O festival aconteceu nos dias 7 e 8 no Memorial da América Latina e reuniu grandes nomes da música brasileira
Depois de uma semana inteira de temperaturas baixas, chuva e vento frio, o Coala Fstvl foi recebido por dois dias lindos, ensolarados e uma temperatura acima dos 30ºC. Realizado nos dias 7 e 8, sábado e domingo, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o festival foi a celebração de uma música brasileira tão brilhante quanto o sol que queimou quem vacilou e esqueceu do protetor solar.
O público que se aglomerava ao redor do palco estava em clima de carnaval. Glitter, roupas neon e adereços brilhosos compunham boa parte do visual dos coaláticos. Com água sendo distribuída gratuitamente, ainda bem.
Ao todo foram 26 mil pessoas, divididas em dois dias de festival. Além das performances maiores nos palcos, o Coala oferecia DJ sets, feirinhas de comprar e até flash tattos.
A sexta edição prova como o Coala Fsvtl fez nome e ganhou a atenção do público da capital paulista - e arredores - por ser um festival de pequeno porte mas ter uma curadoria musical consistente. Nos anos anteriores, passaram grandes nomes da música brasileira como Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento.
Desta vez, o Coala Fsvtl transitou entre o rap, o funk e a MPB, quando escalou o mineiro e gigante do rap nacional, Djonga, e trouxe pela primeira vez um dos representantes do funk 150BPM (batidas por minuto), Kevin O Chris.
Além disso, o festival também focou em shows com apresentações duplas como Chico César e Maria Gadu, Elba Ramalho e Mariana Aydar e Curumin com Geovana e Saulo Duarte.
As atrações principais ficaram por conta do grupo já veterano BaianaSystem com o show Sulamericano na noite de sábado, 7, e Ney Matogrosso com Bloco Na Rua, no domingo, 8.
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Com tantos nomes, decidimos reunir os seis melhores momentos que rolaram durante o festival:
A rainha da sofrência pop, Duda Beat, marcou presença na primeira tarde ensolarada do evento com os hits de Sinto Muito, 2018.
Como uma celebração de corações partidos, Beat sabe bem como fazer todo mundo dançar intercalando as canções do seu disco de estreia e os embalos das parcerias como "Chega" (feat com Mateus Carrilho e Jaloo), "Só Eu e Você na Pista" (feat com Illy), a dançante "Chapadinha" e as versões remix de "Bixinho".
Radicada no Rio de Janeiro, a cantora não deixou de falar sobre o pedido feito pelo prefeito Marcelo Crivella sobre a tentativa de censurar obras com temática LGBTQ+ na Bienal do Livro. No encerramento do show, a cantora ergueu uma bandeira colorida como um ato de apoio ao movimento.
Ainda no sábado, 7, o pôr-do-sol aconteceu bem na hora em que Elba Ramalho subiu ao palco para trazer o clima nordestino para o festival. Com botas brilhosas e dançantes, a cantora apresentou versões de clássicos da música brasileira como "Anunciação", de Alceu Valença, "Eu Só Quero Um Xodó" e "Esperando na Janela" de Gilberto Gil.
Na sequência, convidou Mariana Aydar para subir ao palco e a dupla dançou um xote agarradinho e o público as seguiu. "Triste Louca ou Má", da banda Francisco El Hombre, ganhou uma versão forró na voz de Aydar. "Esse é um momento muito importante para nós mulheres. Aceite que tudo deve mudar", disse antes de iniciar a canção.
Há dois anos seguidos sendo figurinha marcada nos carnavais de rua de São Paulo, o BaianaSystem foi, mais uma vez, um dos grandes nomes do line-up do Coala Fsvtl. Com o repertório de O Futuro Não Demora, 2019, Russo Passapusso e companhia apresentaram o show Sulamericano para encerrar a primeira noite - lotada - do evento, 7.
Com a incansável energia e suingue do líder do grupo, o Memorial da América Latina foi tomado pelos fãs dos ritmos baianos combinados aos beats eletrônicos. Em determinado momento, Passapusso convocou a roda e agitou o bate-cabeça que fez o chão tremer.
