Daniel Day-Lewis responde críticas de Brian Cox à atuação de método: ‘É fácil me encontrar’
O ator de Lincoln expressou sua frustração com os comentários persistentes de Cox à sua técnica de atuação: “Não gosto que seja mal interpretado”
Gabriela Nangino (@gabinangino)
Brian Cox, aclamado ator escocês reconhecido por seu papel na série Succession, é bastante crítico do “method acting”, ou atuação de método. Ele comentou sobre a técnica em relação ao colega de elenco, Jeremy Strong (Springsteen: Salve-me do Desconhecido).
Enquanto na atuação tradicional o artista se relaciona com o personagem como um trabalho pontual — estudando seu caráter e comportamento, mas mantendo um distanciamento para não ser afetado pelo papel —, o method acting propõe uma abordagem mais imersiva. Seu objetivo é criar uma conexão emocional profunda entre ator e personagem, utilizando experiências pessoais como gatilho para tornar a interpretação mais autêntica.
Desenvolvido a partir das ideias de Konstantin Stanislavski no início do século XX e posteriormente adaptado nos EUA por atores como Lee Strasberg, o método se baseia em treinamentos e exercícios psicológicos que ajudam o ator a vivenciar as emoções exigidas em cada cena, em vez de apenas “representá-las”. Esse processo inclui se comportar como o personagem entre as gravações e realizar atividades para entendê-lo.
Grandes nomes de diferentes eras de Hollywood já utilizaram a atuação de método: exemplos são Joaquin Phoenix, Al Pacino, Marlon Brando, Robert De Niro e Christian Bale. Alguns, como Jared Leto, ficam como o personagem até fora das telas.
Cox descreveu o processo de interpretação de Jeremy Strong como “incrivelmente irritante” e acrescentou que um membro do elenco permanecer no personagem pode atrapalhar a produção. “Não é bom para o grupo”, disse ao The Guardian (via NME). “Isso gera hostilidade.”
A técnica de Daniel Day-Lewis
Daniel Day-Lewis é um ator conhecido por utilizar a atuação de método em seus papéis. Filho de um poeta e uma atriz, Day-Lewis abandonou a escola aos 13 anos para se dedicar ao cinema. Ele se tornou, em 2013, o primeiro e único homem da história do cinema a vencer três Oscars de Melhor Ator — por Meu Pé Esquerdo (1988), Sangue Negro (2006) e Lincoln (2012).
Um grande exemplo da técnica ousada é o caso de Meu pé esquerdo, longa que lançou Day-Lewis ao estrelato. Ele interpretou Christy Brown, um pintor irlandês com paralisia cerebral que era tetraplégico e utilizava o pé esquerdo para escrever e pintar. Para se preparar para este trabalho, o ator passou oito semanas numa clínica especializada. Durante a filmagem, ele se recusou a sair da cadeira de rodas ou a mover qualquer outra parte do corpo, pedindo a ajuda da equipe para se alimentar e utilizar o banheiro.
Em uma entrevista para a revista The Big Issue, ele expressou sua frustração com o posicionamento de Cox. “Brian é um ator excelente que fez um trabalho extraordinário”, disse ele. “Como resultado, ele ganhou um palanque… do qual não demonstra nenhuma intenção de descer. Sempre que ele quiser falar sobre isso, é fácil me encontrar”.
Day-Lewis e Cox atuaram juntos em The Boxer (1997), filme para o qual Day-Lewis treinou intensamente com boxeadores de elite. “Se eu achasse que, durante nosso trabalho juntos, interferi no processo criativo dele, ficaria horrorizado. Mas não acho que tenha sido assim”, disse. “Então, não sei de onde diabos isso surgiu. Jeremy Strong é um ator excelente, não sei como ele trabalha, mas não me sinto responsável por isso de forma alguma”.
O ator também afirmou que o método tem sido deturpado por pessoas com pouco conhecimento sobre o assunto. “Não consigo pensar em um único comentarista que tenha falado mal do método e que tenha qualquer compreensão de como ele funciona e da intenção por trás dele”, explica.
“Eles se concentram em coisas como: ‘Ah, ele viveu numa cela por seis meses’. Esses são os detalhes menos importantes.” Day-Lewis se refere à sua preparação para o papel de Gerry Conlon, em Em nome do pai (1993). O filme aborda um dos maiores erros judiciários britânicos, quando quatro jovens foram presos injustamente por 15 anos pelo atentado do IRA (Exército Republicano Irlandês).
De acordo com O Globo, durante esse período, Day-Lewis fez jejuns com alimentos da cadeia, se recusou a dormir por várias noites e insistiu em ser interrogado por dois detetives reais, para replicar o tormento psicológico do confinamento. Ele também passou alguns dias numa cela construída no set, e perdeu cerca de 13 kg para o papel.
“Em todas as artes cênicas, as pessoas encontram seus métodos como um meio para um fim. É com a intenção de se libertar para apresentar aos seus colegas um ser humano vivo e pulsante com quem eles possam interagir”, defendeu o artista.
Durante uma palestra durante o Festival de Cinema de Londres, em outubro, Day-Lewis já havia dito: “É quase como se estivéssemos envolvidos em alguma ciência espúria, ou em um culto. Mas é apenas uma maneira de se libertar para que a espontaneidade, quando você está trabalhando com seus colegas em frente às câmeras, permita que você responda da maneira que quiser naquele momento.”
Day-Lewis anunciou sua aposentadoria em 2017, e buscou uma vida mais tranquila, longe dos holofotes de Hollywood. Mas agora, ele volta a atuar no filme Anemone, dirigido por seu filho, Ronan Day-Lewis. O longa estreou em 28 de setembro de 2025 no Festival de Cinema de Nova York e ainda não tem previsão de chegada aos cinemas brasileiros.
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