A Rolling Stone Brasil conversou com Gilberto Dutra, Helena Yoshioka e Diego Padilha para entender a rotina de cobertura dos festivais e as mudanças durante a pandemia de Covid-19
A pandemia de Covid-19 causou o cancelamento de diversos shows e festivais de música, de Lollapalooza a Coachella. O fato certamente entristeceu muitos fãs de artistas, e prejudicou todo um universo de profissionais do backstage - e os fotógrafos fazem parte disso.
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Responsáveis por registrar momentos únicos dos palcos e plateias, os fotógrafos estavam acostumados com a correria do dia de trabalho de cobertura de shows e festivais. Contudo, o isolamento levou os eventos musicais para o virtual, deixando saudade tanto dos fãs quanto dos profissionais.
A vacina é a esperança de que os fotógrafos poderão correr novamente de um lado para o outro dos shows e festivais, atravessando milhares de pessoas. Contudo, enquanto o Brasil não alcança grandes porcentagens de pessoas imunizadas, a aglomeração não pode ser realizada.
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Instaurada para tentar combater a transmissão de Covid-19, a quarentena mudou a rotina de muitos fotógrafos. Sabendo disso, a Rolling Stone Brasil conversou com os profissionais do I Hate Flash Gilberto Dutra, Helena Yoshioka e Diego Padilha para entender a antiga rotina de cobertura de festivais e o atual dia-a-dia do fotógrafo, que precisou se reinventar.
“Pra mim, não existe um lado negativo [da cobertura de festivais], mas existe muito perrengue, né?," explicou Diego Padilha.
A palavra "perrengue" é, curiosamente, uma das mais utilizadas no vocabulário dos fotógrafos entrevistados. Não é um termo necessariamente ruim, afinal, "perrengue bom" também foi muito usado, contudo, designa uma rotina intensa e desgastante que requer muita vontade por parte dos profissionais.
"A cobrança é muita, a gente tem que entregar material muito rápido, mas eu gosto muito disso," explicou Padilha. O profissional começou a experimentar a fotografia na época da faculdade, trabalhando em baladas e pequenos shows.
Atualmente, Padilha faz parte da equipe I Hate Flash, assim como Gilberto Dutra e Helena Yoshioka, e contou que a cobertura de shows tem uma rotina corrida, parte do sistema de “entrega rápida” que precisa ser seguido em grandes festivais, como Rock in Rio e Lollapalooza. Nas grandes apresentações, os fotógrafos têm pouco tempo para fazer as imagens perfeitas, ter tempo de editar e disponibilizar a foto antes de o show acabar:
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"Nesses grandes festivais, ficamos ali na frente por três minutos. Quando é para o show principal, colocamos dois fotógrafos: um faz uma música e outro faz as três primeiras. Assim, o primeiro garante pelo menos três fotos boas para voltar correndo e o pessoal publicar. O outro fica um pouco mais livre, mas o limite é esse de música. Na hora, ele seleciona só até no máximo dez fotos para também não ficar cheio de conteúdo para escolher. Eu escolho as fotos enquanto eu tô andando ali com a câmera mesmo," declarou.
A fotógrafa Helena Yoshioka também comentou sobre a rotina intensa dos festivais, e reafirmou que o trabalho envolve afeto: “Trabalhar com eventos, você acaba sendo sugado, é cem por cento aquilo. Come quando dá e tal, mas eu acho que tem que ter muito amor. É estar acostumado com a experiência, porque o perrengue de comer a hora que dá, acontece tanto para o público quanto para o profissional. O evento em si já tem essa limitação, né? É um perrengue.”
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Mesmo com a correria, o amor dos fotógrafos com a cobertura de shows e festivais possibilita que o trabalho seja mais prazeroso, e Yoshioka explicou qual é o melhor desses trabalhos para ela:
“Tenho uma ideia muito forte de conseguir, de alguma forma, dar visibilidade para artistas que acredito. Na verdade, estou criando imagens que daí vão para os veículos, e aí acontece, realmente, a visibilidade, né? Mas, participar desse processo de cavar um espaço pra algum artista independente, para causas que eu acredito… Isso que é o mais interessante. É o meu motivo de estar lá e participar de alguma forma da construção da história de um artista ou de uma causa,” explicou.
