No filme que estreia nesta quinta, 1º, Marc Webb sacrifica uma boa história para favorecer a produção em grande escala
Tudo poderia dar certo para o diretor Marc Webb e seu novo filme da franquia O Espetacular Homem-Aranha. O segundo longa, A Ameaça de Electro, que chega aos cinemas nesta quinta, 1º, contudo, tem tanta informação reunida ao longo de duas horas e meia de projeção que peca pelo excesso, alternando momentos de ação incessante com longos e morosos dilemas existenciais do pós-adolescente Peter Parker (Andrew Garfield).
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É preciso recapitular aqui o fim do primeiro filme da nova franquia, lançado em 2012. Nele, Parker consegue derrotar o vilão Lagarto, uma anomalia gigantesca e poderosa que pretendia transformar todos os moradores de Nova York em répteis humanoides como ele. A batalha custa a vida do chefe de polícia da cidade e pai da namoradinha de Parker (Denis Leary). No leito de morte, ele pede para que o herói se afaste de Gwen Stacy (Emma Stone).
Então o herói que chega ao O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro é um sujeito dividido e angustiado, convivendo com um debate interno entre permanecer com a namorada ou manter a palavra dada ao pai e deixar a garota em paz – e, mais importante, longe de todo o perigo que namorar um super-herói dos quadrinhos representa.
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É o grande acerto de Webb e da dupla Alex Kurtzman e Roberto Orci, roteiristas que, entre outros trabalhos, escreveram o remake da franquia Star Trek ao lado de J.J. Abrams: colocar o herói para fazer sacrifício e com a mente tomada por dilemas. As grandes histórias em quadrinhos do Amigão da Vizinhança ao longo dos anos foram justamente aquelas nas quais Parker precisa amadurecer rápido demais e lidar com sacrifícios e perdas. É essa a gênese do herói, aliás, quando ele se recusa a ajudar a prender um ladrão que, logo na sequência, é responsável por tirar a vida do tio dele.
“Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”
O grande lema do tio Ben e mantra do Aranha, contudo, deveria ser levado mais à sério nesta segunda aventura do reboot do personagem nos cinemas. Criado para ser o novo capítulo de uma franquia que pode chegar a quatro produções – além dos filmes derivados já anunciados, como do grupo de vilões Sexteto Sinistro –, o longa tenta colocar muitos pingos nos is de uma vez só e patina nessa pressa desorganizada.
São várias tramas dividindo espaço e tempo na telona, mas não de forma coerente. Talvez pela fofa química entre Garfield e Emma, um casal na vida real, o relacionamento de Parker e Gwen ganha tanto destaque que, em alguns momentos, chega a parecer se tratar de uma comédia romântica indie – especialidade de Webb, aliás, diretor de 500 Dias Com Ela.
O humor também cai bem ao herói, transformando o Aranha naquilo que ele realmente é: um jovem com super-poderes que se vê jogado entre vilões, mas ainda é capaz de se divertir balançando com suas teias pelos arranha-céus que preenchem o cenário de Manhattan.
Já a fórmula de três vilões em um filme do Cabeça de Teia já havia sido testada por Sam Raimi ao final da primeira trilogia e foi considerada um fracasso. Webb tentou disfarçar, cortando o tempo na tela de Rino (Paul Giamatti), mas a pequena presença do personagem tornou-se tão descartável que, quando ele ressurge, mal conseguimos lembrar do nome dele e quais foram os motivos que o levaram a guardar tanta raiva do herói.
Electro, vivido por Jamie Foxx e que dá nome ao segundo filme, também perde espaço para o Duende Verde, versão maligna de Harry Osbourn (Dane DeHaan) que surge na segunda metade do longa para levar o caos para a vida de Parker. O fio condutor do longa é a tentativa entrelaçar os dois vilões, mas acaba por transformar Electro em um bobo com poder de absorver e disparar descargas elétricas. E toda a construção do personagem, responsável por tomar tempo considerável do início do filme, parece ser jogada no lixo.
Por fim, temos Osborn/Duende Verde. Um grande amigo de Parker, que retorna quando o pai está no leito de morte, e se prepara para assumir o cargo de chefe da poderosa Oscorp, empresa responsável, como Parker descobre neste longa, por deixá-lo órfão. A falta de química entre os amigos é tão latente que esvazia a amizade entre eles. E a pressa coloca em risco até mesmo a raiva nutrida pelo recém-transformado Duende Verde. O arquirrival do Aranha é transformado em um jovem mimado, rico e com problemas facilmente resolvidos em algumas sessões de terapia.
O final apoteótico do longa disfarça os defeitos apresentados por se apegar novamente aos sacrifícios do jovem Parker, mas a necessidade de trabalhar em grande escala, amarrando algumas tramas e deixando pontos a serem concluídos no terceiro filme da série, fazem de Webb o próprio sacrificado. E, diferentemente do que acontece com o Homem-Aranha e seus dilemas, isso não funciona tão bem como era esperado.
Assista ao trailer do filme: