Chave de ouro
Em SP, festival reuniu tribos que ficaram com cara de "quero mais" às 6h15 da manhã, marcando o fim da temporada 2007 de shows internacionais + Veja a galeria de fotos dos shows
Por Artur Tavares
Publicado em 10/12/2007, às 00h02 - Atualizado às 19h52A proposta multi-cultural da edição 2007 do festival Nokia Trends reuniu neste sábado, 17, diversas tribos no Memorial da América Latina, em São Paulo. Dividiam a pista os moderninhos, descolados, new ravers, patricinhas, oitentistas, e muita gente de cabelo pintado, variando entre o vermelho fogo, o loiro Paris Hilton e o branco.
No line-up, bandas de acid jazz, rock moderno e indie rock com pitadas pós-punk dividiram o palco principal do evento com intervenções performáticas e discotecagens com o melhor da música eletrônica desse ano.
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Entre um show e outro, o músico-prodígio Maurício Takara (Hurtmold) levava amigos ao palco anexo para jam sessions, entre eles Daniel Ganjaman (Instituto) e Rodrigo Brandão (Mamelo Sound System). Takara comandou as pick-ups em sets instrumentais e de hip-hop, e também a bateria em uma mini-apresentação de jazz com pitadas grooves em sua última participação da noite.
O espaço reservado para os artistas múltimídia, do lado oposto do palco, foi bastante visitado pelo público, mesmo durante os shows. Foi um festival limpo (ao exemplo do Planeta Terra, que aconteceu em novembro, também em São Paulo), sem confusões. O line-up sofreu um atraso estratégico, que serviu para que mais gente chegasse ao Memorial da América Latina. Confira nossas impressões:
Artificial
O projeto do produtor Alexandre Kassin (que já trabalhou com Los Hermanos, entre outros) não pode ser considerado apenas musical. Artificial levou ao palco uma série de dançarinos, ligou o sintetizador de voz e pôs para tocar efeitos eletrônicos. A voz, fina e com eco, era etérea e profunda como Hal 3000 (o maligno computador de 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick). Kassin repetia "São Paulo!" e "Fuck You!" enquanto seus companheiros de palco agiam como robôs, com expressões vazias nos rostos, programados para dançar. Com a performance crítica, Artificial arrancou risadas nervosas do público, que deixavam claro o sucesso da apresentação.
Van She
Os integrantes do Van She, todos na faixa dos vinte e poucos anos, foram a primeira atração internacional da noite. Entraram no palco sem pose, claramente com a intenção de se divertir. Os australianos pulavam e dançavam ao som de brit pop e samplers eletrônicos, a um passo da new rave. O guitarrista Nick Routledge girava o braço enquanto tocava, ao estilo Pete Townshend (The Who). Ao longo da apresentação, a platéia foi se esvaziando. As músicas se tornavam repetitivas com os baixos em primeiro plano e algumas baladas na segunda metade do show.
Underground Resistance
O coletivo Underground Resistance veio em seguida e trocou completamente a sonoridade do festival. Um MC convidava a platéia a dançar. Os primeiros acordes grooves do baixo e do sax foram o suficiente para que o público atendesse o pedido. Ao longo da apresentação, a mistura de funk, acid jazz e house music encheu mais uma vez a pista, que aos poucos esquentou. Em comum com o Van She, só a lembrança dos anos 90. Com fama de se esconder atrás de pseudônimos, de não dar entrevistas e nem deixar serem fotografados, os membros do UR justificaram as restrições em relação as suas imagens com suas músicas. Ainda tocaram ritmos latinos e um pouco de jungle (outro estilo de música eletrônica muito comum da década passada). Ao final, bateram um papo em português com quem assistia ao show. Fizeram ode aos presentes, que trataram de ovacionar o grupo logo em seguida.
Phoenix
Da mais pesada bateria à mais suave balada, o Phoenix comoveu e provocou catarse geral na audiência do Nokia Trends. Influenciado pelo rock inglês, o grupo soube deixar a sonoridade menos fria, principalmente graças a Thomas Mars e sua voz suave. Na platéia, dança nas músicas mais rápidas e beijos na boca nas mais românticas. A presença de palco da banda agradou, assim como a reluzente Fender Stratocaster vemelho-fosco do guitarrista Christian Mazzalai. Mars, que durante a tarde de sábado perguntou à reportagem da RS onde estava a multidão brasileira, se justificou cantando duas músicas da platéia, que, unânime, elegeu os franceses como os melhores da noite.
Van She Tech
Dois integrantes do Van She, o vocalista e guitarrista Nick Routledge e sintetizador Michael Di Francesco, deixaram os instrumentos musicais de lado e foram discotecar. Foram do minimal ao new rave enquanto um terceiro músico do grupo, o baixista Matt Van Schie, abastecia os DJs com muita cerveja. O setlist aconteceu em meio à passagem de som do She Wants Revenge. Os instrumentos dos californianos, principalmente o baixo, atrapalhavam a discotecagem, mas o público não se importou. Ao contrário, dançou até suar a camisa, imersos no espírito de diversão em que estavam nos australianos.
She Wants Revenge
Com uma sonoridade madura, o She Wants Revenge fez o Nokia Trends cantar, mesmo com o vocal do performático Justin Warfield abafado por outros instrumentos. Soturnos, não esconderam a influência de grupos pós-punk dos anos 80, como The Cure e Joy Division. Fizeram pose no palco. Apresentaram hits, como "Tear You Apart". A postura séria dos integrantes da banda incomodou parte do público, que até o começo da apresentação (já depois das 4 da manhã) ficou mal acostumada com sonoridades alegres e descontraídas. Bastou um interlúdio, tocado no teclado por Adam Bravin, para quebrar o gelo entre banda e platéia. Daí em diante, o She Wants Revenge se soltou e saiu de cabeça levantada da apresentação.
The Twelves
O duo carioca The Twelves ficou encarregado de fechar a noite. Nas pick-ups, muito Daft Punk e Justice tocaram para muito público, que apesar do horário (passava das cinco da manhã), não dava sinais de cansaço. Parecia que a festa não ia terminar. Muitos membros da organização dançavam em cima do palco anexo, já desocupado de músicos. O som continuava alto, e o bar ainda abastecia o festival, que só acabou às 6h15, quando cortaram a música.