Gilberto Dutra também é músico, e a fotografia de festivais e shows foi o caminho para ele continuar trabalhando no universo da música. Ele explicou que gosta de registrar Duda Beat, BaianaSystem, Anavitória e outros artistas, mas o que o diverte é a conexão público-artista:
“Eu já me divirto muito no processo de ver um público interagindo com o artista, sabe? O artista se conectando. Um cara que escreveu uma letra, uma em casa, gravou e agora tem duzentas mil pessoas cantando com ele, Essa parte eu acho muito impressionante, esse aspecto do processo musical. É muito foda. As pessoas tatuando as frases dos artistas, elas se conectando e buscando enxergar essa criação do artista pra estabelecer a própria individualidade. Para mostrar que aquilo também é algo que eles pensam, é algo que eles gostam e acabam vivendo”.
Pode ter muito perrengue, mas também há grandes realizações dos fotógrafos nesses shows, além de situações certamente inusitadas. Como profissionais do backstage de eventos, os trabalhadores vivenciam momentos emocionantes e têm contato com artistas os quais admiram.
Em 2019, o fotógrafo Diego Padilha registrou uma imagem e circulou o mundo, e uma das que mais se orgulha: Jack Black, Kyle Gass, e Júnior Groovador mostrando a barriga no camarim do Rock in Rio.
“O Tenacious D estava passando som e alguém entrou lá na sala e falou ‘cara, eu preciso de alguém agora pra fazer o Jack Black que vai encontrar o Groovador. E aí eu na hora pulei da cardeira e falei 'vamo bora'. Aí eu tive que correr e lá não é corridinha né.. Quando eu cheguei eles estavam lá trocando ideia, passando o som… Foi muito maneiro. Mas quando chegou no camarim - e aí lá foi só eu, era o único fotógrafo - eles começaram a trocar uma ideia rápida de ‘ah, eu adoro comer’, aí o Jack, ‘ah eu também’, aí eles levantaram a blusa e mostraram a barriga. E aí eu fiz a foto dos três, meio que a pança.”
Gilberto Dutra também tem um trabalho marcante do Rock in Rio 2019: a foto do show do Sepultura. Com a agenda de shows, ele não pôde acompanhar a apresentação da banda no festival, mas foi chamado para tirar algumas fotos ao final:
“Era o momento que estava quase no fim da música, o pessoal começando a aplaudir porque o show tava acabando. Só que o que eu achei muito especial. Era possível sentir como o show foi para aquelas pessoas que estavam no público, sem você necessariamente ter estado lá. Era aquele monte de mão pro alto, as mãos com o símbolo do metal. Você conseguia ver claramente que tinha sido um show muito foda sem precisar ter estado lá, e aí quando eu tirei a foto, isso é muito evidente,” disse.
Segundo o profissional, essa é uma das características da fotografia: “É sobre você mostrar o momento pras pessoas que não estão lá. É você conseguir passar exatamente a energia naquele momento para as pessoas que não puderam estar ou que vão revisitar esse momento depois.”
Para a fotógrafa Helena Yoshioka, o Festival GRLS foi um dos mais significativos: "Fizemos o festival em 2020 e tivemos uma equipe de de cobertura tanto de foto quanto de vídeo composta 100% de mulheres. Foi um projeto que a gente fez de coração mesmo. Claro que tinha grana envolvida, mas foi muito da nossa vontade, para por algo diferente no mercado. Foi maravilhoso trabalhar nesse festival."
Em meio à pandemia, os fotógrafos tiveram que se reinventar e ter esperanças que, um dia, tudo isso passaria. Yoshioka não conseguiu ser positiva no início, mas conseguiu descobrir outras paixões dentro da fotografia:
“Fiquei muito aflita no começo da quarentena, de tipo, ‘ah, será que minha profissão vai acabar ?’ Eu tava num momento muito bom profissionalmente e aí, do nada, enfim, em três dias, tudo caiu, assim, todos os jobs que eu tinha caíram. No começo eu pensei bastante em mudar de área, eu achei que os eventos iam acabar, mas minha analista falou que as pessoas não vão parar de comemorar quando tudo isso passar, sabe?”.
