Filme se esforça em agradar uma geração mais jovem e deixa os jogadores old-school com migalhas
O primeiros segundos de Pokémon: Detetive Pikachu sugam o público para dentro de um Game Boy com o cartucho de Pokémon Red ou Blue plugado. Os personagens correm por uma área de grama alta (como no game), enquanto dão de encontro com um pokémon selvagem.
O jovem tenta capturar o bichinho, um Cubone (aqueeke dinossaurinho de história triste que usa a crânio da mãe morta como capacete). Joga a pokébola, como nos joguinhos criados a partir de 1996. O bicho não gosta muito, consegue escapar do apetrecho e ataca o candidato a treinador pokémon.
Cria-se um momento interessante aí. Porque se você jogou qualquer um dos milhares de jogos de Pokémon sabe que não existem muitas consequências caso o bicho não aceite ficar na pokébola. Em Detetive Pikachu, as consequências estão na expressão de personagem humano, em fuga, enquanto é perseguido por um fofo e raivoso Cubone.
Nesse momento, o filme (já em exibição nas salas de cinema no País) entrega uma noção de experiência real sobre como seria viver como um treinador pokémon, um sonho bastante comum entre as crianças desde a segunda metade dos anos 1990.
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O que era promissor em cinco minutos de tela, torna-se decepção logo depois. Pokémon: Detetive Pikachu não busca recriar a sensação das batalhas pokémon ou a jornada de um treinador em colecionar os bichinhos.
O longa de Rob Letterman (de Monstros Vs Aliens e Goosebumps) pega emprestada a ideia do game de mesmo nome, Detetive Pikachu, para recriar um mundo no qual Charmander e Bulbasaur existem como qualquer outro bicho da vida real, mas são coadjuvantes, não um dos três pokémon iniciais.
A trama, detetivesca, com um falso clima noir (por ser colorido demais) deixa a experiência mais distante de grande parte dos produtos da linha Pokémon, como jogos, mangás e animes.
É uma decisão ousada, sair da caixinha do que se entende como uma história baseada nos produtos Pokémon ao normatizar os monstrinhos e também humanizá-los. Também evidencia o público-alvo da produção, bem mais jovem do que aquele que gastava pilhas e mais pilhas alcalinas no seu Game Boy Color.
Grande parte das cópias de Pokémon: Detetive Pikachu serão dubladas, em vez de legendadas. Perde com isso também quem gostaria de assistir ao Pikachu protagonista dublado pelo debochado Ryan Reynolds. Ganha o público infantil.
Se os 5 primeiros minutos de longa-metragem mostram o potencial que uma aventura tradicional poderia ter, logo o filme estabelece a narrativa a ser seguida. A vida de Tim Goodman (interpretado por Justice Smith, de Jurassic World: Reino Ameaçado e Cidades de Papel) está bem distante dos pokémon.
O rapaz é um analista de seguros, órfão de mãe, há anos sem encontrar com o pai que mora em outra cidade e atua como detetive. Ele, como era de se esperar, não gosta dos pokémon. Como nos jogos, cada humano possui um dos bichinhos como parceiro, mas não Tim.
A ignição se dá com uma ligação telefônica. O pai dele sofreu um acidente e é está presumidamente morto. Goodman vai até Ryme City, cidade na qual vivia o progenitor, para dar fim às coisas dele.
Ele conhece um Pikachu mexendo nas coisas do apartamento do pai. Diferentemente dos outros pokémon, incapazes de se comunicarem com outros humanos, esse Pikachu com chapéu de detetive e sem memória, é capaz de se comunicar com Tim - e só com ele.
A partir da investigação sobre o motivo do sumiço do pai de Tim e o que causou a perda de memória de Pikachu levam a dupla improvável pelos becos e lugares perigosos de Ryme City.
Rob Letterman faz um belo trabalho ao trazer realismo ao mundo dos pokémon - na medida do possível, é claro. A imersão é completa, também. Depois de alguns minutos, você aceita que Charizards podem cruzar com o protagonista a qualquer momento.
A narrativa central, contudo, vale pouco, com reviravoltas previsíveis e personagens bastante caricatos. Há, contudo, uma abertura para um mundo incrível a ser explorado. Isso, por si só, é válido.
Mas é preciso aceitar, contudo, que Pokémon: Detetive Pikachu não foi criado para quem jogou os games no Game Boy. É para uma geração, pelo menos, 15 anos mais nova, que hoje em dia não veria a menor graça naqueles games de RPG com gráficos 8-bits ou 16-bits.
É para aqueles que, já com um celular em mãos, descobriu os monstrinhos por meio do sucesso de Pokémon Go, por exemplo.
Para a geração mais velha, fica a fofura de ver um Jigglypuff cantando em um karaokê decadente ou um Mr. Mime divertidamente interrogado por meio de mímicas. A doçura salva, mas não apaga uma sensação do que Pokémon: Detetive Pikachu poderia ter sido.
Para os puristas da velha guarda da franquia Pokémon, resta só aquela saudadezinha. Sim Quanto será que custa um Game Boy no MercadoLivre.com.br?
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