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Bruno Mazzeo vive um roqueiro sem noção no monólogo Sexo, Drogas & Rock’n’Roll

“Sucesso é apenas um acidente de percurso. Assim me ensinou meu pai”, diz o comediante, filho de Chico Anysio

Stella Rodrigues Publicado em 16/08/2013, às 07h31 - Atualizado às 19h47

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<B>ATITUDE</B> Mazzeo em versão roqueira - Divulgação
<B>ATITUDE</B> Mazzeo em versão roqueira - Divulgação

A paixão de Bruno Mazzeo pelo rock estará aos cinemas no primeiro semestre de 2014, com Muita Calma Nessa Hora 2, que se passará em um festival análogo ao Rock in Rio. E também pode ser presenciada atualmente no monólogo Sexo, Drogas & Rock’n’Roll,, em cartaz até outubro no Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro. No palco, Mazzeo vive um astro do rock desconectado da realidade, em uma adaptação do texto do norte-americano Eric Bogosian que foi destaque no circuito off-Broadway dos anos 90. “Talvez o autor tenha juntado a loucura do [Keith] Richards com o egocentrismo do [Mick] Jagger, a questão filantrópica do Sting e uma pitada de Morrissey”, ele conta. “Foi um personagem que adaptamos bastante, porque não acho que a gente tenha no Brasil essa cultura da figura do rockstar.”

Perfil: responsável por renovar o humor da maior emissora do país, Bruno Mazzeo questiona seu papel de comediante, reclama das ciladas virtuais e diz que não acha graça alguma em ser uma celebridade.

Já em Muita Calma Nessa Hora 2, o ator irá relembrar ciladas baseadas em fatos reais pelas quais passam os típicos frequentadores de festivais. “Lógico que a gente carregou na tinta”, Mazzeo diz, adiantando que no evento fictício há “astros de verdade, como Chiclete com Banana, Jota Quest, Marcelo D2”, e “personagens criados, como meu sertanejo universitário e o Rafael Infante, brilhante como o líder de uma banda estilo Los Hermanos”.

Leia abaixo a íntegra da entrevista.

Seu rockstar lembra muito o personagem do Tom Cruise em Rock of Ages. Ele quer passar certa imagem pública, mas é meio perdido, sem noção. É por aí mesmo? Em que rockstars da vida real você se inspirou?

Eu não vi o Tom Cruise fazendo Rock of Ages. Até vi o musical na Broadway, há uns 5 anos, e juro que só agora, ao ler sua pergunta, me toquei de que talvez tenha a ver, não lembro direito. É um que se acha, não é isso? Talvez seja um perfil que os norte-americanos vejam nos roqueiros, porque a peça é de pelo menos 10 anos antes desse musical. No original, o [Eric] Bogosian interpreta um roqueiro inglês. Eu e Victor Garcia Peralta (diretor do espetáculo) rodamos, rodamos e não conseguimos achar um específico em quem ele teria se inspirado. Os grandes personagens dificilmente têm uma única referência. Pelo menos para mim, na minha maneira de criar. Talvez ele tenha juntado a loucura do [Keith] Richards, com o egocentrismo do [Mick] Jagger, com a questão filantrópica do Sting, mais uma pitada de Morrissey… Esse foi um personagem que adaptamos bastante, porque não acho que a gente tenha no Brasil essa cultura da figura do rockstar. Talvez o Paulo Ricardo no auge do RPM seja o maior representante, aquela coisa meio sex symbol, "baixo e voz". Ou o Nasi, talvez o mais rock and roll de todos. Nossos roqueiros são mais roqueiros tropicais [risos]. Até vimos algumas entrevistas do Lobão, nem tanto pelo discurso do personagem, mas pelo jeitão, pra criar uma referência, pela maneira verborrágica de se comunicar, pelos "morou?" no fim das frases.

Eu sei que você gosta muito de música, mas tem algo curioso no rock: às vezes amamos o trabalho do artista, mas gostaríamos que ele tivesse uma personalidade mais afável. Sente isso ou acha que faz parte do estigma de roqueiro?

