Manu Chao mixa reggae, música cubana e rock no primeiro show de sua nova turnê brasileira, em São Paulo
Se a palavra "eclético" precisasse de uma segunda definição, esta provavelmente serviria: Manu Chao. Ele mistura ska, reggae, punk, ritmos da música cubana, além de um ou outro toque de eletrônica, sem parecer se preocupar em seguir uma linha pré-definida. Foi esse mix musical que fez com que cerca de cinco mil pessoas (número não oficial) saíssem de suas casas em direção ao Espaço das Américas, em São Paulo, para assistir a um show que teria mais de duas horas e meia de duração.
De longe, Manu tem pinta de garoto, com bermudas longas e largas e boné, mas o franco-espanhol (ele nasceu na França, mas seus pais são galegos) já tem muita experiência na estrada. Beirando os 50 anos (que ele completa em 2011), viu sua carreira despontar em meados da década de 1980, com o grupo Mano Negra. Seu primeiro disco solo, Clandestino, de onde saíram algumas de suas faixas mais conhecidas, só chegou ao mercado em 1998.
Às 22h20, percussionista, baterista e tecladista da banda sobem ao palco para iniciar uma introdução de cerca de cinco minutos, antes que o pequeno Manu (ao vivo, ele é bem mais baixo do que aparenta ser) surgisse diante da platéia. Carismático e comandando uma banda igualmente alegre e em sintonia com o público, Manu começou o show com "El Hoyo", do recente La Radiolina, seguida de "Peligro" e "Casa Babylon", esta sendo parte do repertório da Mano Negra.
A mistura em excesso é sua marca, mas ao vivo, a base de reggae predomina. Em diversos momentos, o som alterna a guitarra característica do estilo com trechos pesados, que remetem ao punk, principalmente na bateria. As sessões barulhentas faziam pular com mais energia aqueles que dançavam erguendo vagarosamente os joelhos. Oscilação um tanto cansativa - nos pontos altos do barulho (aqui, no sentido de volume), apenas bateria e trompete se faziam ouvir.
Sob um calor absurdo e todos suando na plateia, o músico e seus companheiros mandaram faixas conhecidas, como "La Primavera", "Me Gustas Tu" e "Bienvenido a Tijuana". Nestas duas, como em outras de suas composições, ele cita "carinhosamente" a "marijuana", saudada também pelo público quando lembrada pelo cantor. Tão eclética quanto o próprio artista, a plateia tinha uma gama variada de estilos: jovens com dreads, meninas no melhor do neo-hippie-chique e garotos com jeito de surfista (além desses, deu para contar dois com camiseta da banda punk Black Flag e outros dois com a do Kiss).
A melhor parte da apresentação veio quando o guitarrista trocou seu instrumento principal por um violão. "Clandestino", "Desaparecido", "Minha Galera" (todas do primeiro disco) e "Rumba de Barcelona" são apresentadas sob uma atmosfera cubana, marcada pelo violão (ora dramático, ora dançante) e pelos teclados. Nessa parte da apresentação, era possível ouvir tudo com clareza, inclusive o baixo, por vezes perdido no meio dos momentos mais tumultuados.
Minutos depois, Manu se despediria, bradando "Próxima Estación: Esperanza, siempre!", em referência ao seu segundo disco, e batendo o microfone no peito em uma imitação das batidas de um coração. "Que Pasa Que Paso", fim do primeiro bis, enganou muita gente, que começou a deixar o lugar. Quem ficou ainda pôde ouvir Manu cantar até mais de 1h da manhã, resgatando "King of the Bongo", também dos tempos de Mano Negra - depois de mais de 150 minutos, mas com fôlego e animação de quem acaba de subir ao palco.
Manu Chao ainda se apresenta em Salvador (13/2), Aracajú (14/2), Brasília (16/2), Curitiba (17/2), Rio de Janeiro (19/2) e Camboriú (20/2).