A estrela de The Office e Unbreakable Kimmy Schmidt foi vinculada a um grupo de supremacia branca após uma foto dela viralizar no Twitter
Quando falamos sobre a cultura do cancelamento, como fazemos com frequência em 2021, existem duas escolas de pensamento: a primeira, frequentemente defendida pelos bajuladores e direitistas do tipo Ben Shapiro, diz como essa cultura é uma fera incontrolável que deve ser derrotada, uma consequência de esquerdistas com fome de poder, os quais correm loucamente na internet sem pensar nas vidas destruídas.
A segunda é: "cultura do cancelamento," como pensamos, não existe tanto quanto a mídia social trouxe um cálculo muito necessário para as pessoas com crenças prejudiciais e ultrapassadas.
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Mas, talvez, haja uma terceira escola de pensamento a respeito da cultura do cancelamento. O problema pode não ser essa cultura em si - nem os analistas de direita usando-a cinicamente como uma ferramenta para incitar ódio, nem os próprios defensores disso - mas são as plataformas responsáveis por preparar o terreno para o cancelamento, o qual amplifica narrativas incendiárias mal comprovadas, sem qualquer consideração de contexto.
Esta foi a minha conclusão imediata do recente cancelamento de Ellie Kemper, estrela de The Office e Unbreakable Kimmy Schmidt, quem viralizou após fotos dela aparecerem em um noticiário local, quando tinha 22 anos, sobre ela ser coroada a rainha de um concurso em St. Louis, Missouri.
O concurso em questão foi o Veiled Prophet Ball ("Baile do Profeta Velado," na tradução livre), cerimônia de 140 anos patrocinada por uma sociedade semissecreta composta por líderes brancos e ricos, foi fundada por um ex-cavaleiro confederado em 1878.
A Rainha do Amor e da Beleza, como Kemper foi coroada em 1999, é uma donzela virginal selecionada entre a lista de jovens debutantes, as quais vão ao baile e são acompanhadas por "pajens." Graças a uma resposta a um tweet sobre o próprio baile do Profeta Velado, no qual um nativo de St. Louis disse como era um "evento chique organizado pela Ku Klux Klan (KKK) local," circulou a falsa narrativa sobre a atriz ter sido eleita a "Rainha da KKK."
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É importante notar: as raízes do evento são indiscutivelmente problemáticas, mas, até onde qualquer um pode dizer, não estão ligadas com a KKK. Conforme explicado por um artigo da Atlantic de 2014, o baile foi fundado explicitamente como uma forma de estabelecer o domínio da classe alta, masculina e branca sobre os membros negros e brancos pobres do sindicato.
O evento atraiu intensas críticas de ativistas na cidade por anos, inclusive do grupo local ACTION (Action Committee to Improve Opportunities for Negroes), a qual agiu, em 1972, para desmascarar o Profeta Velado. (O carro pertencente a um dos ativistas foi posteriormente bombardeado e sua casa foi vandalizada.)
Embora o Baile do Profeta Velado tenha começado a admitir membros negros em 1979 e tentado se reformular, continua como foco de ativistas de St. Louis, os quais criticam por reforçar as estruturas de poder racistas na cidade. (Os mantos brancos e chapéu pontudo apresentam uma semelhança infeliz com o uniforme do grupo de ódio, mas o evento antecede a KKK, adotando as vestimentas por algumas décadas.)
No entanto, esta não foi a história circulada no Twitter quando as fotos de Kemper vazaram, com quase todos os tuítes virais sobre o assunto chamando-a de Rainha da KKK. Isso foi, em parte, resultado da tendência do nome de Ellie Kemper, o qual teve cerca de 50 mil menções no site, segundo dados de Darren Linvill, professor e estudante de plataformas e desinformação na Universidade Clemson.
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Os tópicos de tendência no Twitter são determinados por algoritmos, mas, desde 2020, em resposta às críticas sobre tendências manipuladas por malfeitores para amplificar a desinformação, a rede social também começou a usar uma equipe de curadoria humana para adicionar contexto a uma tendência na forma de um título, breve resumo e alguns tuítes exemplares.
Embora a descrição do Twitter sobre a história de Kemper fosse bastante objetiva, muitos dos principais tuítes da tendência continuaram a promover a ideia dela ser uma "rainha do concurso KKK;" também incluiu tweets de provocadores de direita, como Shapiro e Matt Walsh.
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Como o jornalista Charlie Warzel escreveu em boletim informativo, o efeito do algoritmo do Twitter amplificando a conversa e as tentativas da equipe de curadoria de desempacotá-lo não podem ser subestimados. Isso porque, em um esforço para tornar a história mais coerente, atraiu incalculavelmente mais atenção para os tuítes responsáveis por espalhar a desinformação em primeiro lugar.
Devido à relação simbiótica entre as plataformas e mídia, isso acabou sendo exatamente como aconteceu, com inúmeros veículos de notícias (Slate, Huffington Post e Cut) publicando materiais quase idênticos - e otimizados pelo Google - sobre a história do Baile do Profeta Velado. Todos conseguiram capitalizar a viralidade da história, acrescentando apenas um pouco mais de contexto.
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Como Ellie Kemper não comentou a polêmica, é difícil argumentar em defesa dela - ou afirmar como as críticas ao envolvimento dela com o evento são injustas. No mínimo, é justo sugerir: uma estudante de Princeton de 19 anos, no final dos anos 1990, poderia ter inserido o nome do concurso em AskJeeves ou algo do gênero, para saber mais sobre.
Porém, vale a pena perguntar exatamente o motivo de certas conversas incendiárias ganharem força nas plataformas sociais sobre outras, mais matizadas, mas indiscutivelmente mais valiosas.
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Também vale a pena perguntar se uma plataforma gigante, elevando uma alegação explosiva sobre uma figura pública sem comentário, enquanto adiciona o mínimo de isenção de responsabilidade ou contexto - e encoraja mais meios de comunicação convencionais a fazê-lo também - cria um ecossistema de informações saudável. Isso acontece na plataforma quase todos os dias, tornando praticamente impossível apontar apenas um exemplo isolado.
Era fácil prever o ciclo que seguiria a história de Kemper quando ela começasse a virar tendência no Twitter: os veículos obedientemente escreveriam a controvérsia por mais 24 ou 48 horas, garantindo mais engajamento sobre o ela.
Isso acontecerá de novo, e de novo, e de novo, até nos tornarmos mais cuidadosos sobre o conteúdo e as narrativas escolhidas por nós, ou as plataformas terem mais cuidado sobre como escolhem promover as histórias e publicações.
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