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Estudo que mapeou o comportamento do cérebro após a ingestão de LSD reacende o debate sobre o uso terapêutico de alucinógenos

No futuro, poderão essas drogas estar na mesma prateleira dos antidepressivos e ansiolíticos?

Carlos Minuano Publicado em 01/09/2016, às 17h39 - Atualizado às 18h07

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A nova revolução psicodélica - Bruno Miranda
A nova revolução psicodélica - Bruno Miranda

Dá para dizer com bastante convicção: entre aqueles que fazem uso recreativo de drogas não é muito comum encarar um alucinógeno às 8h da manhã. Mas foi exatamente isso que fez um grupo de 20 pessoas em um laboratório da prestigiada Universidade de Cardiff, na capital do País de Gales. Elas se reuniram para tomar LSD – e na veia. Mais especificamente, 75 microgramas de ácido lisérgico puro. O cenário não inspirava em nada uma aventura psicodélica: portas padronizadas, paredes claras, ambiente climatizado e poucas janelas. Também nada de Cream, Soft Machine ou Pink Floyd. O único som vinha dos muitos aparelhos científicos. Afinal, os psiconautas em questão não estavam lá para uma balada matutina “diferentona”, e sim como voluntários de um estudo para mapear os efeitos do LSD no cérebro. A ideia central da pesquisa é abrir caminho para um novo tipo de terapia psiquiátrica.

As sessões com o alucinógeno foram realizadas em 2014, mas os resultados da experiência começam a ser conhecidos somente agora. Capitaneada pela Fundação Beckley em parceria com a Imperial College London e coordenada pelo neurocientista e psicólogo Robin Carhart-Harris com a colaboração de especialistas de importantes universidades mundo afora, a pesquisa vem sendo considerada uma das mais importantes dos últimos anos no ramo da psicologia. Isso porque ela parece trazer as bases necessárias para a retomada de uma estrada fechada há décadas, com a proibição do LSD e de outros psicoativos no final dos anos 1960. “Os resultados desse estudo são muito reveladores. Encontramos um aumento na comunicação entre diferentes regiões do cérebro que normalmente não se comunicam tanto”, afirma Amanda Felding, diretora da ONG Fundação Beckley e condessa de Wemyss, durante a apresentação da pesquisa na Royal Society de Londres, em abril. Segundo ela, sob o efeito do LSD e de outras substâncias semelhantes, o mecanismo de funcionamento do cérebro se torna menos rígido. “Isso pode levar à quebra de padrões de pensamento, como aqueles encontrados na depressão, no vício e no transtorno obsessivo- compulsivo”, completa.

Os desdobramentos serão muitos, prevê Amanda. “Há implicações para a neurobiologia da consciência e em potenciais aplicações de psicodélicos na pesquisa psicológica, assim como no tratamento de problemas de saúde mental.” Na prática, pode representar uma alternativa viável aos populares antidepressivos e ansiolíticos.

Não é de hoje que a condessa de Wemyss, Amanda Felding, está de olho no potencial terapêutico de substâncias psicodélicas. Há mais de 50 anos ela é uma defensora ferrenha de experiências com estados alterados de consciência. Ela conheceu o lendário “pai do LSD”, o químico suíço Albert Hofmann (1906-2008) e prometeu a ele, durante um evento em 2006, que celebrava seu centenário, que se dedicaria a pesquisar o alucinógeno.

Antes de cair na ilegalidade, vítima da famigerada “war on drugs” (“guerra às drogas”) lançada pelo então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, o LSD foi alvo de uma explosão de ânimo na medicina psiquiátrica, relata a diretora da Fundação Beckley (“Milhares de estudos clínicos e experimentais foram conduzidos [na época]”, diz).

Buscando uma droga para combater doenças circulatórias, Hofmann sintetizou, em 1943, no laboratório de farmacêutica Sandoz, em Basileia, na Suíça, o ácido lisérgico dietilamida ou LSD (sigla da droga em alemão). Diz ele que “acidentalmente” ingeriu uma pequena quantidade da droga. Os efeitos desse suposto acaso sacudiram toda uma geração.

“Os objetos e a forma de meus colegas no laboratório começaram a sofrer mudanças ópticas, a luz era tão intensa a ponto de ser desagradável com os olhos fechados, imagens fantásticas de extraordinária plasticidade e cor intensa pareciam surgir para mim. Depois de duas horas, esse estado gradualmente desapareceu e eu era capaz de comer o jantar com um bom apetite”, relatou Hofmann sobre seu primeiro encontro com a substância no livro LSD: Minha Criança Problema.

A substância apelidada por Hofmann de “criança problema” se tornou, pouco mais de duas décadas depois, um “adulto rebelde”. Escapou dos laboratórios onde foi criada, tomou as ruas dos Estados Unidos, da Inglaterra e depois do mundo todo, ganhou o apelido de ácido e tornou-se o símbolo da contracultura, que explodiu na alucinada década de 1960. Até a CIA, o serviço de inteligência norte-americano, se interessou pela substância, que acreditava ter potencial para se transformar em uma droga para controle da mente.

