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Com show corajoso, Titãs “mascarados” comandam segundo dia do Porão do Rock 2014

Cavalera Conspiracy e Raimundos também se destacam no encerramento da 17ª edição do festival brasiliense

Lucas Brêda, de Brasília Publicado em 01/09/2014, às 18h42 - Atualizado às 21h37

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Titãs no Porão do Rock 2014 - Lucas Brêda
Titãs no Porão do Rock 2014 - Lucas Brêda

Mesmo com uma brisa leve, que deixou mais brando o calor de Brasília, o segundo dia de Porão do Rock em 2014, neste domingo, 31, teve início com menos gente do que o primeiro. Apesar de começar no mesmo horário, às 17h, as escalações dos palcos tiveram pequenas mudanças de tempo – ainda que algumas atrações parecessem correspondentes às do dia anterior.

Veja como foi o primeiro dia do Porão do Rock 2014.

No mesmo palco e horário do Jota Quest esteve Marcelo D2, na segunda noite; o Titãs ocupou o espaço do Nação Zumbi; o Cavalera Conspiracy foi correspondente ao Ratos de Porão; Nevilton ao Far From Alaska, entre outros. O domingo ainda contou com as duas atrações internacionais do evento: o já citado Cavalera Conspiracy e CJ Ramone.

Além das semelhanças de line-up, o segundo dia do PdR 2014 manteve a boa organização – nada de tumultos ou maiores problemas – e pontualidade do primeiro. Alguns problemas com o som, contudo, também continuaram. Dificilmente uma apresentação começava com a melhor configuração de equipamento possível, que melhorava no decorrer do show.

Nevilton

Às 19h, o grupo paranaense Nevilton subiu ao palco Chilli Beans com a formação reduzida, apenas voz/guitarra e bateria, e teve que se virar para segurar a apresentação sem o baixista Lobão. Apoiado em efeitos que duplicavam os vocais e a guitarra, o frontman mostrou uma performance sagaz e astuta, que trouxe “Noite Alta”, “Satisfação”, “Só Pra Dizer” e a faixa-título de Sacode, do sólido disco lançado pela banda em 2013.

O público foi notadamente menor que o do Far From Alaska, no mesmo horário, no dia anterior, e a banda esbarrou em um som embolado e oscilante – que também prejudicou a apresentação do The Baggios no sábado. As mais antigas “Pressuposto”, “O Morno” e “A Máscara” completaram o repertório.

Érika Martins

O antigo grupo paulistano Ação Direta comandava as primeiras roda de pogo expressivas no palco Budweiser, quanto a cantora Érika Martins tocou os primeiros acordes de “Modinha”, faixa-título do novo disco dela. Com afeição pelo público e entusiasmo, ela conduziu a eficiente banda que a acompanha em uma apresentação terna, mas não melosa, cheia de homenagens e citações – do produtor Tom Capone em “Namorinho de Portão” a Raul Seixas, com a cover de “Ainda Queima a Esperança”.

O bom humor de Érika era tanto que ela chegou a dar um beijo na bochecha de um assistente de palco, e ela falava com a plateia como se conversasse com um amigo. A cantora balançava com a maior espontaneidade pequenos chocalhos e soltava os gritinhos característicos entre os versos. Na faixa “Fundidos” ela chamou Nevilton ao palco, dando início a uma série de parcerias que faria ainda naquela noite.

CJ Ramone

Já habituado aos palcos brasileiros, o ex-baixista do Ramones, CJ, foi a primeira atração internacional a tocar no PdR 2014. Acompanhado pelos guitarristas Dan Root e Steve Soto (do Adolescents), e o baterista Michael Wildwood (do D Generation), CJ priorizou o primeiro álbum solo, Reconquista (2012), abrindo espaço apenas para “Judy Is a Punk”, da ex-banda, entre as primeiras 10 canções do setlist.

Do próximo disco, Last Chance to Dance, chamaram atenção a faixa-título e o single “Carry Me Away”, autênticas e pouco apelativas, apesar de não honrarem plenamente o sobrenome de seu compositor. Com “Three Angels”, ele prestou tributo aos “irmãos” Joey e Johnny Ramone, que ganharam vida em “I Wanna Be Your Boyfriend”, “Blitzkrieg Bop”, “Do You Wanna Dance?” e “California Sun”, entre outras, quando o público foi incendiado de vez em toda a apresentação.

Titãs

Pode ser considerada uma tendência entre os artistas consagrados o ímpeto por mostrar novas músicas – foi assim em grande parte dos shows do PdR, com Pitty e Raimundos, por exemplo. O Titãs, entretanto, elevou a ousadia a outro nível: o grupo tocou, logo de cara, e de forma seguida, seis faixas do mais recente trabalho, Nheengatu (2014).

Assista ao clipe de "Fardado".

É possível dizer que este disco – o vigésimo da carreira – representa muito para a banda paulistana. Aproveitando o clamor por mudança, que permeou as manifestações de junho do ano passado, e fica mais em evidência com a corrida eleitoral, o Titãs subiu ao palco com máscaras do clipe de "Fardado" e enfileirou desabafos com guitarras distorcidas para um público participativo e numeroso para o horário, em comparação com sábado.

