Sem ter vergonha do passado, Ben Affleck deixa as derrotas para trás e entrega Argo, um dos melhores filmes do ano
Você lê abaixo um trecho da entrevista publicada na edição 74 da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de 12/11.
Ben Affleck não se abala pelo fracasso. Nem quando ele vem em série, nem quando ele vem depois de uma grande glória (no caso, um Oscar de melhor roteiro ao lado do amigo Matt Damon por Gênio Indomável, em 1997). Armageddon (1998), lançado logo depois, não foi uma falha do ponto de vista econômico, mas foi do ponto de vista de carreira: o papel insosso de Affleck na igualmente fraca trama dirigida por Michael Bay foi visto por muita gente como um desvio deprimente na ascensão do rapaz. Mas o mais deprimente ainda estava por vir – depois de protagonizar filmes como Pearl Harbor (2001), ele fez a pior de suas escolhas, o terrível Demolidor – O Homem sem Medo (2003). Não bastasse isso, deixou de ser lembrado pelo trabalho para se tornar notícia de tabloide com o bastante exposto relacionamento com a cantora e atriz Jennifer Lopez (o casal, na época, foi apelidado de “Bennifer”).
Mas Affleck é perseverante. Mesmo após ter invertido sua imagem de ator e roteirista promissor para “apenas mais um galã raso de Hollywood”, ele não se abateu – e virou o panorama a seu favor. Tornou-se diretor, com os bons Medo da Verdade (2007) e Atração Perigosa (2010), e agora é um dos grandes candidatos à corrida pelo Oscar com Argo, o qual também produziu e protagonizou. O longa conta a história real de um agente da CIA, Tony Mendez, que bola um plano mirabolante para resgatar seis norte-americanos escondidos durante a Crise dos Reféns no Irã, iniciada em 1979, que culminou em 52 cidadãos dos Estados Unidos mantidos como prisioneiros durante 444 dias. No meio disso, há a relação distante de Mendez com o filho e o mundo glamoroso do cinema – o plano é fingir que os refugiados fazem parte de uma equipe de filmagem canadense, em busca de locações para um filme de ficção científica chamado Argo.
“A história do Teerã e do Irã como um todo, da política, sempre foi uma coisa pela qual me interessei”, diz um bem-humorado Affleck em Los Angeles, alguns meses antes da estreia do filme. “E tem o lado divertido, a Hollywood dos anos 70, que para mim foi a época de ouro.” Sorridente e piadista, ele não se envergonha ao olhar para as derrapadas do passado, e mantém uma única certeza: ainda vai cair muito no futuro. “Sei que vou falhar em algum ponto, porque nem todos os filmes funcionam.”
George Clooney comprou os direitos para filmar Argo anos atrás. Como você se envolveu?
George e Grant [Heslov] têm uma produtora chamada Smokehouse. Eles desenvolveram o filme. A Warner mostrou para mim, eu li e achei sensacional. Liguei para o George e disse: “Isso é incrível, eu realmente quero fazer. O que você acha?” Ele aceitou, e eu pensei que era bom demais para ser verdade, porque tudo foi dando muito certo.
O que te animou mais? Argo é muito diferente do que você já fez, distante da cena do crime de Boston, pano de fundo para os dois longas que dirigiu anteriormente.
Uma coisa que me deixou animado foi o fato de não ser um filme de crime em Boston [risos]. Fiquei instigado, porque tinha um monte de coisas nas quais eu estava interessado. A história do Teerã e do Irã como um todo, da política, sempre foi uma coisa pela qual me interessei. E a outra foi o lado divertido, a Hollywood dos anos 70, que para mim foi a época de ouro.
O fato de você ser pai influenciou a abordagem da relação do seu personagem com o filho?
Ter filhos é uma daquelas coisas em que você divide como “antes e depois”. Não muda todo mundo da mesma forma, mas te muda independentemente de qualquer coisa. Para mim, é um aspecto muito poderoso da trama. Eu me ative mais a essa parte da história, só que ficou muito longo, deve entrar no DVD.
Mas a paternidade fez nascer uma vontade de contar histórias mais relevantes, que não sejam apenas entretenimento?
Nesse caso, é uma história real. E com isso vem uma série de responsabilidades, porque você não pode mudá-la. Mas não sei fazer um filme se eu não conseguir sentir que é real. Mesmo nos outros dois filmes que fiz, ficcionais, usei o máximo de elementos reais que pude. Faço isso com pesquisa. E Argo teve muita pesquisa.
E o que aconteceu com o roteiro real de Argo? Ainda está por aí?
[Risos] Ainda está por aí. Eles mudaram o nome, antes se chamava Lord of Light. Nós inventamos as falas que aparecem no filme, porque não somos donos do roteiro original.
Este é um filme que envolve política, e você se envolve em questões políticas. Qual é a sua opinião sobre os Estados Unidos quando o assunto é o Oriente Médio?
Bem... Obviamente, o Iraque e o Afeganistão têm sido intervenções dolorosas para os Estados Unidos, e representam tempos difíceis para as pessoas de lá e para os soldados que estão lá. O caso do Iraque foi baseado em um erro, em algo que não era verdade.
Você lê a íntegra desta entrevista na edição 74 da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de 12/11.