deu como vantagem ao grupo a comunicação com a plateia. “Esses caras viajaram 40 horas para vir tocar aqui”, disse o vocalista ao público, pedindo aplausos. O Loudness foi o terceiro grupo a entrar e pôs em foco o melhor guitarrista da noite: um dos fundadores da banda, Akira Takasaki.
Entre o Molly Hatchet e o Loudness tocou o trio alemão de thrash metal Sodom, o grupo de som mais pesado do festival. Nenhum dos três, no entanto, conseguiu superar a expectativa em torno da aparição do Metal Church, outro que era inédito em shows no Brasil. O cultuado grupo norte-americano, que havia se separado pela segunda vez em 2009 e voltou a tocar no ano passado, fez o público cantar junto de “Ton of Bricks”, a faixa de abertura, até “Metal Church”, que fechou a apresentação.
O previsto era que cada banda tocasse 45 minutos e que houvesse 15 minutos entre uma e outra, para a troca de palco. Pequenos atrasos foram se acumulando, e o Angra, quinta atração da noite, entrou quase no horário em que seu show já deveria estar terminando. Com o italiano Fabio Lione nos vocais e parte do público afastada do palco, apenas esperando o Twisted Sister, o grupo abriu com “Nothing to Say”, centrou o miolo do repertório em baladas, encerrou com “Nova Era”, e não mostrou nada que provasse que aquela parte da plateia estava errada quando preferiu o sossego do fundão, o cochilo nos cantos ou o descanso no chão a ver o grupo de perto.