A certa altura, Sérgio Britto avisou: “Não sei se vocês perceberam, mas tocamos dez músicas do nosso novo álbum”. Há tempos o Titãs não soa tão provocante e preocupado, seja com o figurino no palco, ou com a necessidade de fazer música relevante novamente. Neste novo repertório não há espaço para baladas como “Epitáfio” e “Enquanto Houver Sol”, por exemplo. O momento mais doce ficou por conta do dueto entre Branco Mello e Érika Martins, de volta ao palco para a performance de “Flores”.

Os hits de Cabeça Dinossauro - “AA UU”, “Polícia”, “Bichos Escrotos” e “Cabeça Dinossauro”, entre outros – seguraram o peso da apresentação, e levantaram até a fatia mais quieta da plateia. “Homem Primata” ainda marcou a volta para um bis – fato raro em todo o evento –, passando a régua no melhor e mais ousado show do festival.

Cavalera Conspiracy

Que a ligação do Cavalera Conspiracy – segunda banda internacional do evento – é forte com o Brasil não é novidade. Sendo assim, o grupo de Max e Iggor Cavalera decidiu voltar aos palcos, após dois anos, em Brasília (depois a banda ainda toca outras dez cidades), no segundo dia do PdR 2014. Entretanto, o maior presente dado aos brasiliense não foi um bom contingente de músicas novas, as que estarão no disco Pandemonium, a ser lançado ainda este ano, mas sim a quantidade de clássicos do Sepultura no setlist.

Ouça “Bonzai Kamikaze”, nova música do Cavalera Conspiracy.

As exceções foram os petardos “Banzai Kamikaze” e “Babylonian Pandemonium”, músicas que remetem a um estilo mais trash e extremo de se fazer metal. Com concentração e determinação perceptíveis, Iggor Cavalera segurou bem as pontas com as baquetas, enquanto seu irmão, o vocalista e guitarrista Max, ostentou, na maior parte do show, um sorriso descontraído no rosto, demonstrando a satisfação com a resposta da plateia, mas ao mesmo tempo escancarando algumas limitações vocais, não suficientes para comprometer as performances.

O público reunido no palco Budweiser foi um dos maiores e mais entusiasmados de todo o evento, ainda mais atiçados com faixas como “Refuse/Resist”, “Territory” e a derradeira – e extremamente oportuna – “Roots Bloody Roots”, todas do Sepultura. Se o Cavalera Conspiracy desperdiçou uma oportunidade de se fortalecer como banda, trazendo poucas novidades, Max, Iggor e companhia ainda são capazes de criar momentos tão extremos quanto inesquecíveis e emocionantes, em frente às sólidas pilastras do Mané Garrincha – provavelmente os únicos elementos a se manterem estáticos durante o show.

Raimundos

Em um horário ingrato, à 1h da madrugada de domingo para segunda, o Raimundos ficou responsável por encerrar a edição 2014 do Porão do Rock. E mesmo assim, a maior banda local do festival foi capaz de reunir um número grande de pessoas no palco Chilli Beans, no começo da apresentação.

“Se for falar de mainstream no Brasil hoje, eu não gosto de nada”, diz Digão, do Raimundos.

Com um misto de celebração e fim de festa, o show foi marcado pelas falas extensas, ora escrachadas ora emocionadas de Digão, que toma para si, cada vez mais, o posto de centro do grupo, se revelando mais solto e com maior capacidade de entreter o público. A canção “Baculejo”, do mais recente disco, Cantigas de Roda (2014), já é recebida como se fosse mais um dos hits do cancioneiro interminável do Raimundos, capazes de darem ar de clássico a praticamente qualquer show do grupo – ainda mais em Brasília.

A apresentação contou com a participação de Marcelo D2 – que mais cedo havia tocado no palco UniCEUB –, que entrou em cena duas vezes, mas mal pegou no microfone, correndo por todos os lados do palco e abraçando os integrantes do grupo. Érika Martins ainda voltou à cena – de novo – para um lindo dueto em “A Mais Pedida”. O baterista Fred Castro (no evento como integrante da banda de Érika), da formação original do Raimundos, também trouxe vigor e ânimo ao tocar em três canções: “Mato Véio”, “Pompem” e “Mulher de Fases”.

Raimundos foi uma das atrações do festival João Rock, em Ribeirão Preto.

É bem verdade que o Raimundos permaneceu por muito tempo no palco (2h), dispersando o público, e encaixando músicas novas de maneira forçada em momentos de pura agitação e euforia. Contudo, poucos se importaram em esperar mais uma ou duas músicas para ouvir hits como “Eu Quero é Ver o Oco”, “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)” ou “Reggae do Manero”, além de “Nega Jurema”, “Me Lambe” e “Palhas do Coqueiro”, tocadas no começo do show.

O encerramento não poderia ser mais representativo: todos os músicos nos arredores do palco entraram em cena para pular, dançar, cantar e tocar em “Puteiro em João Pessoa”. A essa altura, só os “guerreiros”, como se referia Digão, ainda se faziam presentes no Porão do Rock, presenciando um final festivo, como a ocasião sugeria.