Sinceramente não sinto necessidade de os ídolos serem mais ou menos afáveis. Talvez por ter sido criado nesse meio, os mitos pra mim já nasceram desmistificados. Venho de uma família de artistas, convivo com artistas desde cedo, para mim são pessoas absolutamente normais, com suas fraquezas, inseguranças, loucuras... Pô, eu frequentei a casa do Tim Maia, já vi ele de cueca, sentado numa poltrona de couro, segurando no colo um pratão de carne assada, arroz, feijão, farofa, batata! Quanto a esse estigma do roqueiro, curiosamente os brasileiros com quem tive um mínimo de contato sempre foram muito gentis e doces comigo. Já li muitas biografias sobre artistas que muito admiro no trabalho, mas que não eram flor que se cheirasse na vida real e isso não fez com que os admirasse menos.

Essa é uma peça que rodou o mundo, certo? Como foi parar nessa montagem? Você que trouxe para o Brasil?

Quem me trouxe a ideia de montar essa peça foi o Victor Garcia Peralta, amigo e diretor querido. Ele tinha visto a montagem na Argentina (ele é argentino) e achou que eu ia curtir. Uma grande amiga nossa, a Luciana Fregolente, pessoa que me conhece como poucos, foi quem leu antes de mim e disse ser a minha cara, tinha a ver com as crises que eu vinha passando naquele momento da vida e da carreira. Nos reunimos os três, lemos, e eu pirei. A própria Lu fez todo o contato com os gringos, chegou diretamente ao Bogosian através de um cunhado que morava em Nova York, e eu comprei os direitos. Até então eu nem sabia que ela tinha sido tão montada mundo afora. Mesmo assim, fiquei dois anos com os direitos debaixo do braço, esperando um espaço na agenda e a coragem pra subir sozinho no palco. Não necessariamente nessa ordem.

Por que um monólogo nesta volta ao teatro, depois de quatro anos?

Eu não pensava especificamente em monólogo. Queria voltar aos palcos, vinha passando por crises pessoais e profissionais que me faziam querer voltar para onde comecei a atuar, para minha essência: o teatro. Até recebi convites interessantes, mas o monólogo me dava uma liberdade maior para organizar minha vida, minha agenda tão corrida. Em breve posso ter que parar a peça um tempo para rodar um filme, um projeto na TV e, estando sozinho, facilita essa organização. E acabou sendo a melhor experiência que eu podia ter neste momento da minha vida. O mergulho desses dois meses em contato diário só eu e Victor, ora na sala da casa dele, ora na minha, me serviu como um amadurecimento que anos de análise não me deram. Aliás, graças a esse mergulho, até minha análise melhorou! Me sinto como se tivesse me reorganizado internamente. Com certeza, um divisor de águas na minha vida.

Conte um pouco sobre os outros cinco personagens. Como chegou a eles?

São, assim como o citado roqueiro, hipócritas, irresponsáveis, culpados e viciados. E, quando falo viciados, não me refiro exatamente às drogas. Mas viciados em poder, dinheiro, loucura, enfim… cada um mete o seu pé na porta e assume sua (ir)responsabilidade dentro do sistema. Todos nós somos parte do sistema, certo? Todos somos pedra e vidraça ao mesmo tempo.

Você optou por poucos adereços, o que não é necessariamente algo que o monólogo pede, certo?

Na versão argentina o cara se trocava totalmente, perucas, figurinos, tudo. Na norte-americana ele entrava de camisa social e ia se desconstruindo de leve, desabotoava a camisa, depois arregaçava a manga, tirava de dentro da calça. Na nossa, como criamos todo um conceito rock and roll, talvez o mais de todas as montagens, optamos pelo figurino clássico desse estilo: jeans, camiseta e All Star. Foi apenas uma opção nossa. Cada personagem tem apenas um adereço. Sejam óculos escuros, um telefone, uma garrafa de cerveja...

A peça sai do Rio? Vai para onde?

