Cachorro Grande destaca influências setentistas em Cinema, que acaba de chegar às lojas: "É o que a gente ouve e sempre ouviu, mas que nunca se sobressaiu na nossa música", diz o guitarrista Marcelo Gross
Beto Bruno e Marcelo Gross falaram ao site da Rolling Stone Brasil sobre a atual fase musical do Cachorro Grande, com o rock'n'roll dos anos 70 aflorado nas faixas de Cinema, o quinto trabalho de estúdio (terceiro pela Deckdisc) em dez anos de carreira. Mais democrático, o álbum contou, pela primeira vez, com composições de todos os integrantes do grupo, fato que "fez toda a diferença no som".
A dupla, que gosta de se imaginar como Paul McCartney e John Lennon, dos Beatles, ou Jimmy Page e Robert Plant, do Led Zeppelin, afirma que a participação do restante da banda foi fundamental para o resultado final do disco. "Sempre falei para eles escreverem. Agora, como todos colocaram a mão - o Gabriel [Azambuja, baterista] até canta em duas músicas - ficou diferente, tem identidades diferentes. A responsabilidade saiu um pouco de cima de mim e do Gross", explica Bruno.
Com arranjos mais maduros e uso de instrumentos não tão convencionais, como a cítara, o grupo não esconde que, pela primeira vez, conseguiu extrair a essência do som de seus ídolos. "É o que a gente ouve e sempre ouviu, mas que nunca se sobressaiu na nossa música. Dessa vez, é [influência] rock anos 70, muito Pink Floyd e Led Zeppelin, uma coisa mais pesada, psicodélica", revela Gross. Mas a banda não deixa o lado pop de lado: "somos pop, Beatles é pop, não tem como não ser".
Para o guitarrista, a gravação das músicas com equipamento analógico - um gravador Otari MTR-90 -, em Porto Alegre, foi "uma oportunidade única de fazer como todas as grandes bandas de rock". "A sala de gravação parecia um campo de futebol! Era muito grande e isso possibilitou que a banda gravasse inteira junta, um olhando na cara do outro. A gente quis que os instrumentos se misturassem mesmo", acrescenta Bruno.
Apesar de, em grande parte, se espelharem musicalmente em bandas de língua inglesa, o vocalista destaca que os gaúchos não pretendem Deixar de cantar em português, como já fizeram outros grupos nacionais. "Somos brasileiros, então temos que cantar em português. Não ligo pra quem canta em inglês, mas me sentiria um bobo na frente de um monte de gente cantando em outra língua. Mas nada impede que em um ensaio a gente passe as letras do português para o inglês, só de brincadeira. Não acho que seria o caso de gravarmos algo assim."
A composição de Cinema começou assim que Todos os Tempos foi finalizado, em 2007. "Mas isso não significa que usamos material antigo", reitera Bruno. Para ele, o ritmo de "um disco a cada dois anos é excelente". No período de entressafra, o Cachorro Grande se concentra nos shows. Desta vez, a agenda está garantida para pelo menos os próximos quatro meses. "Não temos espaço na agenda. Temos shows marcados para quase o final do ano. Já começamos a colocar algumas músicas do novo disco no repertório, para o público ir se acostumando. Infelizmente, vamos ter que sacrificar outras que muitos gostariam de ouvir", explica o vocalista.
A demanda de apresentações no Brasil e algumas dificuldades financeiras impedem o som dos gaúchos de atravessar as fronteiras do país. Gross lamenta que não possam fazer shows nos vizinhos latinos, mas garante que isso não atrapalha a banda em nenhum aspecto. Com o último álbum de estúdio, o grupo ampliou o alcance dos shows em solo tupiniquim, tendo percorrido palcos de quase todo o Brasil.
Casa paulista
"A efervescência de São Paulo é maravilhosa. Aqui é a cidade do rock, onde tudo acontece, onde temos tudo", se encanta Gross. Há alguns anos, a capital paulista se tornou o novo berço da banda. Assumidamente apaixonados pela cidade, os gaúchos firmaram residência nas áreas centrais da metrópole e marcam presença na noite roqueira. O fato de terem ido a Porto Alegre gravar o novo disco não diz respeito à saudade da terra natal ou algo do tipo. A dupla é firme ao dizer que "com Porto Alegre não tem nada romantizado, fomos lá pelo equipamento e nada mais".
O Cachorro Grande rompeu a barreira do indie, mas não deixa de conferir shows de outras bandas que lutam por um espaço nos palcos - e nas prateleiras. Beto Bruno aponta Haxixins e Garotas Suecas como seus favoritos, acrescentando que "a nova formação do Forgotten Boys promete". Marcelo Gross cita a habilidade Lucio Vassarath, que contribui com a base de cítara na faixa "Amanhã", de Cinema, disponível na íntegra no MySpace da banda.