Cantora distribuiu sorrisos, autógrafos e flores, enquanto mostrava quase a íntegra do disco Sun (2012)
Não é fácil aguentar uma hora e quinze minutos de atraso, ainda mais dentro de um Cine Joia lotado, onde os aparelhos de ar-condicionado raramente funcionam como deveriam. Mas até que o público demorou a se manifestar. As vaias pela demora da chegada de Cat Power ao palco só vieram depois de mais de 45 minutos após as 22h e, ainda assim, não foram tão duradouras.
É difícil e cansativo esperar. E quando o show começa com uma versão completamente irreconhecível de "Sea of Love", trilha do filme-hit Juno, chega a parecer que a espera não vai valer a pena. Mas quem já foi a um show de Chan Marshall sabe que, na maioria das vezes, vale. Sabe também que é mais do que normal ela alterar canções, seja no andamento da banda, seja no modo de cantar, a ponto de ser preciso esforço para distinguir a faixa. Nesse quesito, "Sea of Love" foi mesmo a campeã – embora "The Greatest", a segunda da noite, não tenha ficado muito atrás.
Com os cabelos curtos e loiros – agora, já com as raízes negras –, Chan surge às 23h15 daquele seu jeito meio desengonçado, meio manco, inteiramente encantador. À medida que o show avança, cresce também o bem-estar dela no palco. Se, de início, ela parece desconfortável (chega a pedir para desligarem as luzes estroboscópicas no começo do show), ao passo em que o set list se desenrola, demonstra se sentir entre amigos. E, quando chega o final da apresentação, depois de uma hora e trinta e cinco minutos, ela parece não querer deixar o público – se curva em agradecimento, gesticula como se fosse mímica, troca emoções e sorrisos com quem está próximo ao palco. E sai andando de lado, sem dar as costas aos fãs.
O set list da turnê é baseado no ótimo disco Sun, considerado pela Rolling Stone Brasil um dos melhores lançamentos internacionais de 2012. As músicas desse trabalho, com diversos arranjos eletrônicos, são as que menos mudam ao vivo. Das 11 faixas do álbum, nove fazem parte do set list: "Cherokee", "Silent Machine", "Manhattan", "Human Being", "Always on My Own", "3, 6, 9", "Nothin' But Time" (que na versão de estúdio tem participação de Iggy Pop), "Peace and Love" e "Ruin". Esta última foi escolhida para encerrar o show de maneira animada, sem o drama que tanto permeia a obra da cantora.
A imagem amargurada da mulher que passou por términos turbulentos de relacionamentos – o mais recente do ator Giovanni Ribisi, que pouco tempo depois de deixar Chan acabou se casando com a top model Agyness Deyn – some quanto ela se derrete em gestos e abraços à distância para os fãs. Mas a dor, pelo menos na música, ainda está lá – principalmente quando vem "Metal Heart", cantada de maneira tão intensa que possivelmente deve ter levado os mais sensíveis às lágrimas.
Acompanhada de quatro músicos (bateria, baixo/percussão e guitarra, todas mulheres, e um homem que se divide entre entre teclados e guitarra), Chan pouco se pronuncia, mas arrisca alguns agradecimentos. As palavras não saem da boca da cantora, mas o corpo fala por ela, seja quando ela começa a autografar discos, CDs ou quaisquer outros pedaços de papel, seja quando ela, ao final do show, joga flores brancas para o público (algo que também fez na última passagem pela cidade de São Paulo, em 2009).
Acabada a apresentação, dissipa-se no ar todo o nervoso e a ansiedade pelo atraso. No fim das contas, ainda vale a pena esperar por Chan.