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Depois da angústia relacionada à profissão e à quarentena, Yoshioka passou a explorar outras vertentes na fotografia: “Um grupo de amigos ensina bastante o lance do da revelação usando folhas e matéria orgânica e eu abracei esse projeto, falei, ‘cara, eu quero muito estudar isso’ Acho que isso foi em agosto, agora eu comecei a revelar, recentemente, comecei a revelar colorido em casa também, então, não só o preto e branco. Então, todo esse processo, assim, de no formato analógico.”
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Gilberto Dutra precisou focar em outra área da fotografia durante a pandemia, principalmente pensando na própria segurança dele: “O artista precisa ser criativo em vários aspectos, isso não é somente na arte dele, mas na maneira que ele pode abordar o mercado ou que ele precisa abordar o mercado. Uma coisa que eu me voltei bastante foi pra fotografia de produto. Porque é uma coisa que é possível fazer dentro de casa, na segurança de casa. Também voltei bastante pra gastronomia, porque são poucas pessoas envolvidas nas produções.”
“Os restaurantes foram uma das poucas coisas que não pararam, né? Eles continuaram funcionando, entregando delivery. Então, eles ainda precisavam dessa, dessa demanda de imagens. Muitos restaurantes nasceram na pandemia, e muitos tentaram inovar na pandemia também.” explicou.
Dutra também trabalha com GIFs, uma marca dele que sempre esta presenta em cobertura de festivais e durante a pandemia, com outros trabalhos: "Acho que o o Gif posiciona de algumas maneiras. Na rede social é legal porque você não precisa de muito tempo pra consumir o que ele quer te dizer (...) Essa é a minha forma de me posicionar, de dar, porque eu, durante muito tempo, busquei uma linguagem particular dentro da fotografia, eu acho que foi aí que eu encontrei."
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Para Diego Padilha, a alternativa foi focar em outros projetos já existentes, como o Brasil Grime Show, do qual ele é um dos organizadores, e planejamentos pessoais: "Uma parte da pandemia, eu me dediquei quase que inteiramente a sair pra fotografar com o sol em cena. Colocava o despertador pra tocar de quatro, cinco da manhã para poder fazer essas fotos do do sol nascendo. Foi basicamente uma reinvenção mesmo."
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Para profissionais que lidam com o público e os grandes festivais, a aglomeração faz falta. Toda essa saudade será transformada em ação quando a pandemia de Covid-19 acabar.
Segundo Padilha, com o fim da pandemia de Covid-19, ele irá em uma festa: "Eu tô com saudade do tumulto (...) No começo da pandemia eu só postei foto de gente se agarrando, gente se abraçando. Eu sempre gostei, não é nem uma questão só da pandemia, não. Não gosto do tumulto, eu gosto de fotografar o tumulto quando ele é bonito."
Essa aglomeração á a maior saudade dos entrevistados, seja envolvendo amigos ou desconhecidos. Gilberto Dutra sente falta de se envolver com as pessoas: "Quando você fotografa, o tempo inteiro você está lidando com outras pessoas, e você se acostuma a lidar com outras pessoas. É uma coisa que que eu acho que pra você ser fotógrafo, você acaba tendo que gostar (...) Acho que as pessoas que são a melhor parte do mundo. Criar, estar com outras pessoas, viver experiências com outras pessoas... Foi o que mais fez falta."
Helena Yoshioka não é diferente. A fotógrafa espera pelo momento em que, acabada a pandemia, poderá ver os amigos e a aglomeração novamente: "Vou ver meus amigos, abraçar muito porque eu tô sentindo muita falta deles. Estava vendo documentário esses dias do Emicida, o Amar(elo), e eu comecei a chorar só só de ver o municipal lotado. São esses momentos de união, de muita gente e de, enfim, de arte também, né? Sinto muita falta."
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Os beats icônicos, letras e refrões impecáveis fizeram destas músicas verdadeiros marcos dos anos 2000. Elas foram trilha sonora da adolescência e juventude de muitas pessoas - e é impossível ouvir de novo e não fechar os olhos, fingir que está em um clipe e dar uns passos de dança.
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