Depois de dez anos de estrada, a banda traz novidades sem perder a essência
“A Holger é uma banda de relação em si”. A reflexão de Marcelo Altenfender (Pata), guitarrista e vocalista do quinteto paulistano sumariza o momento o qual o grupo vive. “Ninguém é músico de formação, todos temos outras profissões, mas, o que vale é a construção que temos como banda.”
Em 2018, a banda lançou o Relações Premiadas, pela Balaclava Records, que contém nove músicas e traz um ar de novidade para os amigos que tocam juntos há dez anos.
O primeiro EP, Green Valley, foi lançado em 2008 e ao fazer a inevitável comparação com o trabalho recente, o ouvido percebe que muita coisa é nova, mas a essência do que juntou os integrantes, ainda está lá. “O Holger reflete o dia a dia de cada um.”
De lá para cá, teve o animado Sunga (2010), o rock praiano de Ilhabela (2012) e Holger (2014), com um som mais pesado. Antes, as músicas, cantadas em inglês, traziam as aflições e os conflitos de jovens de cidade grande embaladas no indie-rock feito por eles. “O Green Valleyparecia coisa da gringa”, assume Pata.
Agora, as questões políticas vividas no Brasil catalisaram a criação de um novo estilo para a Holger e a fez passar por mudanças certeiras, como compor músicas em português.
Para Pata, era óbvio largar o inglês, pois eles deveriam acompanhar as transformações vividas pela banda e pelo país; assim, surgiu a necessidade de se expressar por meio da língua portuguesa. “Se passaram dez anos nas nossas vidas. Tem o Brasil de dez anos atrás e tem o que ele é hoje, o que eu sou hoje. As músicas mudaram e, com isso, a nossa relação.”
O nome do novo trabalho, Relações Premiadas, é uma clara alusão à delação premiada, manobra muito usada por envolvidos em crimes de lavagem de dinheiro e, portanto, extremamente presente na política brasileira. Ela acarreta em “um parceiro delatar o outro”, como diz Pata.
O disco leva este nome para citar o momento político, sem deixar de mostrar o sempre presente companheirismo dos integrantes.
“A banda é essa relação, um com o outro, crescemos juntos, antes mesmo da Holger existir. Ela é esse espaço afetivo onde criamos sonhos e depois recriamos. Tem uma coisa de família no meio.”
Esta afetividade entre Pata, Pedro Bruno (Pepe), Bernardo Rolla, Marcelo Vogelaar (Tché) e Charles Tixier é nítida, principalmente quando o vocalista realça: "Criamos sonhos e depois os recriamos. Tem uma coisa de família envolvida”.
Relações Premiadas foi gravado ao vivo durante uma espécie de retiro na banda em julho de 2017, em um sítio. “Em estúdio, sempre buscamos o preciosismo. Músicas como ‘Ilhabela’ [do disco Ilhabela, de 2012], chegam a vinte guitarras. Mas, ao vivo, o público dizia soar muito diferente. Esse álbum [Relações Premiadas] é diferente e busca coisas maiores: assumir os erros e limitações. Fomos para o sítio do [Gui] Jesus, parceiro da banda, e montamos o nosso estúdio.”
“Gravamos as músicas em três dias. Eram três versões, uma delas tinha que ser”, explicou o vocalista sobre o processo de produção. “Acabou que descartamos apenas uma canção, mas tenho vontade que ela volte porque fala de fronteiras, questão de migração, algo bem atual. Mas ela não encaixou ao final e já estávamos bem cansados. Isso é gravar um disco ao vivo, né? Nós sabíamos”.
O disco é direto, curto e sincero. Traz tristeza, confusão e, ao mesmo tempo, esperança e otimismo. “O momento o qual vivemos é de temer, é importante. Por outro lado, temos que buscar a união para combater o que vai vir ai.” Ele traz um retorno para a formação pessoal de cada um e as composições foram feitas individualmente, não mais em conjunto.
Pata, que é psiquiatra, diz que muitas inspirações vêm do trabalho fora da Holger . “Eu estava estudando muitos elementos da psiquiatria, onde você fala muito sobre você e se identifica nos transtornos de personalidade, por exemplo.”
Além do Relações Premiadas, lançado em 2018, é possível que ainda este ano saiam duas canções novas. “Tem duas músicas que chegamos ao final e que talvez lance em 2019, mas a banda ainda não sabe!”, brincou Pata.