Não sei até quando vai a temporada no Rio. Era até fim de agosto, agora já foi prorrogada pelo menos até o fim de outubro. Apesar de estarmos, por opção, em um horário alternativo (sextas e sábados, às 23h), somos a melhor bilheteria do complexo do Teatro do Leblon. Enquanto tiver público, vamos ficando. Depois pretendo viajar por algumas capitais e fazer uma temporada em Sampa, onde acho que a peça pode gerar uma enorme identificação, talvez até maior do que no Rio. Mas para isso preciso de patrocínio. Aqui no Rio estou bancando a peça do meu bolso, desde cada parafuso do cenário até os anúncios no jornal. Para ir a Sampa acho que meu bolso não segura a onda.

As filmagens de Muita Calma Nessa Hora 2 acabaram recentemente. Qual a previsão de estreia?

Primeiro semestre do ano que vem. O filme já está sendo finalizado e poderia estrear em dezembro, como havia sido combinado antes das distribuidoras mudarem alguns planos. Infelizmente essa questão do lançamento não depende só da gente.

O filme tem no enredo uma ida a um festival de rock. Tem experiências suas ali? Como bem se sabe, essas situações têm um grande potencial para situações de Cilada...

Muitas ciladas. Aliás, isso até foi tema de um episódio do seriado no Multishow, anos atrás. Tem experiências minhas, de amigos, de todo mundo que já frequentou esse tipo de ambiente. No nosso caso tenho referências de plateia e backstage. A Rosana Ferrão, uma das minhas parceiras no roteiro, é casada com um produtor musical e também já trabalhou em gravadora. O personagem do Lucinho Mauro, por exemplo, passa por uma situação que aconteceu comigo num Hollywood Rock, quando queria ver o Nirvana bem de perto. Cheguei cedo e fiquei lá na grade. Só que antes tinha um show, se não me engano, daquela banda L7. E eu fui ficando apertado para ir ao banheiro, mas não tinha como sair dali. Quando acabou esse show de abertura eu consegui me livrar da massa que me cercava para finalmente ir ao banheiro. Só que acabei não conseguindo mais voltar para ver o Nirvana lá da frente. Lógico que no filme a gente carregou na tinta. E, em vez de Nirvana, é Chiclete com Banana [risos].

E você faz um sertanejo universitário. Você já irritou fãs do gênero no passado. Não ficou receoso de alguma forma ao sacanear algo tão popular no Brasil?

Não vejo como "sacanear". Essa não é minha praia. O filme se passa num festival de música. A gente chama de rock porque assim os festivais se chamam, mas talvez a coisa que menos tenha no Rock in Rio seja rock. No nosso festival fictício, há desde astros de verdade como Chiclete, Jota Quest, Marcelo D2, até personagens criados. Como é o caso do meu, o sertanejo universitário, e o do Rafael Infante, que está brilhante como líder de uma banda estilo Los Hermanos. As fãs que se estressaram comigo anos atrás no Twitter talvez até já tenham crescido e nem lembrem. E, se forem ao cinema, vão se divertir.

Há muita pressão no filme depois do sucesso do primeiro, e o sucesso das comédias ultimamente, em geral?

Nunca penso nisso, juro. Não vejo como metas a serem batidas, recordes a serem quebrados. Cada trabalho é diferente do outro. Uns vão funcionar, outros nem tanto, isso faz parte. É como um técnico de time: tem que preparar o time pra jogar bem, não dá pra garantir "vamos ganhar de 2 a 0, com o primeiro gol aos 17 do segundo tempo". Nem me incomodo se comédias de outros colegas nos superam em bilheteria. Penso em me aprimorar sempre, em corrigir a cada filme os erros cometidos nos anteriores. O Muita Calma foi a primeira parceria minha com o Augusto Casé, nossa primeira produção, de certa maneira abriu as portas para a retomada desse gênero que vinha pouquíssimo representado naquela época. Fizemos um filme de baixo orçamento, sem Globo Filmes nem nada, e atingimos 1.5 milhão de espectadores. Agora, quatro anos depois, o filme vem diferente, com uma produção maior, mais cópias, uma franquia e um elenco de peso, assim como o primeiro. Acho que esse número do primeiro a gente bate. Mas, se não bater, muita calma nessa hora. Sucesso é apenas um acidente de percurso. Assim me ensinou meu pai.