Guitarras carregadas e distorcidas, baterias bem marcadas e música pesada: da onde veio o heavy metal?
É muito difícil saber exatamente quando um movimento musical nasceu. Na maioria das vezes, ele tem um crescimento discreto e evolutivo - e consagra-se no bê-a-bá do estilo somente quando chega ao mainstream. Foi assim com o rock n’ roll, nascido nos campos dos EUA com uma população negra e pobre e consagrado posteriormente no imaginário popular com Elvis Presley. E algo parecido aconteceu com o heavy metal.
A primeira vertente do metal tem seus principais nomes em Black Sabbath, Deep Purple, Led Zeppelin e outras bandas inovadoras dos anos 1970. Mas os solos de guitarra distorcidos não nasceram do nada: foram inspirados no rock da última década e em bandas que normalmente não são associadas ao metal, como os influentes Beatles ou os calmos Kinks.
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O heavy metal demorou para ser construído e bebeu de diversas fontes. Por isso, algumas das “primeiras músicas de metal” não têm realmente nada a ver com o que esperaríamos do estilo. A exemplo disso, o Ultimate Guitar fez uma lista cronológica das nove primeiras músicas que poderiam ser consideradas Heavy Metal. Ouça:
Os Kinks e suas músicas têm a cara do “rock clássico.” Mas foram bem importantes para o metal: “You Really Got Me,” música de 1964, foi a primeiríssima canção a usar power chords (ou “acordes fortes”) e distorção na guitarra. Para isso, literalmente usaram uma faca para alterar seus amplificadores e conseguir o efeito diferenciado.
Quando Pete Townshend lançou essa música, garantiu que foi o trabalho mais pesado do The Who até então. E de fato, a bateria iminente e o ritmo da guitarra (por vezes distorcida) dão essa impressão. O que quebra o clima de “metal” é principalmente o refrão alegre.
Quando o Blue Cheer apresentou o disco Vincebus Eruptum, surpreendeu pelo som estruturado de maneira completamente inusitada. Eles quase sempre aparecem em listas de proto-metal pelos seus elementos parecidos - principalmente a guitarra bem distorcida e solos gigantescos. E tinham até os cabelões cobrindo os olhos.
Mistura elementos do blues com o rock - e é definitivamente uma música de heavy metal. Há quem ouça, inclusive, precedentes fortes do Deep Purple e do The Doors, uma mistura única e original para a época.
Enquanto “ I Can See For Miles” foi classificada como a música mais pesada do The Who, Paul McCartney deu esse título para “Helter Skelter,” dos Beatles. Bem carregada na bateria e em polêmicas, a faixa foi uma das mais populares da época, e com certeza ajudou a fundar o posterior heavy metal.
Só de ler o nome, a melodia vem na sua cabeça - acompanhada das motos potentes do filme Sem Destino, responsável por a popularizar. Foi a primeira vez em que o termo “heavy metal” apareceu, nos versos “Gosto de fumaça e relâmpagos / trovão heavy metal / correndo com o vento;” porém, não tinha a conotação do estilo musical - mas sim os elementos musicais que depois veríamos bastante no Judas Priest e Iron Maiden.
O King Crimson era ótimo em rock progressivo. Começaram com o disco In The Court Of The Crimson King e surpreenderam com a música inusitada e bem pesada. Em “21st Century,” trouxeram um solo de guitarra poderoso e vocal grosseiro e cheio de efeitos, além de uma letra polêmica e política.
A música nasceu em Led Zeppelin, disco de estreia da banda e seria conhecida como uma das precursoras do heavy metal em uma época que o estilo ainda não estava tão claro. Nela, ouvimos uma guitarra que não poderia pertencer a ninguém além de Jimmy Page, e uma bateria característica de John Bonham que só viriam a marcar mais e mais nos anos seguintes.
Hoje em dia, é quase consenso que o Black Sabbath foi a primeira banda a crescer e se apresentar como Heavy Metal. Mas se em 1969 não havia uma clara definição do estilo, isso foi só até “Black Sabbath” aparecer. Os riffs pesados e o vocal alucinado de Ozzy Osbourne, além da morbidez e obscuridade da letra, formaram de vez o heavy metal - e só viria a crescer nesse patamar nos anos seguintes.
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