Vestidos com roupas de cores complementares, laranja e verde, Chico César e Maria Gadu, respectivamente, entraram ao palco para cantar a capella "Béradêro", um clássico de 1995. Com as vozes tão acertadas, instigaram um coro e esbanjaram energia na tarde ensolarada do domingo, 8, quando as percurssões tomaram conta das caixas de som ao lado do palco.
Durante a apresentação, a dupla também falou sobre a questão da censura na Bienal do Livro, e entoaram os gritos de "Lula Livre" e "Preta Livre", líder do movimento de moradia que está presa a mais de 70 dias.
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Entre camisetas levantadas no meio do show com a estampa "Marielle Presente", César apresentou a música "Fogo Jáhhh", cujo refrão tem o verso: "Fogo nos racistas!". Gadu também se manifestou e fez referência a João Dória, atual governador de São Paulo, Sérgio Moro, Ministro da Justiça e Segurança Pública, e Ricardo Salles, Secretário do Meio Ambiente: "Queima Salles que mandou queimar a Amazônia", disse.
Quando o duo de produtores de Campinas, São Paulo, subiu ao palco do Coala Fstvl na noite de domingo, 8, anunciaram: "Serão 40 minutos de sarrada, agora tá liberado". Conhecidos por comandarem as bases das músicas do Baco Exu do Blues, eles mixam funk brasileiro com batidas envolventes de Chill Baile. Entre os hits como "Tremendo Vacilão" da Perla, "HUMBLE" de Kendrick Lamar, esquentaram o clima para a entrada de Kevin O Chris.
Quando a batida de 150 bpm chegou, o público desceu até o chão. Com os sucessos "Da Gaiola", "Ela É do Tipo" e "Evoluiu", Kevin O Chris concretizou o que o duo havia anunciado no início do show.
Ao agradecer o público e a organização do festival pelo convite, Kevin fez menção ao DJ Rennan da Penha - precursor do ritmo 150 bpm e conhecido por idealizar o Baile da Gaiola - preso em abril deste ano por associação para o tráfico. "Liberdade Rennan da Penha".
Um dos nomes mais relevantes do rap atualmente fica por conta do mineiro Djonga. Com três discos assertivos, o rapper tem se consagrado com apresentações estrondosas e em vários lugares do Brasil. Lotou casas de shows, se apresentou no João Rock, em Ribeirão Preto, e no início do mês, fez o Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, tremer com o show energético na presença de convidado especial Mano Brown no Festival Sarará.
Sendo assim, era de se esperar que algo parecido acontecesse no Coala Fstvl. Mas, quando o rapper chegou com a voz grave em "Hat-Trick", cujo refrão "Abram alas pro rei" é um coro certo nos shows, o público do festival não pareceu se animar tanto. Dispersos e alguns deles conversando, a cena assustou de cara quem tem acompanhado a trajetória do rapper.
Para um público que se mostra engajado em questões políticas e na música brasileira - já que o festival é dedicado a isso -, a recepção foi curiosa comparado ao histórico de shows. No entanto, Djonga seguiu invicto e provou por que merece estar no topo ao lado de outros nomes do rap nacional.
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Na sequência, ele puxou a corda para trazer mais talentos de Belo Horizonte para os holofotes, e convidou Hot e Oreia para cantar os versos afiados de "Eu Vou", faixa do disco "Rap de Massagem" da dupla.
Logo depois, cantaram juntos "Solto", faixa do disco O Menino Que Queria Ser Deus, que ganhou mais a atenção do público, depois de "Leal", com alguns solos de guitarra.
No meio do show, problemas técnicos. Quando a apresentação deu uma pequena pausa - antes do Djonga seguir a capella "Deus e Família"-, o público aproveitou para gritar "Ei Bolsonaro, vai tomar no c*", certeiro, como sempre, o mineiro pontuou: "Todo mundo que está aqui, nas próximas eleições, vamos nos esforçar o dobro, o triplo pra não ter ficar gritando isso durante toda a nossa juventude, tá bom?!".
Apenas no encerramento, com o combo "Olho de Tigre" e "Esquimó" rolou um bate-cabeça com os emblemáticos versos: "Fogo nos racistas!" e "Onde tem quem acha graça zoar viado / Eu acho engraçado um racista baleado!".