Festival Copa Fest teve música instrumental para todos os gostos neste fim de semana, no Rio de Janeiro
No palco do mais tradicional hotel do Rio de Janeiro, o Copacabana Palace, nomes como Hermeto Pascoal, Marcos Valle e César Camargo Mariano fizeram uma plateia heterogênea lembrar que a música instrumental é mesmo cheia de nuances. Integrantes junto a outros da programação do festival Copa Fest, que chegou à segunda edição com boa receptividade do público, eles se dividiram de sexta-feira, 16, a domingo, 18, para agradar a todos os gostos. De quem gosta de música sem letra, claro.
O show de abertura, comandado por Zé Luis e Banda Magnética, gerou comentários positivos de pessoas "comuns", de membros da classe artística e jornalistas presentes no local. Esse carioca radicado em Nova York há 20 anos, que já tocou com Caetano Veloso, Ney Matogrosso e Cazuza, comoveu ao levar nove jovens com idades entre 14 e 25 anos para tocar seus arranjos. Na mesma noite, Hermeto Pascoal fez os presentes se remexerem nas cadeiras. Roteiro? Nem pensar! O barbudo entrou em cena tocando um teclado Roland e, durante o longo show que apresentou no Copa Fest, foi de flauta a escaleta, passando pela chaleira. E também teve o patinho de plástico
Uns diziam que tinha a ver com as entrevistas que deu antes de subir ao palco. Outros disseram que foi culpa do profissional responsável pelo som. Hermeto foi o único artista do festival a ter problemas técnicos durante seu show. Mas, bem humorado, não perdeu a piada e os estouros e microfonias viraram elementos (ou instrumentos) para improvisação. Sua banda mostrou virtuosismo do início ao fim. Destaque para a participação de integrantes da Orquestra Itiberê. Hermeto Pascoal Sexteto foi o grupo mais ovacionado do evento.
Sábado, 17, teve Chico Pinheiro Quarteto, Marcos Valle e César Camargo Mariano acalmando os ânimos com shows mais ensaiados. Conhecido como um grande guitarrista, que já acompanhou Dave Holland, Esperanza Spalding, Dori Caymmi e Rosa Passos, Chico levou seu violão ao Copacabana Palace. Apresentando Jet Samba, um projeto que virou disco e show instrumental, Marcos Valle acertou em cheio na escolha do repertório e nas histórias que contou. Renderam boas risadas e confirmou a simpatia do público "Adam's Hotel", que fez em Nova York para um hotel que já não existe mais, e "Lost in Tokio Subway", composta no Japão, quando se perdeu dos amigos e não sabia como voltar ao lugar certo. Antes de apresentar "Campina Grande", Valle, sempre ao teclado, contou que o primeiro ritmo pelo qual se apaixonou foi o baião. O ar de sofisticação só foi quebrado quando ele tocou "Um Novo Tempo", canção tema do Natal da TV Globo.
O mais contido de todos, mas não menos simpático, César Camargo Mariano emocionou e se emocionou algumas vezes durante o show no Copa Fest. Acompanhado do baterista Jurim Moreira e do baixista Marcelo Mariano, seu filho, o pai de Maria Rita e Pedro Mariano lembrou de quando se apaixonou pela trilha sonora do filme Adeus às Ilusões e tocou "The Shadow of Your Smile". Depois, chegou e embargar a voz ao falar sobre os amigos já falecidos Sebastião de Oliveira e Johnny Alf. Um show de virtuosismo que só dispensaria um pouco das falas, às vezes longas demais.
O encerramento do Copa Fest teve Osmar Milito Trio surpreendendo os que foram lá conferir se ele ainda dá conta do recado. Ao piano, acompanhado pelos virtuoses Rafael Barata (bateria) e Augusto Mattoso (baixo), Milito foi de Miles Davis a Gershwin, passando por Chico Buarque, com uma belíssima leitura de "Retrato em Branco e Preto". A sensação era a de que, dentro de cada um dos músicos do palco, havia a mistura do jazz com a ginga que só os brasileiros têm, tudo muito ensaiado. Se o sábado foi cansativo por ter três atrações seguidas, o domingo careceu de um outro nome para dividir a responsabilidade com Osmar Milito, que acabou levando menos gente ao Copacabana Palace.