BMW Jazz Festival: a noite dos sopros

Primeira noite do evento, batizada de Sax Reunion, fez um tributo ao instrumento com shows de Billy Harper, Joshua Redman e Wayne Shorter

Por Antônio do Amaral Rocha

Publicado em 13/06/2011, às 18h22
Billy Harper fez o primeiro show do BMW Jazz Festival - Marcos Hermes/Divulgação
Billy Harper fez o primeiro show do BMW Jazz Festival - Marcos Hermes/Divulgação

Com atraso de 30 minutos, um orgulhoso presidente da BMW Group Brasil, o senhor Henning Dornbusch, subiu ao palco do Auditório Ibirapuera e, num breve discurso, fez os agradecimentos de praxe e relatou as peripécias que ocorreram durante a produção de do BMW Jazz Festival.

O primeiro show da noite trouxe o Billy Harper Quintet, formado pelo próprio no sax tenor, Francesca Tanksley ao piano, Aaron Scott na bateria, Keyon Harrold no trompete e Clarence Seay no baixo acústico. Billy, que também é professor de música na Faculdade de Livingston e confessa influências do mestre John Coltrane, mostrou um jazz temperado com pitadas de blues e gospel e inverteu a velha prática de apresentar os músicos só no fim do show. Ele começou justamente por aí, antes pedindo que a luz voltasse ao auditório para que ele pudesse ver a plateia. Ao fim de cada número, simpático, mas preocupado, fazia questão de saber se o som estava bom - preocupação desnecessária, pois o auditório tem uma das melhores acústicas da cidade. O show, apesar de bastante aplaudido, serviu como um esquenta para o que ainda viria. Tanto Billy quanto o trompetista Keyon saíam do palco enquanto não estavam atuando, e esse entra e sai, apesar de mostrar desprendimento, deixou o show um tanto quanto morno inicialmente e só empolgou em números em que os dois principais instrumentos eram tocados simultaneamente. Não houve bis.

O Joshua Redman Trio - formado pelo próprio nos sax tenor e soprano, Reuben Rogers no baixo acústico e Greg Hutchinson na bateria - fez o segundo show da noite. O trio começou por mostrar o free style na execução do jazz, trazendo uma performance energética, de tirar o fôlego, na maioria das vezes. Todos os músicos sente (e deixam isso claro) através do corpo o que estão tocando. O próprio Joshua, que tem a música no DNA (é filho do saxofonista Dewey Redman) toca dançando até nas baladas mais melódicas, executadas no sax soprano. E o fato de os três serem relativamente jovens ajuda: Joshua tem 41 anos, Reuben tem 36 e Greg, 41. Não se imagina um jazz desse tipo sendo executado por veteranos. Redman, entre uma música e outra, declarou ser um privilégio tocar em São Paulo, ainda mais na mesma noite do mestre Wayne Shorter. Ele ainda teve a coragem de trocar a palheta do sax tenor em pleno palco. Como se o seu set de uma hora não bastasse, a pedidos, deu um bis de sete minutos.

Em certo momento, o apresentador do auditório, sem aparecer para o público, começou a relatar o périplo que foi fazer a última atração da noite chegar a São Paulo. Os músicos estavam em Buenos Aires e a impossibilidade dos voos a partir de lá fez o grupo viajar de ônibus até Uruguaiana, depois pegar um voo até Curitiba e de lá outro para São Paulo. E finalmente no palco, à 1h da manhã, começou o aguardado show do quarteto do veterano Wayne Shorter, de 77 anos, formado por Danilo Perez ao piano, John Patitucci no baixo acústico e Terri Lyne Carrington na bateria. De início, um certo burburinho à espera do primeiro solo de Shorter, que preferia marcar o tempo da música batendo no porta partitura enquanto ensaiava alguns sopros, como se ainda tivesse testando a palheta do seu sax. E o primeiro número foi assim. O músico, que não disse uma palavra durante toda a apresentação, aos poucos foi se soltando e tocou por uma hora e meia, cinco temas quase sem intervalos, revezando entre o sax tenor e o soprano.

O que Wayne Shorter anda fazendo atualmente é um tipo de jazz ainda não classificável dentro das tendências conhecidas - pode-se dizer que é um jazz com a marca de Wayne. Na apresentação, houve espaço para o brilho de todos, mas sem a presença daqueles solos intermináveis que se costuma ouvir. Quando Wayne não tocava, encostava-se ao piano e deixava o show correr. No último e mais curto número, um evidente improviso, houve até citação de "Aquarela do Brasil" ao piano. O público queria mais, mas já passava das 2h30 da manhã deste sábado, e a banda retornou ao palco só para agradecer.

O BMW Jazz Festival continua neste sábado, 11, com shows de Zion Harmonizers, Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz e Sharon Jones & The Dap-Kings. No domingo, Sharon aparece na parte externa do auditório para um show gratuito (às 17h30), em evento que também terá a Funk Off Brass Band Parade

(10h). À noite, mais shows no Auditório: Tord Gustavsen Trio, Renaud Garcia-Fons e Marcus Miller - Tutu Revisited.