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BMW Jazz Festival: as raízes da música

Segunda noite do evento, batizada de Roots, teve shows surpreendentes de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz e Sharon Jones & The Dap-Kings

Por Antônio do Amaral Rocha Publicado em 13/06/2011, às 18h11

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Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz no BMW Jazz Festival - Ricardo Ferreira/Divulgação
Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz no BMW Jazz Festival - Ricardo Ferreira/Divulgação

Como na primeira noite do festival (saiba mais aqui), o presidente da BMW Group Brasil, Henning Dornbusch, subiu ao palco do Auditório do Ibirapuera, fez os agradecimentos e aproveitou para dedicar a festa a jazzistas ilustres brasileiros já falecidos, lembrando do trompetista Marcio Montarroyos e do baixista Nico Assumpção.

Com o palco liberado, veio a primeira atração da noite. A Zion Harmonizers, o mais antigo grupo vocal dos Estados Unidos, fundado em 1939, em Nova Orleans, é um grupo composto por um coro de vozes masculinas e uma única mulher, a harpista Rachel Van Vorhees. Fazem parte da trupe William Briscoe (baixo), Franklin D. Smith (vocal barítono), Marion Chambers (vocal tenor), Benjamin François (vocal tenor), Charles Harris (vocal baixo), Leo Williams (guitarra), Charles Fisher (guitarra), Marvin Smith (bateria e percussão), Joseph Warrick (teclado e vocais). O clima do que seria ouvido foi estabelecido logo no início, com três comoventes números solo executados por Rachel Van Vorhees na harpa. O grupo cantou temas de gospel e spirituals como se estivessem no palco de uma igreja. E para eles o palco é espaço pequeno - tanto que grande parte do show foi feito com o solista cantando e dançando no meio da plateia, enquanto ele aproveitava para cumprimentar o público, que era instigado a acompanhar a festa com palmas e dança. O repertório está na origem do que se conhece da música americana de raiz, e é, antes de tudo, uma veneração religiosa. No número de encerramento parte da banda caminhou pelo teatro distribuindo mimos à plateia.

A segunda atração da noite foi uma grata surpresa, além de ser o único nome brasileiro do line-up do festival. Apesar de existir e atuar em Salvador há quatro anos, a Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz é pouco conhecida por aqui. Trata-se de uma orquestra, no estilo big band, formada por 15 músicos de em instrumentos de sopro e cinco percussionistas, dirigida de forma original pelo maestro e saxofonista Letieres Leite. O sentido original da percussão está na base de tudo o que fazem, tanto que o nome do grupo surgiu justamente a partir dos nomes dos três atabaques do candomblé - rum, rumpi e le. Foi um show didático, que envolveu explicações sobre os diferentes tipos de batida percussiva a partir das origens africanas. O repertório, todo lido em partituras pelos naipes de metais, venera respeitosamente cada entidade do culto e a base das composições e arranjos derivam do universo da música afrobaiana (Ilê Aiyê, Olodum, sambas do recôncavo e candomblé) somadas à estética do jazz.

A terceira é última atração da noite começou aos dez minutos da madrugada de sábado para o domingo. No palco, a banda The Dap-Kings (que já gravou com Amy Winehouse), formada por dois saxes, um trompete, percussão, bateria, baixo e duas guitarras. O líder Binky Griptite ensaiou duas frases em portunhol e confessou ser isso o máximo que sabia falar em português. E por 15 minutos comandou o show. Em seguida chamou as duas backing vocals, que também fizeram os seus solos e tomaram os seus lugares. E depois de ele perguntar diversas vezes "Vocês querem Sharon Jones?", finalmente a nova diva da black music entrou no palco. Trajando vestido preto e já dançando, ela falou, em português: "Como estão vocês?". A partir daí, seguiram-se 90 minutos de interação total com a plateia. Sharon não apenas canta: ela dança e conversa com o público o tempo todo, e se arrisca chamando pessoas ao palco. Primeiro, ela chamou um rapaz e cantou para ele, dançando junto; depois, convidou quatro meninas e ensaiou com cada uma delas passos de dança.

Sharon, de 55 anos, faz um show "arrasa quarteirão", com energia de garota. Mas não houve só momentos eletrizantes. O intimismo aconteceu quando ela cantou "Mama Don't Like My Man", um diálogo entre mãe e filha, respondida por uma das backing vocals, e acompanhado só da guitarra no início e depois de percussão e bateria. Logo em seguida, ela chamou mais um rapaz da plateia ao palco, e com ele dançou mais calmamente. O show já corria por uma hora, e quem esperava que fosse acabar por aí viu, boquiaberto, Sharon tirar as sandálias para continuar cantando por mais 30 minutos. As luzes do palco se acenderam e a plateia não arredou pé, até que voltou ao palco uma das backing vocal e começou a incentivar o público a fazer Sharon voltar. Foi a deixa para a volta e para o bis de mais 15 minutos, quando aproveitou para apresentar, um a um, os músicos da banda. Ela saiu convidando o público para o show ao ar livre que acontece neste domingo, 12, dizendo não gostar de despedidas. O evento, que acontece na parte externa do Auditório do Ibirapuera, terá Joshua Redman Trio (às 17h) e Sharon Jones & The Dap Kings (às 17h30). Às 19h, o programa Cinema ao Ar Livre BMW, com a projeção do filme Jazz on a Summer's Day. À noite, mais shows no Auditório: Tord Gustavsen Trio, Renaud Garcia-Fons e Marcus Miller - Tutu Revisited.