Por duas horas, o festival realizado no Autódromo de Interlagos esteve suspenso, com perigo de ser cancelado, mas voltou e recebeu um público de 92 mil pessoas
O segundo dia do Lollapalooza Brasil 2019 teve um desenrolar bem diferente do seu antecessor. Se o primeiro dia foi tomado pelo sol e pelo calor escaldante, quem decidiu dar as caras neste sábado, 6, foram as nuvens e a chuva.
O temporal que não veio na sexta parece ter se poupado um dia a mais para poder chegar com tudo e marcar presença. Resultado: durante mais de duas horas, o festival ficou paralisado. O caos foi instaurado em meio a um público que não sabia se a melhor opção era sair correndo do Autódromo de Interlagos ou apenas encontrar abrigo e esperar até que tudo se acalmasse.
Por fim, o céu decidiu dar uma trégua, e o Lolla 2019 retomou suas atividades normais, embora alguns shows tenham sido sacrificados para que o festival não atrasasse demais. Com isso, Silva, Rashid e Lany não voltaram aos palcos.
Desta forma, atrações como Lenny Kravitz, Post Malone e Kings of Leon se apresentaram no festival nos horários marcados e para um público recorde de 92 mil pessoas.
Enquanto o sol se posicionava de forma aparentemente imponente no céu, a cantora Duda Beat reuniu, com ternura singular, fãs e pedaços de corações partidos no primeiro horário do dia.
Artista revelação da música nacional, ela se emocionou ao ver a reação do público do festival às suas primeiras músicas.
Salma Jô, líder do Carne Doce, também hipnotizou e cativou um público composto por fãs e curiosos que acabaram dançando e ficando até o fim do show depois de decidirem apenas dar aquela passadinha no palco Budweiser.
Entre gritos de oposição a Jair Bolsonaro, Liniker e os Caramelows cantaram e choraram o afeto. “É por isso que estamos aqui”, diz a vocalista Liniker Barros, ao ouvir gritos contra o presidente da República. Sempre sorridente e transbordando amor, ela foi a última a conseguir se apresentar antes do início do temporal e tudo que veio come ele.
Foi durante os shows da banda LANY e do rapper Rashid (que conseguiu tocar apenas uma música), que as ameaças de raio começaram a surgir. Os ventos fortes colocaram a organização do Lolla em alerta, e foi tomada a decisão de suspender as apresentações até segunda ordem.
O temporal veio, e com ele, a correria de uma plateia que buscava deixar o Autódromo de Interlagos ou simplesmente achar um cantinho para se protejer da chuva.
Ninguém sabia ao certo se o festival continuaria, ou se o segundo dia seria cancelado. As coisas chegaram perto de terem acabado na segunda opção, mas felizmente, 2 horas e 11 minutos depois, o evento ressurgiu das cinzas (ou das poças).
As duas primeiras bandas autorizadas a subirem novamente ao palco foram Snow Patrol e Jain.
No palco Adidas, a cantora francesa trouxe seu imenso repertório que flerta com o hip-hop, a música árabe e batidas eletrônicas, tudo por trás de uma embalagem pop.
A banda norte-irlandesa, por sua vez, fez um show de no máximo 30 minutos, mas pelo menos aproveitou o curto tempo que lhes restava para tocar seus maiores hits como "Open Your Eyes" e "Chasing Cars". Ao todo foram seis músicas e, tão rápido quanto subiram no palco, o deixaram.
Houve aqueles que disseram que o Bring Me The Horizon tinha perdido seus fãs ao mudar radicalmente de estilo musical: a banda foi do metal ao pop. Mas o número de pessoas presentes no show deles deste Lolla provou o oposto. O repertório abordou ambas as suas facetas, e o BMTH garantiu uma apresentação gloriosa.
Jorja Smith começou sua carreira musical quando tinha apenas 11 anos, e conta que, na época, sua maior influência foi Amy Winehouse, com o disco Frank (2003). Não é à toa que se tornou uma das maiores referências do R&B contemporâneo. A cantora aqueceu o coração da plateia com canções sobre relacionamentos e inseguranças.
Em um dia em que o festival quase foi cancelado, Lenny Kravitz subiu ao palco com um sorriso e uma energia contagiantes, mas com uma função específica: a de ser aquela música que acalenta, que carrega memórias afetivas e proporciona uma sensação de conforto. Com hits da época de ouro da MTV como "Fly Away", o músico conseguiu um resultado surpreendente.
O rapper Post Malone é protagonista de muita discussão e divisão de público para os fãs do gênero. Mas independente de qualquer coisa, conseguiu reunir uma plateia que chegou a surpreender até mesmo aqueles que já tinham certeza que uma multidão se formaria na frente do palco. Apesar da legião a sua frente, ele se mostrou íntegro e original ao performar as suas rimas.
O duo Odesza sofre do pior dos males existente no universo dos festivais: tocar no mesmo horário que artistas incomparavelmente maiores. No palco Perry's, Steve Aoki fritava o cérebro do fãs de eltrônico, enquanto no Budweiser, Kings of Leon reunia a grande maioria dos presentes.
Mas não foi por isso que a dupla deixou de fazer um espetáculo sonoro e visual, com talvez o palco mais elaborada dos dois dias até agora. As luzes acentuavam as silhuetas dos dois integrantes, enquanto telas de led reproduziam imagens psicodélicas e em sincronia com a música.
Apesar do pouco público, Odesza demonstrou uma animação incomparável, contagiando a todos que decidiram fugir do gigante mainstream.
Escalados de última hora e como que um plano B para acalmar a insatisfação do público com a revelação dos Tribalistas como headliner do segundo dia, o Kings of Leon vinha para provar que ainda pode ser uma banda respeitada e admirada.
Depois de cinco turnês decepcionantes no Brasil, o grupo retornou ao país com força total, e deixou claro que ainda tem em si o espírito que há tempos não se manifestava. Se o temporal tivesse resultado no cancelamento do evento, o KOL teria perdido a chance de presentear os fãs o show que trouxeram: revigorados, em sintonia e, acima de tudo, confortáveis no palco.
Além de Kendrick Lamar, um dos maiores nomes do rap atual (e sem dúvida uma das escolhas mais elogiadas de toda essa edição do festival), o terceiro e último dia de Lollapalooza Brasil 2019 terá, assim como o Kings of Leon, outra banda que precisa provar seu valor: o Greta Van Fleet, grupo que vem dividindo opiniões como há tempos não se via.
Há quem diga que lhes falta originalidade e que soam exatamente como uma cópia pior de Led Zeppelin, enquanto outros dizem que a sonoridade repetida do Led é exatamente do que o rock precisa. É no show de domingo que o público brasileiro vai ter sua chance de ver com os próprios olhos e tirar suas conclusões. Veja aqui nosso guia para o último dia de Lolla 2019.
+++ E clique aqui para conferir o que esperamos ver no show do Kendrick.
Para saber tudo que aconteceu no primeiro dia de Lolla 2019, leia a nossa cobertura dos principais shows da sexta, 5 de abril, que teve um Arctic Monkeys mais maduro e uma diversidade de xingamentos a Bolsonaro.