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Autor de livro sobre rockabilly no Brasil fala sobre a história do gênero

Eduardo Molinar escreveu Rockabilly Brasil a partir de um projeto de TCC

Paulo Cavalcanti Publicado em 21/05/2016, às 11h43 - Atualizado em 22/05/2016, às 15h30

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Eduardo Molinar, autor do livro Rockabilly Brasil. - Taíssa Uggeri
Eduardo Molinar, autor do livro Rockabilly Brasil. - Taíssa Uggeri

Recém-formado em jornalismo e fã de longa data de rockabilly, o gaúcho Eduardo Molinar resolveu preencher uma lacuna que havia nos registros sobre música no Brasil escrevendo um livro sobre como o gênero surgiu e se firmou no país. Rockabilly Brasil foi lançado de forma independente e, para obtê-lo, é preciso entrar em contato com o autor na página dele no Facebook. Molinar falou com a Rolling Stone Brasil sobre a obra e contou um pouco sobre o desenvolvimento do rockabilly por aqui, descrevendo as bandas e os momentos que marcaram o estilo.

Como você se envolveu com o rockabilly? Como começou a gostar do estilo?

Conheci Elvis Presley com 8 anos, a partir da influência do meu pai. No entanto conheci a fase dos anos 1970. Depois de ganhar um CD com as gravações dos primeiros shows dele no programa de rádio Louisiana Hayride eu passei a ouvir o rockabilly puro. Logo que pesquisei mais artistas, como Eddie Cochran e Gene Vincent, também comecei a assistir aos filmes de Marlon Brando. Como o som já havia sido adotado por mim, o visual greaser também passou a ser meu estilo de vida. Eu tinha 12 anos quando comecei a andar com o visual – topete e jaqueta de couro –, mas já ouvia a música antes.

Como e quando surgiu a ideia do livro? Como você fez a pesquisa? Teve alguma dificuldade?

Ele surgiu no finalzinho de 2013, quando comecei a pensar em um tema para meu TCC. Como nunca fui de ficar estudando teorias chatas da faculdade, decidi fazer meu Trabalho de Conclusão da forma mais prática possível: um livro-reportagem. Assim que veio essa ideia, o nome "Rockabilly no Brasil" me veio à mente e não saiu mais. Percebi que era aquilo que eu queria fazer. Então, decidi trabalhar em um livro mesmo, fugindo da ideia do livro-reportagem e sendo bem mais abrangente. Iniciei a pesquisa primeiramente na internet, fazendo trabalho de formiga. Listei nomes a partir de alguns rockers com quem conversei por telefone e decidi ir a São Paulo. Ou eu entrava na cena e entendia tudo, mesmo que não conhecesse absolutamente nada nem ninguém em São Paulo, ou não fazia o livro. Me aventurei e amei a cidade, a cena rocker me recebeu muito bem, pois viram que eu também era autêntico e sabia o que estava fazendo. Tinha seis entrevistas programadas, a princípio, e terminei o livro com mais de 50 presenciais, fora as que fiz por email e em conversas mais informais.

Com quantas pessoas mais ou menos você falou? Como foi a evolução das tribos de rockabilly no Brasil desde os anos 1950 até hoje?

Falei com 100 pessoas, mais ou menos, só para o livro. Conversei com rockers da Inglaterra e Estados Unidos (Levi Dexter, Tim Worman, no Polecats, e Ronnie Weiser). O rockabilly como subcultura (não gosto de usar a palavra "tribo") chegou aqui a partir de 1979. Nos anos 1950, não existiam roqueiros, é claro. Os discos eram de difícil acesso às classes mais baixas. Pouquíssima informação chegava. Os cenários de Nova York e Londres, com gangues de rua greasers, isso não se repetiu aqui nos anos 1950 e 1960, não da mesma forma. Já no início dos anos 1980 as coisas explodiram. Surgiram bandas como Coke Luxe e Grilos Barulhentos e gangues rockers como Ratz e General Boys (entre muitas outras). Finalmente o rockabilly tomou as ruas, da mesma forma como havia nascido nas ruas dos Estados Unidos a partir de meados dos anos 1950. Em 1947, depois da Segunda Guerra Mundial, já existiam gangues de rua por lá, gente barra pesada mesmo. Só que a "explosão" aconteceu com o advento do rock and roll. Foi aí que as gangues levantaram suas bandeiras. A mesma coisa aconteceu aqui, mas a partir de 1979.

Quais são os principais centros do estilo no Brasil?

São Paulo e o ABC Paulista, certamente. São Paulo é o berço do estilo e sempre será (e deve ser) visto com respeito por outros locais. No entanto, atualmente a coisa está muito maior do que muitos imaginam. Há cenas importantíssimas organizando festivais, com bandas ativas e autênticas surgindo no Brasil todo, em lugares como Manaus, Porto Alegre, Curitiba, Natal, Salvador, Belo Horizonte... É um novo momento para o movimento, com novas pessoas dando contribuições diferentes ao estilo, e algumas delas levando nosso nome para o exterior.

Quais os artistas de que você mais gosta nas cenas nacional e internacional?

Na cena nacional há vários, mas em especial as bandas Coke Luxe, do saudoso Eddy Teddy; Old Stuff Trio, banda de rockabilly de Sapucaia do Sul (RS), que inclusive está se apresentando no Viva Las Vegas 2016; e a banda The Hicks, de Poços de Caldas (MG) Me apaixonei pelo som desta, que resgata a música sulista norte-americana. Além de rockabilly, eles também tocam blues, country e bluegrass.

Você poderia citar alguns grandes momentos do rockabilly no Brasil?

Foi sem dúvida entre 1988 e 1992. Alguns momentos memoráveis são: a ida dos rockers ao Programa Livre, de Serginho Groisman, em 1992; os campeonatos de topete organizados por Rick and Roll, ocorridos entre 1988 e 1996; o show de João Penca e os Miquinhos Amestrados na Expointer, uma feira que acontece no Rio Grande do Sul e que ficou lotada de rockers em 1990; a vinda dos Stray Cats para fazer três shows no Brasil, em 1990 (dois em São Paulo e um no Rio de Janeiro; o Rockerama Festival (2015), em São Paulo, que trouxe as bandas internacionais como The Jets e The Go Getters; e o Big River Festival de 2015, ocorrido em Sapucaia do Sul (RS), que trouxe a lenda Sonny Burgess para se apresentar.

Para finalizar, você acha que cumpriu seu objetivo com a obra?

Sim. O objetivo do livro, que foi a primeira obra a traçar a história do estilo em nosso país, é divulgar e difundir essa subcultura em todas as camadas da sociedade. Levar essa história aos que desejam conhecê-la e, quem sabe, um dia se tornarão adeptos. Mais que isso, é unificar o movimento no Brasil e mostrar que só conseguiremos ir para frente e tornar o rockabilly maior se um apoiar o outro. Eu diria "tirem o pé da parede", como diz meu amigo Rick and Roll, só que isso já estão fazendo. É simplesmente extraordinário [ver] os festivais que estão sendo organizados.