Cannes 2013: novo filme do diretor de Drive é recebido com aplausos e vaias na mesma medida

Ryan Gosling é o protagonista de Only God Forgives, que impõe uma estranha interrogação ao espectador

Maria Fernanda Menezes, de Cannes

Publicado em 22/05/2013, às 13h52 - Atualizado às 14h37
Ryan Gosling - Divulgação
Ryan Gosling - Divulgação

Quando uma vingança, espera-se o envolvimento total de quem a procura; ninguém arrisca a vida para perder. Quão má pode ser uma pessoa e os motivos para isso deveriam ser pesos a favor de um plano de redenção, mas Only God Forgives, novo filme do dinamarquês Nicolas Winding Refn (Palma de Ouro de Melhor Direção em 2011 por Drive) não leva em conta os predicados casuais de uma boa retaliação e divide opiniões em Cannes, com vaias e aplausos na mesma medida.

Em um clube de boxe tailandês, Julian (Ryan Gosling, com cara eterna de quem comeu e não gostou) mascara sua real atividade, a de traficante sênior da região. Seu irmão Billy (Tom Burke), por nenhuma razão aparente, mata uma prostituta de 16 anos e é encontrado pela polícia ainda no quarto, como se realmente esperasse para ter sua punição. Entra em cena o policial Chang (Vithaya Pansringarm), espécie de entidade suprema em Bangcoc, que obriga o pai da garota a trucidar Billy, que não esboça a menor reação.

Comportamentos são o que mais se questiona em Only God Forgives, e essa interrogação independe do filme ter a premissa metafísica de "um homem em guerra com Deus", como afirma Refn. O diretor passou meses morando na Tailândia e disse ter mudado os rumos da história e do roteiro à medida que experiências espirituais iam acontecendo, como ter de chamar um xamã para afastar um fantasma que sua filha estava avistando.

Após a morte de Billy, vem à Bangcoc a mãe de Julian, a desbocada e grosseira Crystal (Kristin Scott Thomas) que exige que o filho mate Chang e vingue o irmão mais novo. Ele não o faz. Enquanto isso, Chang empunha a espada samurai da justiça exterminando toda a gangue de Julian e terminando seus atos de tortura e morte em um karaokê local, assistido por dúzias de policiais bajuladores. Um a um seus inimigos são eliminados, até sobrarem Julian e Crystal em um epílogo desguarnecido que não desce pela garganta.

A parte técnica do filme é salva pela direção de fotografia de Larry Smith, parceiro de longa data de Stanley Kubrick, cujos diálogos sobre cor com Refn devem ser divertidos, já que o diretor é daltônico. De Drive, cujo estilo é complementar ao de Only God Forgives, retomam a parceria com Refn o compositor Cliff Martinez, o montador Matt Newman e a diretora de produção Beth Mickle.