Aqui, Kevin Spacey vive um político bem diferente daquele que interpreta em House of Cards
Elvis & Nixon narra um dos episódios mais bizarros da vida de Elvis Presley. Como costumam dizer, muitas vezes a realidade é mais estranha do que a ficção, e este é um dos exemplos. Mas antes, para quem não conhece, eis a história: era dezembro de 1970. Elvis ocupava novamente o posto maior atração do showbusiness dos Estados Unidos, realizando apresentações em Las Vegas cujos ingressos se esgotavam em minutos. O dinheiro entrava com água e o Rei gastava como um sultão. Mesmo com tanta prosperidade, a esposa Priscilla e o pai Vernon reclamavam que Elvis tinha gasto uma fortuna em presentes de Natal – ele tinha comprado dez Mercedes-Benz e mais de 30 armas de fogo para dar aos amigos.
Elvis reagiu: reclamou que o dinheiro era dele e assim fazia o que desse na telha. Então, aparentemente por puro impulso, saiu de casa e pegou o primeiro avião disponível. Foi parar em Washington D.C. Ficou em um hotel e rumou para o Texas. Em Dallas, entrou em contato com o amigo de infância Jerry Schilling, um ex-guarda-costas que agora morava em Los Angeles e que no momento trabalhava como editor de filmes na Paramount Pictures. Elvis tinha uma missão. Contou ao amigo que iria voltar para Washington com o intuito de encontrar o presidente Richard M. Nixon. O problema é que ninguém sabia disso, muito menos o presidente e seus assessores. O motivo era que Elvis queria desesperadamente receber uma carteira de Agente Federal de Narcóticos e, ainda por cima, se tornar agente do FBI.
Essa era maior aventura da vida adulta de Elvis. Desde os 21 anos de idade, ele nunca tinha saído por conta própria ou circulado sozinho sem um exército de guarda-costas ou auxiliares. Mesmo com todos os riscos possíveis, Elvis parecia estar se divertindo – até usava um pseudônimo: “Jon Burrows”. Nos aviões e nos aeroportos, alegremente interagiu com os fãs, que não acreditavam estar cara a cara com o maior astro de rock de todos os tempos.
Ele nunca tinha se ausentado sozinho por tanto tempo e não havia absolutamente nenhuma notícia de seu paradeiro. Elvis, então, foi para Los Angeles para se encontrar com Schilling e mandou que este fosse chamar o guarda-costas Sonny West. Pediu para que ele fosse encontrá-los em Washington. No voo, Elvis escreveu uma carta a ser endereçada ao presidente. Nela, atacava a cultura das drogas, reclamava do antiamericanismo que tomava conta do país e dizia a Nixon que poderia ajudar nessa cruzada.
Elvis chegou aos portões da Casa Branca e entregou pessoalmente a carta para os seguranças, que não acreditavam na cena. Depois de muitas idas e vindas, confusões burocráticas, negociações e conversas com assessores (afinal, quem iria esperar ver um Elvis à paisana rondando a Casa Branca?), o cantor finalmente foi recebido por Richard Nixon no salão Oval, no dia 21 de dezembro de 1970. Ele, Schilling e West, com seus cabelos compridos e trajes berrantes, contrastavam com a sisudez de Nixon e com o ar formal da Casa Branca. Mas houve empatia entre os dois seres tão diferentes. Elvis e Nixon se identificaram um com o outro. Ambos vinham de família humilde, serviram o exército e eram conservadores. Depois de troca de presentes, posaram para um foto oficial. Esta é até hoje a imagem mais requisitada do Arquivo Nacional do governo norte-americano. Elvis ganhou uma carteira de agente para a coleção, mas, claro, nunca trabalhou para o governo. Para alguns, o encontro Elvis/Nixon foi um ato de irresponsabilidade e auto-indulgência por parte do cantor. Mas ninguém poderia negar o poder de fogo de Elvis. Se ele quisesse, por mero capricho, poderia simplesmente encontrar o presidente dos Estados Unidos. O incrível é que a história ficou secreta até 1972, quando foi revelada pelo jornal The Washington Post.
Esta não é a primeira vez que a história é filmada. Em 1997, foi exibida na TV dos Estados Unidos a comédia "mockumentary" Elvis Meets Nixon, dirigida por Allan Arkush, com Rick Peters no papel de Elvis e Bob Gunton vivendo Nixon. Em Elvis & Nixon, a diretora Liza Johnson também optou por um caminho cômico, apesar do longa também ter alguns momentos mais sérios. O roteiro é baseado nos relatos de Schilling. Mas o que vale aqui é o embate entre os dois talentosos atores principais. Michael Shannon, naturalmente, não tem a beleza e jovialidade de Elvis, que na época do acontecimento estava com 35 anos e ainda se parecia com um deus grego. Shannon, porém, respeita a essência de Elvis. Ele não o interpreta como um caipira deslumbrado – o Elvis de Shannon é um herói folclórico que sabe de seu papel na história e na cultura popular. Ele dispara aforismos, exala carisma e charme e não tem medo de nada.
Já Kevin Spacey não se leva muito a sério na pele de Nixon. Escondido atrás de uma pesada maquiagem para se parecer com o antigo presidente norte-americano, o ator apela para o burlesco. A atuação cômica dele aqui está a milhas de distância do cinismo pragmático de Frank Underwood, o político que interpreta na série House of Cards.
No bom elenco de apoio, destaque para Alex Pettyfer como Jerry Schilling, Johnny Knoxville (de Jackass) como Sonny West e Colin Hanks como Egil “Bud” Krogh, o assessor presidencial que era fã de Elvis e foi fundamental para o êxito do encontro.