“Sempre curti músicas natalinas”, diz Greg Graffin
Pode parecer estranho uma banda punk chamada Bad Religion fazer um álbum celebrando o nascimento de Jesus. Mas Christmas Songs, disco que os veteranos do punk lançaram este semestre, reúne nove faixas natalinas tradicionais, incluindo "O Come All Ye Faithful," God Rest Ye Merry Gentlemen", e o clássico de Irving Berlin "White Christmas". A coletânea sucede o décimo sexto álbum de estúdio da banda, True North, que foi lançado em janeiro deste ano. A Rolling Stone EUA falou com o frontman Greg Graffin sobre as motivações por trás de Christmas Songs, o relacionamento da banda com o Cristianismo e mais.
Como é o processo de pegar uma música tradicional de Natal e transformá-la em uma música do Bad Religion?
Isso é o que caracteriza o álbum em si. Essa é a forma verdadeira do som do Bad Religion. Nós não estávamos tentando soar punk. Não estávamos tentando soar metal. Acho que é muito natural, porque não há muitas outras bandas por aí que soam como o Bad Religion. Os arranjos vocais são grande parte da fórmula de uma música do Bad Religion – camadas de harmonias e vocais no background. Então, quando eu começo a descrever os elementos do som do Bad Religion, começa a parecer um coral de Natal. É desse jeito estranho que o álbum tem sentido.
Existe alguma conexão entre o seu novo álbum, True North, e o disco de Natal?
Acho que sim. Além do espírito musical, o sentimento é basicamente o mesmo. Os arranjos vocais são consistentes. Mas não compartilham da mesma seriedade de True North, porque True North é uma expressão sincera de ideias e esse é uma reinterpretação de músicas natalinas. Existe um pouco de diferença no conteúdo intelectual.
Quando você toca uma música que não foi escrita por você, acha importante compactuar com as ideias da letra?
Eu diria que não compactuo muito. Eu tendo imitar o que escuto. A maioria dos cantores faz isso, quando não é material original, estamos dando voz a ideias de outra pessoa. Essa é a verdade de como me aproximei dessas músicas. Eu cantei da maneira que achei que deveria cantar, como se eu estivesse lembrando do meu passado como membro de coral. Eu cantei em coral quando era criança. Desde essa época a minha visão sobre harmonias e arranjos foi se desenvolvendo. Eu sempre levei aquilo comigo, mesmo no primeiro disco do Bad Religion, que curiosamente foi gravados seis anos depois daquela época.
Você celebra o Natal?
Ah, claro. Era a melhor parte do ano quando eu era criança. É uma das maiores tradições nas famílias seculares norte-americanas. A maioria dos meus amigos judeus amavam a época natalina e as festas tanto quanto eu.
Então o tom religioso nas faixas é sincero, ou há certa ironia nelas?
Bem, isso é difícil. É claro que há ironia. A ironia, alguns concordariam, é a melhor parte do álbum – o fato de ser o Bad Religion, que tem esse nome e esse logo, fazendo um disco com algumas das faixas mais festivas do feriado cristão. Mas eu não quero só a responsabilidade pela ironia, porque a verdade é que o Natal não é ironizado pelo Bad Religion. É ironizado pelo secularismo da sociedade moderna. Você não precisa ser fã de Bad Religion para ironizar o Natal. Se você for ver nossa herança intelectual, o Bad Religion não é irônico – a sociedade moderna é irônica. Essas são coisas sobre as quais o Bad Religion sempre cantou, a secularização do Cristianismo. Essa foi a parte mais profunda tocada por nós em nossas críticas à religião.
Como você caracterizaria a relação do Bad Religion com o Cristianismo?
O Bad Religion nunca criticou pessoas por serem cristãs. Mas sempre apontamos as ironias e as contradições da teologia do Cristianismo e as versões mais extremas de cristãos que procuram desafiar o secularismo moderno. Sejamos francos: há pessoas extremistas em todos os cantos da sociedade, e seja qual for a bandeira levantada por elas, é algo que o Bad Religion se posicionou contra.
A banda já está trabalhando no próximo álbum?
Estamos animados para compor sem parar. Acho que ano que vem será um ano de reflexão e de um pouco de vivência, então teremos mais coisas sobre as quais escrever.