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Como foi, afinal, o discurso de Martin Luther King Jr em 1963? Leia ou assista na íntegra

O ativista é dono de um dos discursos de black power mais conhecidos da história

Redação Publicado em 02/06/2020, às 16h38

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Martin Luther King Jr. (Foto: New York World-Telegram e The Sun /  Albertin, Walter / WIKICOMMONS)
Martin Luther King Jr. (Foto: New York World-Telegram e The Sun / Albertin, Walter / WIKICOMMONS)

Um dos maiores líderes negros, Martin Luther King Jr., fez um dos mais conhecidos discursos da causa em 28 de agosto de 1963. O título, “Eu tenho um sonho”, é bastante conhecido - mas você já viu ou ouviu o resto do discurso?

King, em 1963, discursou para mais de 250 mil apoiadores dos direitos civis. Foi o ponto alto da Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, organizada pelo ativista para, entre outros, falar sobre a segregação racial nos EUA.

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O título, “Eu tenho um sonho”, é uma alusão ao “sonho americano”, estilo de vida bem conhecido e almejado por uma classe média branca.

Mas, além das quatro palavras, Luther King discursou por mais de 16 minutos. “Eu tenho um sonho” foi uma frase repetida diversas vezes, enquanto o ativista citava vários de seus sonhos. O trecho mais famoso seja, talvez, ”tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.”

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O discurso, quase 60 anos mais tarde, ainda é um apelo urgente e necessário - pois os filhos pequenos de Luther King cresceram, tiveram os próprios filhos, e esses criaram mais uma outra geração, e o cenário não mudou. Nesta semana, pipocam nos EUA e no mundo diversas manifestações e atos contra o racismo, motivados pelo assassinato de George Lloyd, sufocado por um policial.

Veja, abaixo, o discurso “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King Jr. A transcrição é da organização Palmares:

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Eu Tenho Um Sonho - Martin Luther King Jr - 28/08/1963

"Eu estou contente em unir­-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior
demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou
a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de
esperança para milhões de escravos negros que tinham murchado nas chamas da injustiça.

Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas, cem anos depois, o Negro ainda não é livre.

Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação
e as cadeias de discriminação.

Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de
prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade
americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para
dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os
arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e Declaração da Independência, estavam assinando uma nota promissória para a qual
todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos
inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade.

Hoje, é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a
acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos
trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e
a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar a América dessa cruel urgência. Este não é o momento
para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.

Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol
da justiça racial.

Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a
pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para
todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do
legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de
liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam
que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação voltar aos
negócios de sempre. Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça.

No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma.

Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à
frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos
direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da
brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com
a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das
cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e
um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não
estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo
como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram
de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das
perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento.

Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o
Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no
vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e
amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho
americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de
sua crença ­ nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens
são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos
descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar
junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que
transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado
em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação
onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho
um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu
governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia
no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos
e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas
virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e
a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós
poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós
poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de
fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir
encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este
será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo
significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New
Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós
deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós
poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens
brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras
do velho espiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo­poderoso, nós somos livres afinal."