“Tudo que posso dizer é que será muito caótico”, conta ainda o ator sobre o final da série
Em preparação para o fim de Breaking Bad, que vai ao ar nos Estados Unidos neste domingo, 29, a Rolling Stone preparou um especial com entrevistas com membros do elenco e da equipe. Leia abaixo a de Aaron Paul, o intérprete de Jesse Pinkman. Esse texto pode conter spoilers.
No primeiro episódio, Walt mata alguém. Logo fica claro que ele gosta da violência. Jesse só vai matar alguém bem depois e ele parece ficar bem mais abalado com o assassinato. Você acha que Jesse é um ser humano melhor que Walt?
Ah, certamente. Eu acho que Walt sempre teve Heisenberg dentro dele. É como aquela expressão: “O dinheiro não muda as pessoas, ele só mostra como as pessoas são de verdade". Eu acho que isso sempre fez parte de Walt.
Jesse andava com más companhias e ele estava tentando fingir que era alguém que não era. Por isso que no começo – pelo menos é isso que eu digo para mim mesmo – ele usava umas roupas malucas, calças grandes demais, camisetas, moletons. Ele estava meio que se escondendo na própria pele. E, ao longo dos anos, ele vai entendendo melhor quem é. As roupas dele começaram a ficar menores e ele começou a saber melhor qual era a dele. As roupas definitivamente ficaram mais escuras porque ele estava se sentindo em um momento negro.
Obviamente Jesse é um assassino e não é um cara muito bacana. Mas ele não queria ser assim. Ele acabou sendo forçado a essa posição. Claro que isso não é desculpa, mas eu acho que o público sabe exatamente quem ele é.
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Vince [Gilligan] e eu falamos sobre como na primeira temporada Jesse tenta arrumar um emprego de verdade. Ele estava tentando genuinamente sair do negócio da metanfetamina?
Ele obviamente não se esforçou tanto. Ele só foi atrás uma vez, sabe? E não demorou muito para que ele voltasse a ser como antes. Ele encontrou Badger usando a fantasia de dinheiro e achou melhor tentar de novo essa história de ser traficante. Na cabeça dele, estava tentando o máximo possível, mas o máximo dele não era muita coisa, naquele momento.
Quando ele saiu da reabilitação, estava desesperadamente tentando ficar sóbrio. Mas quando você é viciado, não é fácil. Não dá para simplesmente dizer “ok, vou ficar sóbrio”. Se ele escorrega, não dá para culpá-lo. E se ele continua tentando, precisa aplaudi-lo por isso.
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Dá para imaginar como teria sido a vida de Jesse se ele nunca mais tivesse se encontrado com Walt?
Sim. Na minha cabeça, eu gostaria de pensar que a vida dele teria sido muito melhor. Se eu acho que teria sido uma vida ótima? Não necessariamente.
Quer dizer, Walt arrastou Jesse pela lama nos últimos seis anos de série e agora Jesse não vai mais ser manipulado por Walt. Ele sabe que este é um homem do mal e que deve ficar o mais longe possível dele. Então quem sabe o que vai acontecer agora?
Mas sem Walt na vida dele, se eu penso que Jesse estaria feliz em um relacionamento e comprando uma segunda casa? Provavelmente não. Mas te digo já que sem Walt, Jesse não teria se tornado um assassino. Disso tenho certeza.
Eu imagino que Jesse era um aluno que tirava notas C.
Se é que tirava tudo isso.
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E o que ele realmente queria era encontrar algo no que fosse bom. Ele nunca tinha tido nada em que era bom até começar a fazer metanfetamina com o Senhor White.
Sim. E é por isso que ele diz que fazer a droga é uma arte. Ele realmente acredita que essa é uma forma de arte e Jesse é bom com as artes. Esse é apenas um dos meios. Soa ridículo, mas um dos meios dele é fabricar metanfetamina.
É óbvio que ele usa e ele gosta de usar, mas agora, conforme você sabe, ele quer ficar o mais longe possível. Tudo que posso dizer é que será muito caótico.
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Não dá para dizer que a situação de Jesse é muito parecida com a de Walt? Walt insiste que só está nessa para alimentar a família, o que é bobagem. E se Jesse realmente quisesse sair do negócio, era só fazer as malas e sair da cidade.
Essa certamente é uma boa ideia. Mas Jesse, no começo, está constantemente procurando algum tipo de aconselhamento. Ele nunca teve uma figura paterna de verdade, os pais dele desistiram dele há muito tempo e ele procura isso em Walt. No começo, Jesse não queria saber dele, mas no fim das contas, ele o respeita como um artista.
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Fiquei pensando no tipo de coisas que me deixariam satisfeito no final. Uma delas é que gostaria que Jesse matasse Todd.
[Risos] Meu Deus, eu quero tanto que Todd morra. Fico feliz que concordemos nisso. Antes de rodarmos os oito episódios finais eu costumava dizer que queria que Jesse matasse Todd e Walt. Mas aí, conforme fomos gravando, eu vi que talvez não quisesse. Pensei: “Será que Jesse quer viver com esse peso?”. Eu não sei.
Vai sentir falta de Jesse?
Sinto muita falta dele, de verdade. Nos últimos seis anos tenho respirado pela pele dele. Meu último dia de gravação de Breaking Bad foi o dia mais difícil da minha vida. Saber que nunca mais vestiria aquela pele novamente. Eu amo Jesse e só quero que ele fique bem, sabe? Mas não sei se ele ficará bem algum dia. Talvez ele não mereça isso.
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Além de sentir falta dele, fica também com uma sensação de alívio?
Sim, com certeza, porque Jesse não teve uma vida das mais fáceis. Ele passou por muito tormento e muita tristeza. E ao interpretá-lo eu passei por isso em um nível muito intenso. Um peso enorme foi tirado dos meus ombros, de certa forma. Mas é tirado aos poucos, conforme os meses vão passando. Dito isso, faria tudo de novo sem hesitar.
Você sonha com Jesse e com Breaking Bad?
Sim. Você sabe que mergulhou fundo em um personagem quando começa a pensar como se fosse ele. Começo a pensar em Badger e Skinny Pete e... é difícil dizer sem soar totalmente ridículo, mas é verdade. Quando você está no meio da temporada, em situações muito intensas, é difícil não levar isso para casa. Especialmente quando você está dormindo e não consegue controlar com o que sonha. Aí as coisas entram sorrateiramente no seu inconsciente.
Sonhei muitas vezes com Jesse sendo baleado. Sendo morto em diferentes circunstâncias. Tive vários sonhos em que Jesse morre ou é atropelado. Ou sonhos em que estou sob o efeito de drogas, como Jesse, ao lado de Badger e Skinny Pete. É ridículo, mas também é muito divertido. [Risos]
Você acredita em carma? Acredita que as pessoas sempre recebem o que merecem?
Sempre? Não necessariamente. Mas eu acho que vale mais a pena ser uma boa pessoa. Se todo mundo fosse uma boa pessoa, obviamente teríamos um mundo melhor.
Mas se todo mundo fosse uma boa pessoa, não existiria Breaking Bad.
[Risos] É verdade. Mas depois de Breaking Bad, agora todo mundo pode ser uma boa pessoa.