Em show de quase três horas no Morumbi, banda norte-americana comprovou que mesmo "machões" podem ser românticos
É difícil não ligar o Bon Jovi à imagem de groupies, fãs ensandecidas que dariam até o último fio de cabelo por alguns minutos ao lado da banda - ou melhor, do vocalista galã Jon Bon Jovi. Mas estar em um show dos norte-americanos é perceber que o mérito maior do grupo, que acumula mais de 25 anos de uma consistente carreira, é "tocar" os homens: diante da banda, eles se libertam da porção macho e assumem o lado romântico-extremo, ao menos na hora de bradar hits como "I'll Be There for You" e "Bed of Roses", como aconteceu nesta quarta, 6, no Estádio do Morumbi, em São Paulo.
O público feminino, claro, sempre esteve em destaque - desde os tempos em que o laquê era item essencial nas cabeças da banda, na década de 80, até os dias de hoje, como Jon fez questão de mostrar, durante uma entrevista coletiva de imprensa realizada poucas horas antes do show. "Quando vejo à minha frente um público de 60 mil garotas iguais a você, faço qualquer coisa. Até duas vezes", ele respondeu quando uma repórter perguntou de onde vinha a energia que os integrantes mantêm no palco (Jon tem 48 anos; o baterista Tico Torres, o mais velho da banda, tem 57). Na apresentação no Morumbi, para aproximadamente 65 mil pessoas, Jon, Tico, o guitarrista Richie Sambora e o tecladista David Bryan mostraram que ainda têm fôlego, em um show que, passeando por toda a carreira do grupo, acumulou quase três horas de duração.
A banda subiu ao palco às 21h15, começando o show com "Blood on Blood", do disco New Jersey, de1988 (deste, ainda viria "Lay Your Hands On Me", cantada por Richie). "We Weren't Born to Follow", single de The Circle (2009) e segunda música da noite, foi uma das poucas representantes do repertório lançado pelo Bon Jovi nos anos 2000. Não que as novas não agradem - "It's My Life" (do álbum Crush, lançado em 2000), por exemplo, foi extremamente bem recebida -, mas a extensa lista de hits da banda faz necessária a escolha de um setlist abrangente.
"You Give Love a Bad Name", "Born to Be My Baby", "Runaway" (o primeiro single do Bon Jovi, de 1984): todas estiveram lá, cantadas por um vocalista que, apesar de anos de uso intenso das cordas vocais, continua mostrando potência na voz. Ainda que derrape em um ou outro tom mais agudo, Jon comandou o show como se o tempo não tivesse passado. Levantando os braços com a palma das mãos aberta e sorrindo como se nunca tivesse visto fãs mais animados, o cantor afagou o público, como um bom showman. "Obrigado, São Paulo. É bom estar de volta. Não sei por que demoramos tanto, deveríamos vir todo ano", ele agradeceu, 15 anos depois de ter se apresentado com a banda no país. Em outro momento, disse ter sentido saudade: "Meus irmãos e irmãs, há muito tempo não tocamos no Brasil. E tem uma coisa de que sentimos falta: do som das vozes de vocês gritando". O cantor pareceu dar tudo de si no palco, assim como Richie, um ótimo guitarrista - que talvez sempre tenha tido menos destaque que o devido, por conta da imagem forte de Jon.
Depois de "Keep the Faith" (com o vocalista tocando as indispensáveis maracas), a banda saiu do palco pela primeira vez, às 23h25. O cantor, que havia trocado uma camisa de couro por uma regata azul e um casaco de couro, voltou de regata vermelha para cantar "These Days", em um dos muitos momentos em que era possível ouvir o coro ensurdecedor do público. Antes de continuar com o que seria a melhor sequência do show, Jon cantou parabéns para Tico, que faz aniversário nesta quinta, 7. Seguiram-se "Wanted Dead or Alive" (um hino do hard rock), "Someday I'll Be Saturday Night" e "Livin' On a Prayer", cujo eco das 65 mil vozes no Morumbi fez lembrar o por que shows de estádio são, sempre, uma experiência marcante.
No segundo bis, a última música: "Bed of Roses", uma pérola do repertório romântico do Bon Jovi, cujos versos mais apaixonados beiram, por vezes, ao cafona. Mas estar apaixonado é render-se à cafonice - e nem o mais "homem" dos homens do público deixou de cantar "I wanna lay you down on a bed of roses/ For tonight I sleep on a bed of nails" como se estivesse no auge do sofrimento amoroso. E assim, à 0h10, o Bon Jovi encerrou seu show, comprovando que as mulheres ainda se derretem pela boa aparência de Jon, mas que os garotos também se divertem num show de rock no qual a testosterona dá lugar ao "emo" que existe em cada um.
O Bon Jovi leva a The Circle Tour para o Rio de Janeiro nesta sexta, 8, na Praça da Apoteose.
Fresno
A banda Fresno teve a difícil tarefa de fazer o show de abertura para o Bon Jovi em São Paulo (e também terá no Rio). Lucas Silveira e seus companheiros começaram a apresentação sob vaias e palavrões de fãs, no mínimo, contraditórios, que se rebelam contra o estereótipo do rock romântico enquanto cantam músicas como "Always". O lado emotivo, uma das razões das críticas desse público ao Fresno, sempre foi um dos pontos fortes da banda norte-americana - daí a falta de nexo na recepção dada aos gaúchos. Mesmo em ambiente hostil, o Fresno se apresentou corajosamente, mostrando o peso adquirido no disco Revanche e até conseguindo aplausos ao final do show.