“Definitivamente tínhamos mais energia, mas agora temos mais esperança do que nunca”, diz o baixista John Hassall sobre o quarteto, que retornou em 2014
A última vez que o Libertines se apresentou no Brasil foi em novembro de 2004, como parte do extinto Tim Festival. Na ocasião, a banda havia lançado o segundo e autointitulado disco da carreira e já não contava mais com um de seus líderes, o vocalista e guitarrista Pete Doherty. O momento era conturbado e acabou resultado na dissolução do Libertines, um mês depois.
Passada mais de uma década, a banda que faz o show de encerramento do Popload Festival de 2016 – neste sábado, 8, no Urban Stage, em São Paulo – é outra, e não por mudanças de integrantes. Com Doherty de volta, o Libertines se prepara para a primeira apresentação no Brasil com a formação original, que também traz o vocalista e guitarrista Carl Barât, o baixista John Hassall e o baterista Gary Powell.
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O Libertines é outro por que não mais convive com os conflitos que tanto impulsionaram quanto deterioraram a explosiva – em todos os sentidos – carreira inicial do grupo. “Quando nos separamos, não foi legal”, diz Hassall, em entrevista à Rolling Stone Brasil. Em 2004, Barât e Doherty não se suportavam. O primeiro enfrentava problemas com álcool. O outro, com heroína e crack. As gravações de The Libertines (2004), por exemplo, contaram com um segurança no estúdio e Doherty chegou a entrar em reabilitação em meio às sessões.
Mais de cinco anos depois de ter se separado, o quarteto se reuniu para shows em 2010, incluindo uma importante apresentação no Reading Festival, para uma multidão. Alguns anos depois, em 2014, veio o reencontro definitivo. Doherty e Barât passaram a se ver e a incluir Hassall e Powell nas reuniões. “Começamos a ir às casas uns dos outros”, lembra o baixista, que confessa ter “péssima memória”. “Isso foi muito legal, sair juntos. Damos boas risadas juntos.”
Em entrevistas à época, Barât chegou a dizer que Doherty estava vagando pela Europa em um trailer – “no estilo Breaking Bad” – e tentado largar as drogas. “Tem certas coisas com as quais você não pode ficar se preocupando o tempo inteiro”, assume Hassall, falando da relação recente com Doherty. “Você tem que focar em não ficar preocupado e isso vai fazer as coisas ficarem melhores. Eu fiquei bastante preocupado, mas fingi que não estava.”
A preocupação, apesar de evitada, do baixista, tem fundamento. Desde o fim do Libertines, Doherty foi preso mais de 20 vezes ao longo dos anos, sob acusações que variavam entre suspeita de roubo de carro e suposto fornecimento de drogas a uma mulher que morreu de overdose. Atualmente, a relação do músico com as substâncias, contudo, é praticamente ignorada pelos outros três integrantes – e, desde 2014, não tem gerado problemas ao grupo.
Já em 2014, o Libertines fez shows de pequeno e grande porte, sendo o mais emblemático no Hyde Park, em Londres, em julho. Na ocasião, a euforia foi tanta que, na primeira performance (“Boys in the Band”), 38 das 65 mil pessoas presentes saíram da apresentação feridas, depois de um tumulto entre os fãs. No palco, as coisas também não estavam tranquilas. “Os primeiros shows não foram muito relaxantes”, revela Hassall. “Não nos víamos há, sei lá, cinco ou dez anos, e tinha todas as câmeras e tudo mais.”
“Lembro que depois do show de Hyde Park, pensamos: ‘Mais de 60 mil pessoas. Isso é incrível. Precisamos fazer um disco’”, acrescenta o baixista, lembrando que a reunião de 2010 não foi estendida para o estúdio porque o quarteto “não estava pronto”. “Todo mundo tinha que querer, se não, não ia dar certo. Foi a época certa”, segue ele. “Na realidade, fui eu quem propus a eles: ‘Ei, vamos fazer um álbum?’.”
Além de novas músicas, Doherty e Barât resgataram material antigo que havia ficado incompleto para o que veio a ser Anthems For Doomed Youth, lançado em 2015. “No começo, achei as canções bem cruas, mas vi potencial”, recorda Hassall. “Além disso, fui otimista. O bom de estar em uma banda é juntar à química um pouco de quatro pessoas diferentes. Óbvio que começamos com boas canções, mas juntos fizemos elas ficarem únicas, originais.”
