“Uma história íntima ajuda a compreender muita coisa”, diz Denise Fraga sobre o longa, que estreia nesta sexta, 19
Em 2011, Denise Fraga conquistou o Festival de Brasília. Durante a 44ª edição de um dos maiores eventos de cinema do país, a carioca recebeu o prêmio de melhor atriz por sua interpretação em Hoje, longa que chega aos cinemas nesta sexta, 19. Para alcançar o resultado visto nas telas, ela passou por um árduo e sensível processo. “Fiquei num estado tão sensorial que, muitas vezes, a cena acabava e eu ia pro quartinho, que também servia como camarim, e chorava”, conta, em entrevista à Rolling Stone Brasil.
Sua personagem, Vera, é marcada por diferentes sensações. Ao mesmo tempo em que sofre pelo desaparecimento de seu grande amor durante a ditadura, tenta colocar sua vida em ordem, seguir em frente mais de dez anos após o fim do regime militar. “Acho lindo essa mulher ser chamada à vida toda hora, ela está presa em sua memória, com a presença daquele cara, mas também existe os homens da mudança fazendo perguntas, a torneira quebrada pingando, a vida chama para ela continuar vivendo e fazer o que precisa ser feito”, analisa, colocando em perspectiva a dualidade da protagonista.
O enredo mostra Vera se mudando para um apartamento, comprado com dinheiro da indenização paga pelo Estado por conta do sumiço de seu marido. Chegando lá, ela se depara com seu antigo amor. Por isso, Hoje, assim como seus personagens, exigiu muita sensibilidade em sua feitura. “Era como se todo mundo estivesse carregando uma bandeja de cristais, pesada, sensível, era preciso muita delicadeza para fazer com que aquilo tudo desse certo, todo mundo em um grau de concentração fino”, compara.
No longa, a atriz contracena com o uruguaio César Troncoso, ator de quem ela já era fã após assistir ao filme O Banheiro do Papa. “Quando a Tata falou que era ele eu não acreditei, foi muito inspirador. Ele é um grande ator, trabalha dizendo muito com pouco, às vezes só olhar para o César em cena me emocionava”, relembra.
“Em um momento do filme, que até está no trailer, o César pergunta pra mim ‘e se eu deixasse de ser um desaparecido?’, eu me lembro que na hora que ele perguntou veio uma emoção muito forte, que eu nem consegui falar”, revela Denise, emocionando-se novamente ao falar sobre a cena.
O confinamento de atores e equipe em um único apartamento durante quase toda filmagem criou o que Denise chama de “clausura deliciosa”, contribuindo ainda mais para a ambientação desta trama. Por meio de uma história privada, ela apresenta a influência de um amor do passado na consciência e vida desta mulher, usando como pano de fundo um importante evento histórico do país.
“O filme faz a gente pensar em quantas histórias íntimas existiram a partir das prisões, da tortura, a partir dos porões do DOPS, da vontade dos ideais. Uma história íntima ajuda a compreender muita coisa”, finaliza Denise.