Banda liderada pelas irmãs gêmeas Kim e Kelley Deal volta ao Brasil pela terceira vez para provar a importância de se ouvir um álbum do início ao fim
Na terceira vinda ao Brasil, o The Breeders chega para mostrar que, mesmo em pleno século 21, a era dos singles e das playlists, o disco inteiro ainda oferece uma narrativa fluida e um peso diferenciado – seja nos fones de ouvido, seja ao vivo.
The Breeders toca o hit “Cannonball” no Late Night with Jimmy Fallon; assista aqui.
A banda se apresenta nesta quarta-feira, 24, no Cine Joia, em São Paulo, com a turnê do cultuadíssimo disco Last Splash, lançado há 20 anos e responsável por colocar o grupo – até então visto por alguns como um projeto paralelo da baixista do Pixies Kim Deal – em uma das grandes forças do indie rock norte-americano.
Há pouco mais mês, contudo, Kim anunciou a saída do Pixies – de novo. Logo depois, a banda de Black Francis lançou “Bagboy”, a primeira inédita em nove anos (ouça aqui). Com toda a turbulência envolvendo a (atualmente) antiga banda, ela acertou que não daria entrevistas.
Quem falou à Rolling Stone Brasil foi a outra Deal da banda, a simpática Kelley, gêmea de Kim, que, ao lado da irmã, conduz as guitarras e os vocais do grupo. A turnê é especial para o grupo justamente pelo caráter comemorativo. Em março foi lançada, inclusive, uma versão de luxo do álbum chamada LSXX, com extras, demos, lados B e versões ao vivo.
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“É interessante tentar reviver a mesma sonoridade do estúdio no palco”, diz Kelley, que admite ser fissurada pela descoberta – e redescoberta – de timbres encontrados nos estúdios Coast Recorders & Brilliant Studio, na Califórnia, e Refraze, de Ohio, nas gravações de Last Splash. “Eu tenho levado comigo um amplificador energizado a bateria, bem pequeno. Ele tem um som tão incrível”, completa ela, alongando a penúltima palavra por mais de um segundo.
E o palco, desta vez, será só delas. “Eu estou tão animada em fazer o nosso próprio show”, conta ela. Nas outras duas ocasiões em que estiveram por aqui, as irmãs Deal se apresentaram em festivais: o Curitiba Pop Festival, na capital paranaense, em 2003; e o paulistano Planeta Terra, cinco anos depois, em 2008. “Festivais são legais, mas é estranho ao mesmo tempo. É difícil, ficamos longe das pessoas. Eu gosto é de sentir a música batendo e voltando na parede.”
Ela garante que até mesmo um show especial como este, que acaba privilegiando material antigo, pode ser artisticamente interessante para a banda. “Como musicista, o meu interesse é investigar todas essas sonoridades”, conta ela. “Tenho gostado da forma como estamos fazendo.”
A ideia do show do disco na íntegra, de início ao fim, “com canções extras e do EP Safari [lançado em 1992]”, segundo ela, veio de um papo entre Kelley e Kim em meados de 2012. “Falei para ela: ‘Sabe, Last Splash vai comemorar 20 anos no ano que vem’. ‘Sério? Vamos comemorar isso’, respondeu Kim. E assim foi feito”, contou a gêmea 11 minutos mais nova.
A apresentação do Breeders também deve contar com canções do primeiro álbum da banda, Pod, lançado em 1990. Ao contrário das outras vezes em que o grupo esteve por aqui, garante Kelley, é improvável que o grupo execute alguma canção do Pixies. Em junho deste ano, em Londres, elas fizeram uma versão de “Happiness is a Warm Gun”, dos Beatles. no segundo bis. Um detalhe: foram 28 músicas naquela noite no The Forum.
Relembre como foi a última passagem da banda por aqui, como destaque do festival Planeta Terra.
Durante essa turnê, as irmãs, acompanhadas pelos membros com quem gravaram Last Splash em 1993 – Jim MacPherson (bateria) e Josephine Wiggs (baixo) – perceberam que o disco manteve a força mesmo duas décadas depois do lançamento. “O álbum continuou relevante neste tempo todo. Significa muito para as pessoas. E acho de deveríamos celebrar isso!”, explica ela, animada.
Last Splash foi criado para que Kim conseguisse dar vazão às ideias de músicas que tinha em um período em que o Pixies estava dava uma pausa, após quatro anos de lançamentos seguidos: Surfer Rosa (1988), Doolittle (1989), Bossanova (1990) e Trompe le Monde (1991). “A Kim dizia: ‘O que vamos fazer?’ Então decidimos, vamos gravar um disco. Depois vimos que não seria ótimo apenas gravar, mas tocar as músicas ao vivo.”
O álbum exibe o peso das guitarras do rock alternativo noventista, mas encantou justamente por trazer as vozes das irmãs Deal, que trabalham bem com backing vocals e versos dobrados. “Cannonball”, a canção mais famosa do disco, por exemplo, começa com sussurros de ambas no microfone, seguidas por silêncio. Os instrumentos vão entrando, um por um: baixo, bateria, guitarra. Enfim, chega o refrão explosivo e carregado de distorção.
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O disco passeia por essa sonoridade e traz outras preciosidades, como “Invisible Man”, a quase havaiana “No Aloha”, as delicadas “Do You Love Me Now?”, “Drive’ On 9” e a martelada pixieniana “I Just Wanna Get Along”. “Há uma narrativa aí”, diz ela. “Quando você ouve do começo ao fim, soa como deveria ser. Uma canção liga com a outra.”
Mesmo que a cultura de ouvir música tenha mudado, Kelley defende a força do álbum como um trabalho único. “Não foi apenas a forma de se fazer música, masterizar e remixar que mudou. As pessoas, hoje, possuem outra relação com ela. A música já não é uma forma de socializar. Os jovens preferem compartilhar vídeos engraçados no Facebook. Não foi a música apenas que mudou. Vejo menos jovens ouvindo música.”
Se Last Splash fosse refeito em 2013 soaria diferente, então? “Não, de jeito algum. Ainda gostamos de usar os mesmos métodos analógicos.”
The Breeders toca Last Splash em São Paulo
Quarta-feira, 24 de julho, às 22h30
Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade.
Ingressos: R$ 200,00
Compra: na bilheteria da casa ou no site do Cine Joia.
Assista ao clipe de "Cannonball":