Cantora soltou a música 'Black Parade' de surpresa no Juneteenth, ou Dia da Emancipação, que marca o fim da escravidão nos Estados Unidos
"Se o assunto de hoje não for Beyoncé, nem vou ler", dizia o meme. Na imagem, as palavras "Black Parade" apareciam em todos os cantos também. Beyoncé lançou uma música nova. E esse deveria ser o assunto do dia?
A resposta simples é "sim", mas tudo isso porque Beyoncé caminha para ser a artista mais importante dos nossos tempos.
+++ LEIA MAIS: Beyoncé recusa parceria com marca depois de reunião só com homens brancos na mesa
Estou falando de música pop e do novo século. Ninguém é tão relevante para o mundo além-música do que Beyoncé Giselle Knowles-Carter, a artista nascida em Houston, Texas, há 38 anos.
Há tempos, Queen Bey se transforma para ser mais do que uma artista da música. Ela transcende a barreira dos fones de ouvido como ninguém faz na atualidade. E também vai além da batalha destrutiva dos fandoms dos artistas do pop.
Ela não precisa necessariamente de um fandom, ela vai além disso. Ela fala com a sociedade completa. E precisa ser ouvida por todos, também.
Vamos à "Black Parade", um hino poderoso sobre cultura negra, sobre a cidade natal dela e sobre o feminino.
A música foi lançada no dia 19 de junho, data importantíssima nos Estados Unidos por marcar o fim da escravidão no país, em 1865. Claro, os EUA ainda caminham a passos lentos para reparar os erros sórdidos dos tempos de escravidão.
+++ LEIA MAIS: Beyoncé lança disco surpresa com 40 músicas e até faixa cantada pela filha Blue Ivy
Por isso, Beyoncé diz, "Put your fists up in the air, show black love", em um pedido para que os pulsos sigam erguidos, apesar das ações policiais do governo norte-americano de conter as ondas de protestos explodidas após o cruel assassinato de George Floyd por um policial branco.
"I can't breathe", dizia Floyd antes de morrer. Essa vida não pode ser esquecida, assim como milhares de outras perdidas aqui no Brasil - todos os dias.
Beyoncé sabe da importância e do alcance que construiu ao longo de uma carreira iniciada em meados dos anos 1990, antes mesmo do grupo ao qual integrava assumir o nome de Destiny's Child.
Fora do trio que formada ao lado de Kelly Rowland e Michelle Williams, Bey lançou 6 discos. Todos ficaram no topo da parada dos Estados Unidos.
+++ LISTA: 7 motivos que comprovam que Beyoncé é realmente a 'dona do mundo' [LISTA]
Nem vale a pena entrar em uma comparação de números com outros astros pop, porque certamente existem números maiores do que os dela - inclusive, o recorde de live com a maior audiência era de Beyoncé até as lives de Jorge & Mateus e, depois, Marília Mendonça.
O ponto é o impacto social, político e cultural de e, principalmente, o legado, o que fica.
Ninguém na música de massas tem o poder, alcance e timing de Beyoncé. "Black Parade" não é uma canção de protesto tradicional. Nem precisa ser também. O grave é poderoso e o refrão gruda, com uma ponte que faz tudo para que isso ocorra - e de fato, dá certo.
Nos versos, Bey nos leva de volta ao sul dos Estados Unidos e tudo que isso envolve, dos churrascos no quintal ao racismo estrutural pesadíssimo.
Beyoncé sempre foi extremamente politizada nos versos, mesmo que em canções entorpecidas dos hormônios artificiais do pop. Ela sabe equilibrar as linguagens, da música palatável e chiclete com o discurso afiado e que aponta para o futuro.
Em 2008, ou seja, 12 anos atrás, ela já usava todas as rádios do mundo para cantar "If I Were a Boy", explicitando o colossal abismo provocado pelo gênero na sociedade. Também emplacava o hit "Single Ladies (Put a Ring on It)".
+++ LISTA: 5 artistas acusados de satanismo por motivos bizarros
Em uma década, ela construiu uma carreira de hits políticos, com tons mais fortes ou mais leves. "Run the World (Girls)", de 2011, se tornou um hino poderoso no discurso do feminino.
Essa caminhada levou-a para Lemonade, o álbum de 2016 e possivelmente um dos mais importantes discos da década passada (no pop, quem foi mais impactante para a sociedade?).
Lemonade só sofreu de um mal: a limitação de alcance. Em tempos de ascensão das plataformas de streaming, o disco foi, por anos, exclusivo do serviço de música Tidal, de Jay-Z, o que limitou muito o acesso às canções além dos clipes publicados no YouTube.
Ainda assim, "Formation" se tornou uma poderosa canção a acompanhar o movimento #MeToo que explodiu um par de anos depois.
Beyoncé cuida demasiadamente da própria imagem, por isso se mantém longe do mundo das redes sociais e todas as fotos das performances ao vivo são aprovadas pela equipe dela para evitar que cliques com caretas se espalhem por aí.
Por isso, Beyoncé não faz o jogo da intimidade nas redes sociais. Ela ainda é uma artista à moda antiga, no sentido de que seu dia a dia não é exposto em stories no Instagram dela. Talvez seja uma estratégia correta de evitar a saturação da imagem e te manter a distância de nós, mortais consumidores de música, mas poderia ampliar ainda mais o alcance dela.
Lady Gaga, Rihanna, Taylor Swift, Madonna... Quem fez mais para a sociedade nos últimos 20 anos, em forma de música e no além-música? Beyoncé é a artista mais importante do nosso tempo porque ela que estará nos livros de história no futuro como alguém que melhor levou um discurso de mudança e transformação para as massas.
Isso, é claro, se existirem livros no futuro, é claro. E se existir um futuro. Beyoncé, eu sei, que estará lá.