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Escolhas narrativas fazem de Operações Especiais um filme com méritos e defeitos

Longa-metragem de Tomás Portella tem como protagonista Cleo Pires

Thiago Neves Publicado em 15/10/2015, às 16h38 - Atualizado às 18h17

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O ator Thiago Martins no filme <i>Operações Especiais</i>. - Dan Behr
O ator Thiago Martins no filme <i>Operações Especiais</i>. - Dan Behr

Operações Espaciais chega aos cinemas nesta quinta, 15. O enredo do filme dirigido por Tomás Portella (Qualquer Gato Vira-Lata) gira em torno de um batalhão da Polícia Civil do Rio de Janeiro que é enviado à cidade fictícia de São Judas do Livramento, onde se depara com um cenário social controlado por milícias. Ante o desafio, é requisitado pelo comando da corporação um grupo de agentes honestos.

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A protagonista do filme é a atriz Cleo Pires, que interpreta Francis, uma recém-formada policial que decidiu entrar na instituição movida por uma espécie de dever cívico. Através da personagem, uma discussão sobre os valores éticos e princípios permeia toda a trama, que, apesar de certos méritos, se priva de explorar debates mais delicados. Não é justo dizer que Operações Especiais é inocente ante as discussões vigentes no Brasil em 2015, entretanto, o filme não é tão provocador quanto poderia ser.

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O longa toca em uma questão fundamental: a honestidade das corporações policiais, mas estaciona nesse ponto. O enredo opta por discutir o aspecto moral da violência no Brasil, ignorando elementos estruturais sobre a diária realidade nas periferias dos grandes centros urbanos.

As falhas do filme não surgem de uma negação dos problemas sobre a polícia brasileira, mas por uma má escolha na ambientação do enredo. Sob as instituições policiais não incide apenas o debate a respeito da integridade dos agentes. A instalação da CPI das milícias, em 2008, demonstrou a profundidade do problema, e ele deve ser discutido - apesar de não isoladamente. Contudo, é notória a necessidade de uma revisão completa de como age e de como se organiza o aparato policial.

Pragmaticamente, o longa problematiza pouco e acabando por pasteurizar o contínuo processo de marginalização social de parcela da população. Os policiais do filme, apesar de notadamente honestos, ainda sim agem de forma truculenta, pautam suas ações sob uma lógica militarizada, fazendo com que, aos olhos do espectador, o amplo uso de violência (inclusive a letal) se torne mais um elemento estético. Afinal trata-se de um filme de ação.

A crítica ao longa de Tomás Portella se limita ao fato de o filme ignorar, por exemplo, o alto índice de letalidade nas ações da polícia. A obra, no entanto, não comete o erro de crer que a corrupção é um processo individual. A dimensão sistêmica dos desvios de conduta é, justamente, um dos grandes desafios dos protagonistas ao longo da trama.

Deve-se destacar também que o longa consegue discutir a centralidade do debate sobre a corrupção. Questionando se os enérgicos gritos das recentes manifestações realmente compreendem a não relativização de princípios. “Há muita gente com carteira de estudante falsa protestando contra a corrupção, o que não faz o menor sentido”, resume o cineasta.

Mesmo com a ambientação na temática policial, para Portella “Não se trata de um filme que discute a polícia, mas a ética e a coerência". "A demanda por uma ‘polícia honesta’ é válida, mas também é genérica. Será que a população suportaria uma polícia 100% honesta?”, questiona o diretor.