O baixista Bill Reynolds, do Band of Horses, atração do Lollapalooza, comenta a trajetória do grupo, liderado por um dono de selo indie que resolveu aprender a tocar um instrumento
Não é nada incomum: a banda começa a carreira, grava uns discos, faz turnês, ganha um nome e aí um deles resolve abrir um selo para lançar a própria música e, dentro do possível, a de outros artistas semelhantes. O Band of Horses fez tudo ao contrário. Ben Bridwell era um dono de selo de indie rock em Seattle, a capital mundial do grunge. Aprendeu a tocar bateria para entrar para uma banda, o Carissa's Wierd. Em 2004, se juntou a outros músicos para, na condição de vocalista e guitarrista, formar o Band of Horses.
A Som Livre está lançando o primeiro disco do grupo (o indicado ao Grammy Infinite Arms, de 2010, trabalho mais recente dele) no Brasil. E neste sábado, 7, a banda se apresenta no Lollapalooza, aquecendo o público para o aguardado show de um grande amigo deles (esse sim representante do grunge), Dave Grohl.
“A banda só começou em Seattle porque o Ben se mudou para lá para começar o selo dele e passou a compor”, conta o baixista Bill Reynolds, falando sobre a relação indie-Seattle-grunge. “Mas sempre fomos todos grandes fãs de indie rock. Somos bem amigos do pessoal do Foo Fighters, na verdade. Temos o mesmo agente e já dividimos muitos festivais juntos, viajamos no mesmo avião. É legal porque ouvimos Foo Fighters há anos, começamos como fãs e viramos amigos, o que é sempre o tipo de coisa que exige que você controle seus nervos”, brinca.
A banda já tinha conquistado um sucesso considerável com o disco de 2007 Cease to Begin, mas foi com Infinite Arms que o som dela chegou mesmo aos ouvidos do mundo. Para Reynolds, a explicação está no espírito de união que transparece no trabalho. “Esse é o primeiro disco que fizemos todos juntos, em colaboração. E nós mesmos o produzimos e compusemos. Acho que isso teve muito a ver com o sucesso do disco, é o diferencial em relação aos anteriores que fez com que ele estourasse mais no exterior.”
Agradecendo aos céus pela internet, o músico também comenta a experiência de tocar em um festival desse porte em um país que nunca vendeu um álbum do grupo. “Não chega a ser assustador, mas você precisa estar preparado para conquistar a plateia, que pode não conhecer suas músicas, dando um bom show a ela.”
Essa apresentação, possivelmente contará com algumas inéditas. Isso porque o quarto disco de estúdio dos Horses está perto de ser fechado – apesar de ainda não ter nome. “Quase acabamos, faltam duas semanas para finalizar. Somos só nós, nem contratamos músicos de fora. Fizemos toda a composição e gravação juntos e gravamos no lendário Sunset Sound, de Los Angeles. Passamos o ano todo compondo”, conta ele.
Não é só Ben que tem um passado forte nos bastidores da indústria musical. Originalmente, Reynolds era produtor e engenheiro de som, tendo inclusive assinado as funções no trabalho mais recente da banda. Sendo assim, os dois encaram de forma diferente o processo de “publicar música”. “Somos fãs de música e nós dois gostamos de colocar no mercado os sons que curtimos mais do que tudo. Ben é acima de qualquer outra coisa um produtor. Eu acho que isso ajuda muito a gente como banda porque sabemos bem o que queremos e onde devemos chegar. Ele pode não saber exatamente o que ele está fazendo na guitarra, mas tudo que sai é genial. Ele não teve as aulas todas, mas é um guitarrista sensacional, a gente não soaria como soa se não fosse a guitarra dele”, explica sobre as habilidades do colega de banda, que vêm menos de méritos acadêmicos e mais de talento.
Intercâmbio
Boa parte do reconhecimento do Band of Horses vem de uma fórmula infalível de conquistar públicos diferentes. Músicas da banda foram regravadas por outros artistas, sendo que o caso mais notório é o de Cee Lo Green, que fez uma versão de “No One's Gonna Love You". “Ele mandou a música para a gente, ouvimos e ficamos extasiados. Depois quisemos retribuir o favor e gravamos ‘Georgia’, que é dele. É muito enobrecedor ouvir alguém te regravar. Às vezes você fica pensando que gostaria, antes de lançar o disco, de ouvir o que outras pessoas fariam com ela. Eu não acho que temos o ‘gosto definitivo’ e o fato de alguém se inspirar com uma música sua e fazer uma versão própria é lisonjeiro”.
Outra forma que eles encontraram de se divulgar foi colocando faixas em (muitas) trilhas sonoras de filmes e programas de TV. Trabalhando com uma agência que tenta vender as canções para os produtores, eles conseguiram bons espaços, como em A Saga Crepúsculo: Eclipse. “A gente não estava esperando e quando rolou foi um choque. Ganhamos muitos fãs por causa do filme”, revela, admitindo que gosta das histórias da trama vampiresca. Apesar de enxergar nessas trilhas ótimas oportunidades de expandir o público do grupo, o músico admite que precisam pensar com carinho antes de topar endossar um produto audiovisual. “Ben toma as decisões, funciona melhor deixar na mão dele. Mas nunca tivemos problemas. Acho que só não toparíamos se fosse em um comercial de algo que incitasse violência, coisas como o exército, sei lá. Algo que machucaria outras pessoas.”