Foi preciso um pouco mais do que sucesso e talento para conseguir o reconhecimento na música pop
Michael Jackson é conhecido mundialmente como o “Rei do Pop”. Com as discussões nas últimas semanas sobre o racismo estrutural na indústria da música, e como a classificação de artistas como urban ou R&B prejudicam intérpretes negros, refletir sobre a “coroação” de Jackson agrega muito ao debate.
O debate sobre as oportunidades desiguais na música ganhou força no começo do ano, quando Tyler, The Creator criticou o Grammy sobre muitos artistas negros serem limitados às em categorias de nicho. Recentemente, Billie Eilish apoiou o colega e reacendeu o debate.
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No primeiro grande sucesso solo de MJ, com o hit “Don’t Stop ‘Till You Get Enough”, do álbum Off The Wall (1979), o cantor foi indicado a duas categorias no Grammy: Melhor Performance Vocal R&B Masculina e Melhor Música Disco, e ganhou apenas na primeira categoria. "Chorei muito. Minha família achou que eu estava ficando louco por chorar por causa daquilo", contou à Rolling Stone EUA em 1983.
Parte da frustração de Jackson era resultado do desejo ser reconhecido na categoria pop, dominada por brancos. Com o álbum seguinte, Thriller (1982), conseguiu onze indicações, inclusive nas categorias de Álbum do Ano, Música do Ano, com “Beat It”, Melhor Performance Vocal Pop com a faixa-título - todas parte das oito vitórias naquela edição, um recorde na premiação.
Apesar do reconhecimento na principal premiação da música e sucesso comercial sem precedentes, Jackson precisou reivindicar a coroa de Rei do Pop. “Se o mundo não o coroa rei, ele mesmo o fará”, resumiu o jornalista Michael Goldberg, na matéria de capa da Rolling Stone EUA, em 1991 (leia na íntegra aqui).
Naquele ano, Jackson lançava o clipe icônico de “Black or White”, single do álbum Dangerous (1991). A condição para ceder os direitos da estreia do clipe nos canais de televisão norte-americanos, como Fox, Black Entertainment Television (BET) e MTV era se referir ao astro como Rei do Pop. De acordo com as informações da Rolling Stone EUA, funcionários da MTV receberam um memorando e foram orientados a “se referirem a Jackson como ‘Rei do Pop’ pelo menos duas vezes por semana nas duas semanas seguintes” durante a programação.
Tom Freston, presidente e CEO da MTV Networks, na época, declarou que "muitas pessoas mudaram de nome recentemente. (...) Michael Jackson é o 'Rei do Pop'. Quem somos nós para impedir o progresso? Seja lá como eles quiserem ser chamados, tentamos obedecer”, disse em entrevista.
Apesar da controvérsia inicial, Jackson venceu a estrutura da indústria musical, tão adversa aos negros, e conquistou o sonhado reconhecimento - não como um fenômeno disco ou R&B, mas como o maior da música pop mundial.
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