Capítulo do meio é bem menos sombrio do que o esperado
O final de Star Wars: O Despertar da Força é algo inesquecível: Rey (Daisy Ridley) finalmente encontra Luke Skywalker (Mark Hamill) em um planeta deserto. É um momento silencioso e climático que imediatamente entrou para a história do cinema. Star Wars: Os Últimos Jedi, capítulo que dá continuidade a essa cena emblemática, não começa exatamente aí. É preciso esperar um pouco para ver os dois interagirem e saber se haverá mesmo uma relação de mestre e discípula entre os personagens. Mas antes disso, o filme tem muita ação.
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As forças rebeldes e as tropas da Primeira Ordem, que encarnam o lado negro da Força, enfrentam-se em uma batalha que dá o tom do resto do filme: Poe Dameron (Oscar Isaac), o jovem e ousado piloto que é uma espécie de comandante não oficial dos rebeldes, teima em fazer as coisas do jeito dele, quebrando o protocolo e desobedecendo ordens diretas da General Leia Organa (Carrie Fisher) e de outros chefões que estão do lado das pessoas de bem.
Star Wars: Os Últimos Jedi tem muitas tramas paralelas e elas nem sempre se amarram. A história principal é aquela em que Rey tenta extrair segredos de Skywalker sobre a vida dos invencíveis e misteriosos Jedi. Ela também quer tirá-lo do auto-exílio para que ele retorne à ação e, assim, ajude os rebeldes. Enquanto isso, Kylo Ren (Adam Driver), filho de Han Solo e Leia, enfrenta seus conflitos internos. Até o fim, os espectadores permanecem intrigados para saber se o lacaio do perverso Líder Supremo Snorke (Andy Serkis) é realmente o maligno herdeiro de Darth Vader ou se ele vai assumir um lado mais normal.
Outros personagens também têm seus momentos solo, como o stormtrooper renegado Finn (John Boyega), que se junta à rebelde Rose (Kelly Marie Tran) para sabotar os planos da Primeira Ordem. Benicio del Toro faz uma ponta com uma canalha dúbio que primeiro auxilia, mas depois trai os rebeldes. No meio do caminho, ainda temos um pouco dos veteranos Chewbacca e C-3PO.
O diretor e roteirista Rian Johnson não desrespeita as diretrizes básicas de todo o universo de Star Wars, mas ele tem suas ideias próprias de como a trama tem que ser conduzida e de como os personagens deve se comportar. É fato que muitos fãs se mobilizam para ver como as batalhas espaciais são encenadas. Neste campo, Johnson é apenas competente. Ele não compromete, mas também não se mostra tão espetacular ou grandioso. Já o elaborado roteiro dele tem tantas reviravoltas e revelações que ao final é preciso uma recapitulação mental para entender tudo.
A melhor coisa do filme é ver Mark Hamill/Luke Skywalker como o foco principal da trama. Ator subestimado, Hamill nunca teve muita chance de brilhar fora do universo de Star Wars. Dos três filmes da saga original, ele se destacou mais em O Império Contra-Ataca, o segundo, no qual teve que dar duro para mostrar que tinha valor como Jedi. Um pouco disso é retomado neste filme. E até o Mestre Yoda (Frank Oz) faz uma pequena e significativa aparição. Agora um homem maduro, Hamill se mostra heroico, mas de uma forma torturada. Ele também revela que não é o Jedi que todos imaginam. Skywalker teve seus momentos de dúvida e falhou ao treinar Ben Solo que, em função disso, virou o odioso Kylo Ren.
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O filme serve de despedida para Carrie Fisher, que morreu em dezembro do ano passado, aos 60 anos. Uma pena já que, ao contrário do que acontece em Star Wars: O Despertar da Força, em a aparição dela era um tanto figurativa, a antiga Princesa, que se tornou general, tem uma presença mais vital e fundamental aqui. Nos créditos finais, o filme é dedicado a ela de uma forma bem emotiva.
Mais do que qualquer coisa, Star Wars: Os Últimos Jedi marca o fim de vários elos com a saga original. Harrison Ford, o Han Solo, já havia dado adeus em Star Wars: O Despertar da Força. Agora, os outros veteranos abrem caminho e passam a tocha aos novatos, o que é natural. Os personagens de Daisy, Driver, Boyega e Isaac terão que conduzir a trama e seguir dando nova vida às ideias que George Lucas tramou. E que ninguém se preocupe: potencial eles têm.
O filme não é perfeito. Com duas horas e meia, ele se arrasta um pouco. O longa tem personagens demais – são cerca de 25 ativos na trama. Alguns deles você deseja que permaneçam mais tempo, outros mereciam serem cortados ou reduzidos. Os momentos de humor também nem sempre acertam. Mas a essência de Star Wars está lá, Rian Johnson garante isso. Uma pena que este capítulo do meio não emule O Império Contra-Ataca, o filme intermediário da primeira saga, que tinha uma vibração mais soturna e sinistra. Mas os tempos são outros.