Em depoimento, o fotógrafo Scott London contou como tempestade e enxurrada de lama surpreendeu evento - mas refuta "exageros" das notícias
Mais de 70 mil ilhados em meio à lama do deserto, sem água ou comida, em meio à rápida propagação de contaminações de viroses e ebola, e até canibalismo: nos últimos dias, supostos relatos acerca da edição 2023 do festival Burning Man deram conta de um cenário apocalíptico para quem resolveu acompanhar o evento de cultura alternativa que acontece anualmente no deserto de Nevada. A realidade, porém, teria sido bem menos catastrófica que os boatos, segundo o relato do fotógrafo Scott London à Forbes.
London fotografa o Burning Man há anos e já publicou até mesmo um livro sobre o evento, o Burning Man: Art On Fire. Este ano, ele retornou ao Black Rock Desert para mais uma edição, e acabou surpreendido pelas fortes tempestades, que ilharam milhares de pessoas em um lamaçal com saída limitada.
De fato, uma morte no evento foi confirmada pelo estado de Nevada e está no momento sob investigação policial. No entanto, a situação não estaria tão limítrofe quanto o noticiado, segundo o relato.
No diário do evento que narrou à Forbes, London conta que os burners - nome dados aos frequentadores do festival - já esperavam um tempo ruim, só não tão ruim quanto o que os acometeu. Nos primeiros três dias da atração, tudo teria corrido normalmente:
"O evento começou com um clima maravilhoso. Multidões se reuniam em torno de enormes instalações artísticas, em festas com dança e acampamentos temáticos para palestras, yoga, interpretação e jazz ao vivo", diz o começo da narração.
Seria apenas no quarto dia do evento que as temperaturas começaram a baixar. No quinto dia, viria a chuva. London conta que presenciou poucas ocasiões de tempo fechado no Burning Man e que aquela não era parecida com nada que ele tivera visto:
"Essa era algo diferente. A chuva caía em lenlóis d'água, rapidamente transformando a beira do rio [onde acontece o evento] em um sabonete escorregadio."
London ainda falou sobre como a percepção dos meios de comunicação sobre a situação era equivocada, chamando as notícias sobre falta de água e comida, bem como os sobre contaminação, de "ridículos, se não exagerados".
Isolados de fato por estradas que, àquela altura, se transformaram em lamaçais, os presentes se resignaram a aproveitar o restante do evento em pequenos acampamentos, rindo das notícias sobre eles. Com o início da nova semana, a previsão era de que a organização do Burning Man começasse a liberar o tráfego de saída por caminhos em que a lama já tivesse secado.