Autossuficiente e intensa, dupla canadense de garage rock Japandroids toca nesta sexta em São Paulo
O duo canadense Japandroids estreia em palcos brasileiros nesta sexta, 9, com um show em São Paulo, no Beco 203.
Na verdade, será a segunda performance no país da dupla formada em Vancouver, em 2006: na quinta, 8, eles se apresentaram informalmente para uma plateia de poucas dezenas de pessoas na Casa do Mancha, um pequeno espaço cultural escondido no bairro da Vila Madalena. Na ocasião, o vocalista/guitarrista Brian King brincou: “Hoje é nosso primeiro show na América Latina, mas o verdadeiro será amanhã. E deverá ser o mais longo de nossa carreira”.
Em 2006, King formou o Japandroids com o amigo da faculdade David Prowse, quando ambos tinham 19 anos. “Não tínhamos instrumentos antes de nos conhecermos”, diz King. “Nem sabíamos tocar. Aprendemos já no final da faculdade, quando decidimos nos mudar para Vancouver e começar a banda.” King comprou a guitarra do próprio irmão (que também vendeu a Prowse sua primeira bateria). “Eu nunca aprendi a tocar guitarra do jeito ‘correto’, nem sei os nomes da maioria das notas e acordes que toco. No fim das contas, aprendemos a tocar juntos, um com o outro.” Ao vivo, as intensas apresentações dispensam recursos que ajudariam a encorpar a já agressiva sonoridade garageira do Japandroids: são vocais angustiados, uma Fender Telecaster em altíssimo volume (cujo som sai de três amplificadores diferentes) e a bateria espancada apaixonadamente por Prowse, que também canta em algumas músicas.
“A gente chegou a pensar nisso”, diz King, sobre a possibilidade de incluir um baixista ou outros músicos ao grupo. “Mas a essa altura do campeonato, acho que não poderíamos ter mais alguém na banda. Duas pessoas já é difícil o bastante. Mais um cara só faria tudo mais complicado.” Outro fator que dificultaria a mudança de paradigma é o fato de King e Prowse só terem tocado um com o outro desde que se enveredaram na música. “Para falar a verdade, eu nunca toquei muito com baixistas”, confessa. “O Japandroids é a nossa primeira banda. E, desde então, a gente nunca tocou com outras pessoas. Então eu nem sei como seria.”
Nos shows (no sábado, 10, a banda toca em Porto Alegre), o Japandroids promete apresentar faixas do recém-gravado novo disco, previsto para junho, “autoproduzido, sem overdubs ou instrumentos extras”, afirma King. “As músicas novas têm mais letras. Se você ouvir o Post-Nothing [2009], músicas como ‘The Boys are Leaving Town’ e ‘Crazy Forever’ possuem cinco minutos e só têm duas frases”, o guitarrista explica. “As novas são mais emocionantes, com melodias melhores, mais pegajosas. É mais difícil de tocá-las do que as antigas, porque são mais complexas. Tem sido um bom desafio aprendê-las no palco. Esses shows no Brasil são a primeira chance que tivemos para mostrá-las em publico, então a partir daqui só deve melhorar.”
Adeptos assumidos da filosofia do “faça você mesmo”, King e Prowse continuam como os únicos responsáveis por todos os movimentos da banda, dentro e fora dos palcos. “É muito diferente, mas também não é muito diferente”, King relembra o início da carreira, tocando em pequenos clubes canadenses. “Na noite de um show, é praticamente a mesma coisa: preparamos o equipamento, passamos o som e tocamos. Nós não temos equipe, empresários, roadies, essas coisas. Só tentamos soar bem, tocar o melhor que for possível. Nesse sentido, tem sido a mesma coisa que foi desde sempre.”
“É muito parecido com um relacionamento”, King pondera, sobre a convivência constante com o amigo baterista. “Quando saímos em turnês e nos vemos diariamente por dois meses, pode ser que, quando voltarmos pra casa, precisemos de uma semana ou duas separados. Às vezes é difícil, porque não há uma terceira pessoa para resolver uma discussão. Mas sempre damos um jeito de colocar os problemas de lado, porque sabemos que é importante que a gente se dê bem para realizar as coisas, como vir para o Brasil e fazer esses shows.”
Veja o Japandroids tocando "Rockers East Vancouver" no festival South By Southwest, em Austin, em 2010: