Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Diretor fala sobre documentário inspirado na democracia corintiana

“Não sinto que é um filme específico sobre o clube”, conta Pedro Asbeg sobre Democracia em Preto e Branco

Por Bruno Raphael Publicado em 05/08/2011, às 15h54

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
"Deixo que a conclusão fique a cargo do espectador porque, se for ver, entre as pessoas do palanque mais famoso das Diretas Já!, estavam Fernando Henrique Cardoso e o Lula", conta o diretor à <i>Rolling Stone Brasil</i> - Reprodução
"Deixo que a conclusão fique a cargo do espectador porque, se for ver, entre as pessoas do palanque mais famoso das Diretas Já!, estavam Fernando Henrique Cardoso e o Lula", conta o diretor à <i>Rolling Stone Brasil</i> - Reprodução

Em 1984, o Brasil passava por um período conturbado no governo militar que tomava conta do país desde o início da década de 60. A ditadura chegava aos seus dias finais e tinha como maior representante da ascensão da democracia, curiosamente, um time de futebol - ao menos é essa a relação que o documentário Democracia em Preto e Branco tenta traçar. Levando como pano de fundo o núcleo ideológico criado pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Wladimir dentro do Corinthians - no qual, por meio do voto, a equipe toda decidia questões como contratações e regras de concentração -, o diretor Pedro Asbeg faz um panorama dos momentos que conduziram até histórico movimento das Diretas Já!, em 1983.

Leia textos das edições anteriores da Rolling Stone Brasil - na íntegra e gratuitamente!

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Asbeg tratou dos principais temas do documentário, que vem sendo rodado desde 2010 numa iniciativa independente dele e do produtor Gustavo Gamas Rodrigues. Usufruindo do crowdfunding (prática que consiste na captação de verbas para uso artístico, através de doações do público via internet) os dois conseguiram arrecadar mais de R$ 22 mil para a realização do documentário. "Já havia feito a primeira etapa das entrevistas em 2010 por conta própria. Mas de lá pra cá, percebi que o filme não tratava só da democracia corintiana", conta Asbeg. "Então decidimos seguir por um caminho próprio, que poderíamos dar conta. Sentei com Gustavo e decidimos estipular uma cota para o site."

A iniciativa termina neste sábado, 6, no site Incentivador. Lá, é possível doar qualquer quantia, num sistema que premia o doador. Uma contribuição de R$ 500, por exemplo, dá direito a um estágio como assistente de direção no documentário, além de ter seu nome publicado nos créditos finais do filme (para saber clique aqui).

Explicando como surgiu a ideia de produzir Democracia em Preto e Branco, Asbeg, experiente no ramo de documentários futebolísticos (dirigiu e produziu mais de 10 curta-metragens, como Unido Vencerás, de 2003), conta que o que lhe empolgou a princípio não foi o fato de se tratar do Corinthians, mas sim da realidade que se formava ali. "Quando a gente entende o contexto em que aquilo [a democracia corintiana] estava acontecendo, na base do voto democrático, ao mesmo tempo que as pessoas no Brasil queriam e não podiam votar pra presidente, a conexão fica muito grande", conta o diretor. "Não sinto que é um filme específico sobre o Corinthians, pela questão da contextualização. Vamos tratar de todo o processo de redemocratização do Brasil, incluindo até a música como o Rock Brasil, que surgia naquele momento."

Dentre todos os atletas do Corinthians, Asbeg opta por destacar um grande ídolo da equipe na época. "No que diz respeito ao Sócrates, isso é muito verdadeiro. Ele falava muito sobre política e a importância do voto. A poucos dias da aprovação ou não da Emenda Dante de Oliveira [proposta de 1984 que decidiria se ocorreriam ou não as eleições diretas no país], ele subiu num palanque e declarou que tinha uma proposta do [clube italiano] Fiorentina", conta Asbeg. "Ele usou o poder de mobilização que tinha dizendo que, se a emenda fosse aprovada, ele não sairia do Corinthians. Mas, infelizmente, a emenda não foi aprovada e o Sócrates foi pra Itália."

No panorama atual, o diretor não vê nenhum atleta com engajamento semelhante ao do "doutor" Sócrates. "Não sou saudosista, mas acho que a tendência é que os jogadores sejam cada vez mais treinados para darem respostas que não vão, de maneira alguma, fazer com que o patrocinador dele ou a torcida fiquem chateados, ainda mais no que diz respeito à política", acredita Asbeg, que diz não tentar veicular nenhum tipo de ideologia no documentário. "Deixo que a conclusão fique a cargo do espectador porque, se for ver, entre as pessoas do palanque mais famoso das Diretas Já!, estavam Fernando Henrique Cardoso e o Lula."

Democracia em Preto e Branco ainda não tem previsão de conclusão das filmagens, mas Asbeg conta que "num mundo ideal, o filme seria finalizado entre maio e junho de 2012". O primeiro trailer pode ser conferido abaixo:

Democracia em Preto e Branco from Gustavo Rodrigues on Vimeo.