Músico pernambucano faz show de The Moon 1111 em São Paulo nesta sexta, 12, e no Rio de Janeiro, no próximo dia 19, antes mesmo do álbum chegar às lojas
Otto acordou em certa manhã de sonhos intranquilos e encontrou, no nascer do sol, uma nova sonoridade a ser explorada. Ainda há breu, mas os raios de luz invadem o cancioneiro de seu novo álbum, The Moon 1111 (Deckdisc), como uma alvorada avermelhada. Diferente, sorridente e entusiasmado com a safra de dez canções recém-saídas do forno, ele faz duas apresentações, na Praça Victor Civita, em São Paulo, nesta sexta, 12, e no Circo Voador (no próximo dia 19), antes mesmo do disco chegar às lojas.
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O atraso se deve à burocracias de prensagem e distribuição, mas não afeta o repertório do show, nem a aparente confiança inabalável do músico. “Não atrapalha porque são coisas do mundo novo. Você já ouviu o disco, não é?”, pergunta. Com a reposta positiva, ele dá uma breve gargalhada e continua: “É assim mesmo, meu velho. Daqui a pouco vai chegar lá”.
Se ainda não é possível ouvir o disco na íntegra, duas faixas, “Ela Falava” e “The Moon 1111”, já estão disponíveis para download no site do Natura Musical como um tira-gosto do que está por vir. Com o auxílio do edital, o disco foi gravado em três estúdios diferentes: em Nascedouro de Peixinhos (Olinda), Estúdio Fábrica (Recife) e Estúdio YB (SP).
O trabalho traz Otto acompanhado por um dream team de músicos: o guitarrista Fernando Catatau, baixos de Dengue (Nação Zumbi) e de Kassin, teclados de Donatinho e Lincoln Olivetti (que também assina os arranjos), bateria de Pupillo (também da Nação), responsável pela produção do disco, e percussionistas de Peixinhos, de Olinda (Pernambuco). É a união da psicodelia de Catatau, com as fórmulas rítmicas locais pernambucana. A atriz e também cantora Tainá Muller solta a voz em “Ela Falava”; Luê Soares faz, junto a Otto, uma homenagem ao rapper Sabotage em “Selvagens Olhos, Nego”; e Lirinha participa da mais sombria do disco, “O Que Dirá o Mundo”.
O repertório será calcado nas novas faixas do álbum ainda inédito. Oito, das dez presentes em The Moon 1111, serão executadas nos dois shows de abertura da turnê. Desta vez, Otto será acompanhado pelos guitarristas Fernando Catatau e Junior Boca, o baixista Rian Bezerra; o baterista Carranca e os percussionistas Toca Ogan, Marcos Axé e Male.
“Como tenho um período muito curto de ensaio, não devemos conseguir tocar ‘HDeus’ e ‘Miss Apple e Zé Pilantra’”, explica o músico. O álbum estava previsto para ser lançado em 11 de novembro de 2011, ou “11 do 11 do 11”, como ele gosta de falar, mas o trabalho acabou ficando para o mesmo dia e mês, mas de 2012.
Os dois números 11, em sequência, presentes no título do trabalho, formam um quarteto binário e cabalístico para Otto. “Todas as vezes em que eu estava fodido, eu olhava para o relógio e eram 11h11”, explica o pernambucano de 44 anos. Era ainda antes do lançamento do elogiado Certas Manhãs Acordei de Sonhos Intranquilos, há três ou quatro anos, Otto não lembra a data com exatidão, e ele bebia uma cerveja com um amigo em Londres. Os dois números 11 estavam lá. “Meu amigo me disse sobre um portal do 11h11 e era o mesmo que eu acreditava, novos portais se abrindo, novas percepções”, completou.
Partindo dessa ideia de renovação, Otto se deparou com outro conceito que queria trazer para a sua música, o resgate da arte que o construiu como homem, de uma forma contemporânea. Veio o nome The Moon, título de um livro que aparece de relance através da habilidosa câmera de François Truffaut no filme Fahrenheit 451, de 1966, inspirado em um livro de ficção científica de Ray Bradbury, lançado 13 anos antes.
Neste futuro apocalíptico, os livros são abominados da sociedade, queimados e destruídos. Apenas alguns homens, como o caso do protagonista Guy Montag, que ironicamente era responsável por queimar as publicações, mantinham o hábito da leitura na clandestinidade. “Esse é o futuro, bicho!”, diz Otto, em êxtase. “É isso e o futuro de O Homem Que Amava As Mulheres [de 1977, também de Truffaut], é o amor contemporâneo.”
O discurso de Otto é pouco conciso, mas é uma tentativa de dar vazão aos pensamentos que lhe chegam rápido à mente. Na sua música, em The Moon 1111, isso vem numa onda de referencias que vão da psicodelia de Pink Floyd e seu The Dark Side of the Moon à poesia popular de Donizete, com “A Noite Mais Linda do Mundo”, sucesso na voz de Odair José, num caldeirão temperado pela produção de Pupillo e com os arranjos e teclados de Lincoln Olivetti. E, neste baú aberto pelo pernambucano, ainda há espaço para The Smiths, The Clash e The Cure. “São músicas que vieram até mim. Com as quais fui muito feliz. E isso é a minha música hoje”, explica.
Nada exprime tanto essa nova fase de Otto do que “Dia Claro”, faixa que abre o novo álbum. “Hoje eu só queria um dia claro como o que passou / Momentos felizes / Momentos de amor / Um dia feliz, um dia de sol / Um dia feliz, um dia de sol”, canta o músico. A temática ainda tende à melancolia que transborda no disco anterior, mas recebe os lampejos de claridade pop. “Nessa faixa, o noivado acabou, então vai embora!”, explica Otto. O amor acabou, ainda há alguma tristeza, mas o discurso é seguir em frente.
E Otto seguiu. Calejado, deu mais um seguro e confiante passo a frente. Como músico e compositor, diz ele, na direção da eterna busca pela evolução. A noite assombrada pelos pesadelos de uma crise pessoal ficou para trás. Em Certas Manhãs Acordei de Sonhos Intranquilos, ele encontrou sucesso na escuridão, mas o dia, enfim, chegou.
Otto estreia The Moon 1111
São Paulo
12 de outubro de 2012, às 18h
Praça Victor Civita - Rua Sumidouro, 580 - Pinheiros
Preço: Entrada gratuita (capacidade para 2 mil pessoas)
Informações: (11) 3031-3689
Rio de Janeiro
19 de outubro de 2012, às 23h
Circo Voador – Rua dos Arcos, S/N – Lapa
Preço: R$ 66
Comprar: Site do Ingresso.com
Informações: (11) 2533-0354 – ramal 221