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Da TV Globo ao folk entristecido: Thalles se estabelece como voz de uma geração melancólica

Ator, cantor e compositor protagonizou o tocante filme Yonlu e lançou, em 2017, seu disco de estreia, Utopia

Pedro Antunes Publicado em 12/12/2018, às 17h01

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Thalles lançou o disco 'Utopia', em 2017 (Foto: Mateus Aguiar)
Thalles lançou o disco 'Utopia', em 2017 (Foto: Mateus Aguiar)

Não são poucos os dias nos quais Thalles Cabral vê sua caixa de mensagens do Instagram cheia por textos longos, escritos por adolescentes a respeito de seus próprios anseios, angústias, ansiedades. São palavras, frases e parágrafos enormes criados por aqueles que ouviram às canções do jovem porto-alegrense de 24 anos, identificaram-se com elas e viram, em Thalles, alguém como eles. 

"My bedroom is the coldest place I know", canta Thalles em "Mr. Lonely", música que está em Utopia, disco de estreia do jovem, lançado em 2017. É algo como "meu quarto é o lugar mais frio que eu conheço", assinada pelo tal "Senhor Solitário".

Esse é Thalles Cabral, o "senhor solitário", um jovem que cursou cinema, mas jamais se formou porque foi escalado para viver o personagem Jonathan, filho de Félix (interpretado por Mateus Solano), na novela Amor à Vida, da TV Globo, em 2003.

A partir daí, não parou. Lançou EP, lançou disco, e seguiu sua trilha também como ator.

Na TV, seu currículo também inclui a série Manual para se Defender de Aliens, Ninjas e Zumbis, que foi ao ar no ano passado. Está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça Dogville (que chegará em São Paulo em janeiro, no teatro Porto Seguro).

Também estreou no cinema com a história real de Yonlu, um jovem gênio da música que tirou a própria vida, aos 16 anos, em 2006. Uma história que o igualmente gaúcho Thalles conhecia e foi escolhido para vivê-la na tela grande.

"Tem uma parte dessa geração de jovens que eu não vejo muito abordada no cinema, na TV, na música. Existe esse estereótipo, o clichê, do jovem feliz e descolado. Porque normalmente são feitas por pessoas mais velhas que não entendem muito bem."

Ele segue: "Parece que existe algo que diz que você deve ser feliz o tempo todo. Que música triste é algo ruim. Não é assim".

E não se trata de glamourização de questões tão reais e palpáveis para adolescentes nascidos nos anos 2000 (para qualquer um, na verdade), mas, sim, de colocar um holofote sobre o que está acontecendo. E é um problema real. E perigoso.

"Recebo muitas mensagens de adolescentes e jovens que descobrem meu disco pelo Spotify, YouTube, e me mandam essas mensagens", conta Thalles. "E não são mensagens curtas, não. São textos elaborados. Como se elas se sentissem que estão representadas nessas músicas. Como se dissessem: 'Eu entendo sobre o quê você estava falando aqui'."

Com Yonlu, Thalles se tornou ainda mais o defensor da conscientização da força da depressão e como ela pode afetar a qualquer um. "A palavra depressão virou verbo, algo leve. Tipo: 'Tô deprê'. Mas a coisa é séria. É uma doença e precisa ser tratada. Existe muita desinformação, ignorância sobre o assunto", ele diz.

Thalles conta que, ao final de uma exibição de Yonlu para jornalistas, ouviu de um repórter que desconhecia a história real, a surpresa pelo desfecho. Porque "ele parecia um menino normal". "Pessoas que têm ansiedade ou depressão são normais", retruca o ator/cantor.
Ao repórter em questão, na época, disse: "Qualquer pessoa nesta sala por ter isso e a gente nem sonha."

Em seu disco, Utopia, Thalles também leva essa melancolia para as canções. Utopias, afinal, são aquilo que se busca, o ideal. Para ele, utopia significa "liberdade". "Nesses tempos que estamos vivendo, parece que estamos nos distanciando dessa utopia", comenta.

O disco, cantado em inglês, une as tonalidades cinzas do post-punk oitentista à leveza da bases de violão. O resultado é um folk melancólico que funciona como um cafuné quente em noites solitárias demais.

Nos versos do álbum, Thalles canta uma narrativa única, iniciada na faixa-título "Utopia" e encerrada na redenção de "Redemption", com referências que vão de Jim Morrison a Nirvana, noitadas, desilusões e solidões.

Cada uma das músicas do disco será levada para o ambiente audiovisual em clipes dirigidos pelo próprio Thalles. Já ganharam vídeo "Sad Boys Club", "You, The Ocean And Me" e a ótima "Just When We Were High". A próxima escolhida será Olivia, a sétima do álbum.

Os vídeos, aliás, também trarão uma história única, por enquanto mostrada aos poucos, fora de ordem, mas o artista garante que todas as histórias pertencem a um mesmo universo narrativo. Os fãs já quebram a cabeça para encontrar as conexões entre os clipes, conta o artista. 

"Fui escrevendo poemas, um atrás do outro, como se não houvesse mudança de faixa. Ficava pensando no amanhã", conta Thalles. Uma frase ecoava na cabeça do rapaz: a gente vive para o amanhã. Era um verso do EP de estreia dele, de 2013.

"No meio dessas palavras e desse pensamento sobre o amanhã, veio a ideia da utopia", explica. O que é justo: depois de uma noite, solitária, devastadora ou o que for, o sol sempre nasce.

Thalles mostra o conteúdo do disco Utopia em um show em São Paulo nesta quarta-feira, 12, na Breve (R. Clélia, 470 - Barra Funda), às 21h. Ingressos aqui ou na bilheteria local.