Leia entrevista com Roth, os atores Landon Liboiron e Fanke Janssen e o autor do livro que originou a atração, Brian McGreevy
“É ótimo ser a cobaia”, define o animado Landon Liboiron (foto), um dos protagonistas de Hemlock Grove, a novidade da programação original da Netflix. “Estou gostando muito de fazer parte de algo tão recente e inovador”, completa em entrevista à Rolling Stone Brasil. Ele está falando, é claro, da experiência pouco testada de séries que saem com temporadas inteiras disponibilizadas de uma vez. Mas também pode se referir à forma como o terror televisivo é encarado na série com produção executiva de um dos novos geninhos do cinema de horror Eli Roth, que caiu nas graças de público e crítica com seus filmes O Albergue e Cabana do Inferno. Violenta, visceral e muito mais adulta do que está sendo produzido em termos de terror para a telinha, a série chegou nesta sexta à Netflix.
A desvantagem do modelo, que tem dado certo para o serviço de streaming, é clara: qualquer um que acompanhou alguma espécie de televisão serializada (no Brasil, especialmente as novelas) já notou que a reação do público em relação a uma trama, a empatia com certos personagens e o impacto de determinadas histórias são um termômetro-guia essencial para direcionar destinos na ficção. O mesmo não tem como acontecer neste caso. Por outro lado, “se você está rodando o episódio 7 e percebe que algo não está claro porque não foi explicado de maneira apropriada no episódio 2, você pode voltar e adicionar essa cena” explica Roth, esclarecendo que isso vale mesmo com o episódio tendo assinatura de outro diretor. “É realmente um trabalho de colaboração. O truque é conseguir manter um mesmo tom e a mesma voz criativa”, diz, garantindo que assim há muito mais liberdade para se pensar nos rumos de cada capítulo.
A trama da série, com base no aclamado livro de Brian McGreevy, tem como cenário a pequena e fictícia cidade da Pensilvânia que intitula as obras. E, como premissa, o abalo sofrido com a morte brutal de uma jovem local, aparentemente atacada pro uma criatura não humana (pelo menos completamente). Isso acontece assim que se mudam para a cidade Peter (personagem de Liboiron) e sua mãe Linda (Lili Taylor), de uma família de ciganos. Logo, Peter passa a ser um dos principais suspeitos, ao lado de Roman (Bill Skarsgård, que aparece na foto e é irmão de Alexander Skarsgård, o Eric de True Blood), filho da família rica e (mais) problemática da cidade.
O elenco ainda tem nomes como Famke Janssen (a Jean Grey de X-Men), que interpreta Olivia, a misteriosa mãe de Roman, e Dougray Scott (Missão Impossível 2), tio do garoto e affair de Olivia. “A gente não sabe a origem dela até o fim da temporada”, conta Famke sobre a matrona esquisita, em termos de personalidade, mas extremamente sexy e com uma aura que exala perigo a cada cena. “Sabemos que ela se casou com um homem de família rica. Ela está por trás dos experimentos que causam a deformidade de sua filha [a “garota-Frankenstein” Shelley] e tem uma relação com o irmão de seu marido morto. Ela não é o que parece e isso vale também para outros personagens”, conta. “O que me atraiu é o fato de que não é somente um terror. É de interação humana, drama humano, mas acontecendo perante um cenário de terror”, diz ela, declaradamente avessa ao gênero que permeia sua carreira.
Mais peculiar do que a personagem parece ser o autor McGreevy, que faz questão de esclarecer logo de cara que, ao contrário do que tem sido amplamente reportado, não está trabalhando em continuações para Hemlock Grove e não tem planos para isso - nem mesmo se a série, que em sua primeira temporada esgota o livro todo, ganhe encomenda de mais temporadas. McGreevy colaborou na adaptação da história de um meio para o outro e teve participação ativa em todo processo. Aliás, até demais. “O elenco veio me questionar mais do que gostaria a respeito dos personagens”, diz com sinceridade. “É o trabalho deles fazer perguntas e ir mais fundo”, diz, complementando que ficou muito satisfeito com a forma como suas páginas ganharam três dimensões com o trabalho do elenco.
O processo de pesquisa de Landon foi bem além de fazer perguntas ao criador. O ator, que está muito bem na série (e tem tido uma carreira invejável, até agora, estreando na ficção científica com ninguém menos do que Steve Spielberg, na série Terra Nova, e agora fazendo seu debute no terror com Roth) conta que leu vários livros sobre cultura cigana e ficou fascinado. “Conseguimos explorar cada personagem do livro de maneira bastante aprofundada, vai além do que o livro nos diz sobre eles.”
Ao mesmo tempo que esse formato cheio de características únicas traz diversas soluções e novos dilemas aos produtores, diretores e elenco, cabe a ao público se adaptar e pensar como consumir essa nova televisão. “Eu vejo como comer chocolate: você quer aproveitar e também guardar um pouco para o dia seguinte, não quer comer a caixa toda de uma vez”, opina Famke. “Ao mesmo tempo, fala que é mais gostoso assistir quando ninguém te contou nada ainda e você vai com as expectativas zeradas.”
McGreevy dá seu pitaco: “A razão dessa relação ter começado é que eu sou o modelo do espectador do Netflix”, acrescenta McGreevy. “Há anos eu assisto tudo lá, eu nem tenho um aparelho de TV desde 2008. Também me considero o futuro”, diz, se referindo à colação de que Quentin Tarantino chamou Eli Roth de “o futuro do terror” e que muitos críticos consideram esse formato de soltar todos os episódios da temporada de uma vez como “o futuro da TV”. E esse futuro, segundo ele garante, não funciona da forma como as pessoas imaginam.
“Não procede isso que as pessoas pensam de que a Netflix controla o conteúdo e faz programação em cima dos hábitos de assistir TV dos assinantes”, afirma. “Eles são muito restritos com essa informação, só usam isso para decidir quais séries/filmes adquirir. Mas com a programação original, eles dão muito mais espaço do que uma TV tradicional, que fica micro gerenciando tudo.”