Com produção mais ativa “domando” a sonoridade assumidamente bagunçada do quarteto, Anthems For Doomed Youth foi recebido de maneira irregular, mas o trabalho certamente retoma o sentimento dos dois primeiros discos – especialmente do clássico Up The Bracket (2002) – em canções como “Heart Of The Matter”, a faixa-título e “Iceman”, entre outras. Uma espécie de “cola” que só a união das guitarras tortas de Doherty e Barât podem gerar, mesmo depois de anos ressoando sozinhas.
Desde o fim do século passado, quando a banda começou a engatinhar, o som do Libertines só pode ser reproduzido pelas mesmas quatro pessoas em um cômodo – ou nos palcos. “Agora, já estamos tocando faz tempo”, analisa Hassall. “Conseguimos tocar tranquilamente, relaxar com as músicas. E isso é algo que só vem depois de um tempo tocando juntos, de nos entendermos novamente.”
Hassall falou à RS por telefone, da casa dele, na Dinamarca, onde mora há oito anos com a esposa – dinamarquesa – e os filhos. “Voltei para casa depois de uns shows na Alemanha, para a minha família, antes de termos novas datas”, diz, relaxando a voz. “É legal levar os filhos na escola, fazer essas coisas”. Segundo o baixista, depois das datas sul-americanas, é possível que o Libertines comece a trabalhar em um novo disco.
“Não temos nenhuma pressa, mas queremos fazer um grande disco, então precisamos começar a trabalhar”, conta. A crença de Hassall na “cola” entre os quatro britânicos é tanta que ele brinca com quem chamar para produzir o próximo álbum da banda: “Pessoalmente, não tenho interesse no Jack White, mas chegamos a cogitar Noel Gallagher. Está muito cedo, pode ser que seja um disco de hip-hop.”
Ao comentar a atual fase “mais lenta” do Libertines, o baixista admite que os dois primeiros álbuns sejam mais “enérgicos” – “pelo fato de que tínhamos 20 e poucos anos de idade” – e pega emprestado uma frase que ouviu do baterista da banda, Powell. “Gary uma vez disse: ‘Nos primeiros discos, é como se você fosse a uma galeria de arte e saísse correndo pelas obras. E este último é muito mais como estar em um lugar bacana, apreciando uma pintura. Definitivamente tínhamos mais energia, mas agora temos mais esperança do que nunca. Definitivamente.”
O Popload Festival acontece este sábado, 8, no Urban Stage, em São Paulo. Os shows começam a partir das 16h – com portões abertos às 15h –, com o grupo instrumental Bixiga 70 (substituto do Battles, que recentemente cancelou a participação no festival). Depois, se apresentarão Ava Rocha, às 17h30, o Ratatat, às 19h, o Wilco, às 20h30, e o Libertines, às 23h.
O show do Wilco – atração mais aguardada do evento – no Popload Festival conta com duas horas de duração, sendo o mais longo de todos. O Libertines, apesar de subir ao palco depois da banda de Chicago, fechando a noite, toca por cerca de uma hora e meia. No Heineken Space, o local dedicado às discotecagens nos intervalos das apresentações do palco principal, o baterista do Libertines, Powell, comanda as pick-ups. Além dele, um live P.A. da banda Aldo e do set de Trepanado e Milos Kaiser, DJs da festa Selvagem também estão inclusos.
Veja abaixo os horários.
Popload Festival 2016
Wilco, Libertines, Ratatat, Ava Rocha e Bixiga 70
8 de outubro (sábado), às 15h
Urban Stage – Rua Voluntários da Pátria, 498 - Santana – SP
Ingressos: R$ 300 (pista), R$ 500 (pista premium) ou R$ 700 (camarote), com opções de meia-entrada
Palco Principal
16h às 17h – Bixiga 70
17h30 às 18h30 – Ava Rocha
19h às 20h – Ratatat
20h30 às 22h30 – Wilco
23h às 0h30 – The Libertines
Heineken Space
17h às 17h30 – Gary Powell (The Libertines), DJ set
18h30 às 19h – Aldo (live P.A.)
20h às 20h30 – sessão de autógrafos com Ava Rocha
22h30 às 23h – Selvagem (DJ set)