“Acho muito estranho quando bandas fazem o mesmo tipo de disco pela vida inteira”, diz Faris Badwan, líder do grupo que se apresenta nesta terça, 5, em São Paulo
Nesta terça, 5, faz exatamente um ano que o grupo inglês The Horrors lançou seu quarto disco de estúdio, Luminous. Neste mesmo dia, a banda sobe ao palco do Cine Joia, em São Paulo, para encarar a primeira década de carreira e o crescente amadurecimento pelo qual vem passando – que praticamente substituiu as guitarras e gritos por linhas de sintetizadores aéreas e bem trabalhadas.
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“Now my mother's dead and buried/ We found her bones everywhere/ I've seen him late at night/ Oh, no, Jack The Ripper”, berra Faris Badwan na cover “Jack The Ripper”, sombria e direta faixa de abertura do álbum de estreia dos ingleses, Strange House (2007). Em “Chasing Shadows”, primeira de Luminous (2014), a voz de Badwan – doce e sutil – só é ouvida perto do quarto minuto de música, versando sobre noite e dia, luz e escuridão, depois de emaranhados arranjos de teclado.
“É um tipo diferente de intensidade”, comenta Badwan – falando à Rolling Stone Brasil de Londres por telefone –, concordando que o Horrors ficou “menos agressivo” com o passar dos anos. “Queremos que cada disco que fazemos tenha seu tipo de intensidade e faça as pessoas sentirem algo, sabe? Acredito que você fica mais refinado a cada álbum que faz.”
Lembre como foi o show do Horrors no Cultura Inglesa Festival de 2012.
Questionado sobre este “tipo de intensidade” presente em Luminous, o vocalista afirma, tentando explicar: “Os ritmos são mais repetitivos. Talvez mais dinâmicos. Acho que Luminous tem muito de conter... Conter a liberdade e reservá-la para o momento certo. Há situações no disco em que continuamos com energia – e até, de certa forma, explosivos – mas há também construções mais lentas. Era isso que queríamos quando fizemos o álbum.”
O cabeludo Faris Badwan tinha apenas 18 anos quando ensaiou pela primeira vez ao lado de Tom Furse (teclado), Joshua Third (guitarra, teclado), Joe Spurgeon (Coffin Joe, bateria) e Rhys Webb (baixo) uma cover do Sonics, “The Witch”. “Quando você faz o primeiro álbum, você está animado por estar em uma banda, e tudo é muito novo”, conta, aos 28. “As ideias são muito instintivas, você está aprendendo a fazer música.”
Bebendo na fonte do gótico do Bauhaus, do pós-punk do The Cure e flertando com o rock de garagem, Strange House foi bem recebido à época, gerando o primeiro hit do grupo, “Sheena Is a Parasite”. Passaram-se outros dois discos – Primary Colours (2009) e Skying (2011) – e, com a chegada da idade, o Horrors foi se aperfeiçoando gradativamente, mudando com sutileza de direção e frequentemente expandindo os horizontes de experimentação.
“De certa forma, [a mudança] é uma reação ao último trabalho. Queríamos fazer diferente e explorar as ideias que achávamos interessantes”, teoriza Badwan. “Posso garantir que o próximo álbum será completamente diferente de Luminous”. “É interessante explorar as diferentes maneiras de compor. E se você se colocar em condições diferentes, você chegará a resultados diferentes.”
“Para mim, cada disco é o retrato de um tempo”, acrescenta o vocalista. “Primary Colours é o registro do Horrors em 2009 e... Tudo muda. As pessoas mudam e as coisas que elas fazem mudam, por consequência”.
“Se você faz qualquer coisa por dez anos, isso reflete no jeito que você faz essa coisa”, comenta Badwan, ainda falando sobre mudanças. “Você se pega com novas ideias toda hora, coisas que quer experimentar. Acho muito estranho quando bandas fazem o mesmo tipo de disco pela vida inteira. Para mim parece exatamente o oposto a se fazer quando se está tentando ser criativo. Sei lá...”
Se crescer é agregar e, portanto, se transformar, o Horrors parece saber muito bem o que fazer para não sentir o peso do tempo e continuar soando fresco pelos próximos dez anos ou mais. “Você sempre quer tentar fazer o ‘disco perfeito’”, diz. “Mas, ao mesmo tempo, você espera nunca conseguir chegar a esse ‘disco perfeito’ porque, do contrário, não haveria mais nada para fazer [risos].”
Sobre ser uma banda com uma década de existência, ele assume, ainda rindo: “Não sei, não me sinto assim”. “Passou rápido. Quando comecei, tinha 18 anos, então nem me lembro de como era antes. Estou em uma banda por toda minha vida, acho.”
Brasil e Boogarins
Os goianos do Boogarins parecem estar com o moral em alta entre fora do Brasil. Segundo o vocalista Faris Badwan, o próprio Horrors escolheu a banda psicodélica para abrir seu show em São Paulo. “Os vimos tocando no Austin Psych Fest, no ano passado, e achamo-los muito bons”, comenta ele. “Além disso, queremos que todos os nossos shows em clubes sejam especiais, de certa forma. Por isso, os convidamos.”
Confessando que não houve muito música brasileira – “a última banda daí que me encantou foi mesmo o Boogarins” –, Badwan promete que, desta vez, a apresentação do Horrors em São Paulo será mais “apropriada” que da última vez na cidade (no Cultura Inglesa Festival de 2012). “Era um festival, então, foi diferente”, diz. “Acho que tocar em uma casa de show vai ser mais próximo da atmosfera que gostamos para um show nosso.”
O Horrors sobe ao palco do Cine Joia, pela 36ª edição do Popload Gig, nesta terça, 5. Anteriormente, a apresentação havia sido anunciada no Beco 203, na Rua Augusta, em São Paulo. Na véspera, entretanto, a organização mudou o local do show, alegando “questões de logística”. Os ingressos custam R$ 140 (há meia-entrada).
The Horrors (com abertura do Boogarins) em São Paulo
5 de maio (terça-feira), às 22h (Boogarins às 20h30)
Cine Joia – Praça Carlos Gomes, 82, Liberdade – São Paulo (SP)
Ingressos: R$ 140 (há meia-entrada)