Mesmo com chuva, o público do grupo mostrou que não é feito de açúcar (como a maior parte do repertório da noite) e curtiu até o fim a apresentação no estádio do Morumbi
Se torcermos as capas de chuva que protegeram o público durante a performance de Bon Jovi no Morumbi, na noite deste domingo, 22, certamente sai muito açúcar em meio àquela água toda. Jon Bon Jovi tem no rock o papel do galã da novela (diferente daquele de boy band): o texto/ letra dele é meloso e cafona, o rebolado e as poses são manjados, o sorriso canastrão é de comercial de creme dental, mas ainda assim o público feminino se derrete – e, o que é curioso, o público masculino embarca junto, comprando aqueles versos românticos e a respeito de superação e conquista, tudo embalado em um hard rock que na maior parte do tempo poderia ter saído daquela sua listinha de “party mix”.
Desta forma, mesmo 50% desfalcada – o guitarrista Richie Sambora foi demitido no meio da turnê, e o baterista Tico Torres teve um problema de saúde que fez com que diversos shows da América Latina fossem adiados – o Bon Jovi, com Jon e o tecladista David Bryan, dos originais, conseguiu entregar um show com exatamente tudo que o público queria. Ou quase tudo, já que muita gente foi para casa chateada com a ausência do hit “Always”, bastante pedido durante o bis. Seria a balada ideal para encerrar as várias sequências de celulares para o alto que iluminaram o Morumbi.
A receita sex appeal, letras positivas/românticas e hits, muitos hits, já é suficiente para garantir um show sedutor. Logo na segunda faixa da noite, o espevitado Jon mandou “You Give Love a Bad Name” e mostrou a força dos sucessos da banda, que há anos esquentam as pistas e ao vivo costumam ganhar arranjos um pouco diferentes. Para completar a satisfação, Jon ainda mandava acenos, gestos e olhares o tempo inteiro para as moças portadoras de plaquinhas que ele podia avistar de lá de cima. Pedidos de beijos, de casamento, de canções específicas, tinha de tudo. Até o agrado que o público não pediu – “vocês fazem isso melhor aqui do que no Rio”, disse ele durante um gracejo com os braços que comandou – ele deu. Só não teve – ainda bem – aquela farta distribuição de beijos em alguma sortuda durante “Who Says You Can’t Go Home”, como aconteceu no Rock in Rio e repercutiu imensamente.
Este homem galanteador, jogador de confetes (aliás, em certo momento, ele literalmente jogou confete na plateia), já não é mais o jovenzinho de penteado de gosto duvidoso que começou no rock - não há como negar (por mais que ele tente). Ainda assim, a voz dele continua firme, por mais que se perca um pouco em certos agudos. Um dos momentos mais genuínos de Jon no palco foi quando ele engasgou forte cantando, deu uma risada e seguiu em frente. Muito melhor lidar com uma soluçada audível do que com shows em que o cantor tosse, espirra, passa mal e a voz dele continua ecoando das caixas de som normalmente.
O começo do show foi bem abastecido de favoritas. Depois da já citada “You Give Love a Bad Name” se seguiram “Raise your hands”, “Runaway” e, pouco tempo depois “It’s My Life”. Depois de “What About Now”, ele deu aquela protocolar puxada de saco no público feminino que é típica dos rockstars que desembarcam por aqui: “eu só voltei porque gosto de ouvir garotas brasileiras gritando”. Na balada, o xaveco não colaria. Saindo da boca de Jon, ali do alto do palco, berrando em um microfone, funcionou e todo mundo gritou.
O miolo, como de praxe, fica reservado a músicas da turnê que são um pouco menores, é o momento daquela esfriada. Mas o grupo soube dosar bem as entradas de hits para manter os ânimos. Ainda tivemos “Keep the Faith” e “Born to Follow” antes do ótimo “fim”, que foi com “Sleep When I’m Dead” (misturado com “Start Me Up”, dos Rolling Stones) e “Bad Medicine”. Não demorou nada a começar o primeiro bis, com “Wanted Dead or Alive”, “Have a Nice Day” e “Livin’ on a Prayer”, iniciada como balada, mas que depois explodiu em uma performance acompanhada de forma escandalosa pelo público. Jon aproveitou a ocasião para agradecer a banda, especialmente Rich Scannella, que assumiu a bateria de última hora, e ainda fez questão de mencionar o quanto Tico gostaria de estar ali. O segundo bis também veio logo, com a já conhecida versão da banda para “Oh, Pretty Woman” (Roy Orbison) e, para encerrar depois de 2h20, “Born to Be my Baby”.
Nickelback
Com um apelido informal de “a banda mais odiada do rock”, o Nickelback abriu a noite para fãs do Bon Jovi que deixaram a hostilidade em casa. Ou, talvez, que gostassem realmente da banda canadense. Com uma hora de show, aproximadamente, os irmãos Kroeger e companhia ganharam a simpatia da plateia e fizeram um show mais ou menos como o do Rock in Rio – o vocalista Chad destilou simpatia e a performance tinha energia. Mas para quem não fosse fã do grupo, dono dos hits “Photograph”, “Rockstar” e “How You Remind Me”, não teve jeito: aquele foi apenas um obstáculo no caminho antes do remelexo de quadris de Jon. É assim que funciona banda de abertura, mas pelo menos desta vez o público não foi indelicado e o Nickelback não ouviu as mesmas vaias escutadas pelo Fresno, há três anos, quando coube à banda gaúcha esquentar o público para Bon Jovi.