Fotógrafo Albert Watson garante que nem cogita levar top models para fotografar sem roupa em uma praia; veja as imagens
Esqueça o estereótipo de calendário de borracharia com mulheres nuas. Em tempos de #MeToo, movimento contra o assédio sexual, o Calendário Pirelli se reinventa e "cobre" cada vez mais as modelos.
Para a edição 2019, fotografada por Albert Watson, as protagonistas são quatro mulheres em busca de seus sonhos. Toda inspirada no cinema, a edição foi batizada de “Dreaming”.
As protagonistas do Calendário Pirelli aparecem cobertas da cabeça aos pés em uma das versões mais “comportadas” das 46 já produzidas. E a temática cinematográfica retrô e clássica se tornou um porto seguro para a produção.
"Eu poderia levar um monte de top models para uma praia e fotográ-las sem roupa, mas para mim pareceria fora de moda.", explica Watson, um dos mais premiados fotógrafos da atualidade, ao ser questionado sobre a estética cheia de pudor.
Pergunto a Watson se o movimento #MeToo afetou seu trabalho. “Tenho fotografado mulheres por muito tempo. Para mim, o movimento #MeToo é sobre assédio. Não é nada sobre mulheres nuas", ele explica.
E Watson esclarece: "Quando estou fazendo fotos de mulheres nuas, nunca digo na hora: agora vamos fazer uma foto sem roupa. Isso é combinado antes, um dia, uma semana antes para esclarecer tudo".
Idealmente, para Watson, a iniciativa de tirar a roupa não deveria partir do fotógrafo. “Prefiro quando a mulher se aproxima e diz: ‘gostaria de estar nua para esta foto’. O Calendário eventualmente pede fotos de nu, mas tem de ser algo bom para os dois, algo que a fotografada e eu acharemos incrível pelo resto de nossas vidas. Tem de ser uma escolha da mulher e ela deve dizer isso”.
Na edição 2019, as protagonistas são a modelo Gigi Hadid, uma mulher separada há pouco tempo e que vive em uma torre de vidro tendo o estilista Alexander Wang como seu único confidente.
Já a atriz Julia Garner, interpreta uma jovem fotógrafa amante da natureza. Enquanto a bailarina Misty Copeland ao lado do bailarino Calvin Royal III, aparece como uma mulher sonhando com seu futuro na dança.
Já a modelo e atriz Laetitia Casta aparece na pele de uma pintora que vive em um pequeno apartamento com o companheiro, o bailarino Sergei Polunin.
Watson diz que se a ideia é somente fazer uma foto, uma parede com uma textura bonita de fundo seria suficiente. Mas para ele, as imagens deveriam ser mais complexas, com diferentes cenas.
“Se as pessoas conseguem mudar de canal e ir de um filme antigo para um jogo de futebol e a previsão do tempo, então as pessoas também conseguem fazer essa transição de imagens em um calendário. Imagino o Calendário quase como um objeto de arte moderna”.
O bailarino Polunin não se surpreende com os novos rumos. “O Calendário tem de se adaptar para seguir relevante” e destaca sua experiência pessoal como exemplo. “Sempre trabalhei em um ambiente dominado por mulheres. Em uma companhia de ballet, se uma mulher diz que você não será promovido, você não sobe. Muitos homens reclamavam”.
Outra mudança perceptível nesta edição foi o clima dos bastidores. Enquanto alguns fotógrafos se notabilizaram pela tensão no ar ao fotografar, Watson imprimiu um clima extremamente amigável. “Ríamos tanto que às vezes era difícil fotografar”, lembra Polunin.
Para a atriz Julia Garner “os tempos difíceis sempre existiram” mas com o #MeToo as coisas se tornaram mais evidentes. Para ela, o Calendário da maneira que foi realizado empodera as mulheres. “Eu me sinto empoderada ao me ver nessas fotos. Espero que outras mulheres também se sintam assim ao ver imagens tão bonitas”.
A festa oficial de lançamento do Calendário 2019 acontece nesta quarta, 5, em Milão, no hangar Bicocca e contará com a presença da atriz Halle Berry.