Mas o abuso do LSD, na esteira da onda hippie impulsionada por gurus da contracultura como o psicólogo Timothy Leary e o poeta Allen Ginsberg, acabou fechando as tais portas da percepção e confinando o LSD e outros alucinógenos nos porões da proibição. A Fundação Beckley nasceu em 1998 como uma reação à devastação global causada pela guerra às drogas. A missão a que se dedica até hoje é justamente a de reintegrar à sociedade o uso controlado de substâncias psicodélicas. “Ao longo dos anos eu comecei muitos programas de colaboração ao redor do mundo”, relata Amanda. Ela destaca a parceria com o psiquiatra britânico David Nutt, que iniciou em 2005 um estudo de imagem cerebral dos efeitos da planta Cannabis sativa, que dá origem à maconha. Em 2009, o psiquiatra passou a trabalhar na Imperial College e começou o programa que ganhou o nome Pesquisa Beckley/Imperial. O estudo inicial foi com psilocibina, substância presente em alguns tipos de cogumelos. Os resultados apontaram potencial terapêutico para tratamento de depressão.

Segundo Amanda, a aprovação para esse estudo com psilocibina foi concedida sem muitos entraves porque, ao contrário do LSD, poucos sabiam do que se tratava a substância assim, ela não trazia na bagagem a imagem negativa atribuída ao ácido lisérgico. Com o advento da tecnologia de imagem cerebral, e com base nesses estudos preliminares, Amanda percebeu que poderia correlacionar as experiências subjetivas dos estados alterados de consciência provocados por outras substâncias psicodélicas.

Em 2014, após a esperada autorização para o estudo com LSD ser enfim concedida, a pesquisa foi colocada em prática. O grupo de 20 voluntários saudáveis foi selecionado em um esquema de divulgação “boca a boca”, segundo Anna Ermakova, neurocientista e diretora científica da Fundação Beckley.

Para embarcar na viagem de laboratório, os voluntários precisaram atender a alguns pré-requisitos, como idade acima de 21 anos, não ter história pessoal ou familiar de doenças psicóticas nem problemas com drogas e, por fim, já possuir alguma experiência com alucinógenos. “A decisão de incluir apenas voluntários experientes foi motivada por uma questão de segurança para minimizar o risco de um efeito adverso”, argumenta Anna. Um desses possíveis efeitos adversos seria a droga funcionar como gatilho para o surgimento de problemas psiquiátricos no caso de pacientes com predisposição.

Durante as sessões com o uso de LSD para o estudo, o grupo ficou sozinho em uma sala do centro de neurociências da Universidade de Cardi . Os voluntários poderiam se comunicar por meio de microfone e um fone de ouvido com os pesquisadores, que observavam e monitoravam toda a experiência em uma sala ao lado.

Para a maioria, o efeito do alucinógeno chegou logo – “Entre cinco e 15 minutos [depois da administração]”, relata Anna. Após a primeira hora, pesquisadores começaram o mapeamento cerebral da experiência por meio de ressonância magnética e eletroencefalografia. Os efeitos geralmente demoravam de sete a oito horas para cessar.

“Apesar da dose relativamente pequena, todos os participantes relataram alucinações visuais e mudanças na consciência”, descreve a diretora da Fundação Beckley. “O mais forte foram as experiências visuais e audiovisuais, além de um estado de felicidade.” Uma pessoa teve que ser retirada do estudo por ter desenvolvido episódios de ansiedade e outros participantes passaram por algumas turbulências comuns quando se faz uso de alucinógenos, como pensamento confuso ou paranoia. Entretanto, a maior parte do grupo teve experiências positivas, de acordo com a pesquisadora. Anna também destacou uma melhora no estado psicológico geral de alguns participantes duas semanas após a sessão com LSD.

Na ocasião da divulgação da pesquisa, em Londres, Robin Carhart-Harris, que conduziu os trabalhos, disse que as drogas psicodélicas “são uma importante ferramenta para desvendar a natureza da consciência humana”. Mas, apesar dos caminhos positivos indicados pelo estudo britânico, o uso dessas substâncias de maneira inadvertida pode ocasionar uma série de problemas. Além de ilegais, ainda não é possível prever quando uma pessoa poderá ter um episódio psicótico engatilhado por uma dessas drogas, por exemplo.

Explicando de maneira sucinta, o cérebro é organizado em uma série de redes distintas e parcialmente segregadas, como a visual, de raciocínio, auditiva e olfativa, que se conectam eventualmente. Por exemplo: você ouve a voz de uma pessoa conhecida, logo imagina o rosto dela. As duas redes se conectaram.

O LSD, tal como outras substâncias psicodélicas, tem a capacidade de desorganizar temporariamente essa estrutura. A explicação é do neurocientista brasileiro Eduardo Schenberg, que integrou a equipe de 26 pesquisadores que realizaram o estudo britânico com ácido lisérgico, também publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. “Por isso ocorrem as visões alteradas com imagens bem diferentes das que estamos habituados a ver em nossa realidade ordinária”, relata. O que para a grande maioria pode parecer apenas uma alucinação, para o pesquisador indica uma desorganização que permite um fluxo de informação maior e mais livre entre as redes cerebrais.

Os alucinógenos permitem algo conhecido entre especialistas como “cross-talk” (“conversa cruzada”). “Áreas do cérebro que não estavam se comunicando passam a se comunicar por um tempo. E para alguns tratamentos, como o de transtorno do estresse pós-traumático, isso pode ser incrível”, argumenta o pesquisador.

“Você toma consciência de mais coisas que estão acontecendo em sua mente e em seu cérebro”, continua Schenberg. Ele compara a experiência ao funcionamento de um rádio. “O aparelho possui uma antena que capta uma faixa muito ampla de frequência, em que há uma infinidade de estações; se seu rádio estiver bom, você ouve uma só de cada vez.” Com os psicodélicos, é como se você passasse a escutar várias rádios ao mesmo tempo. “Essas substâncias dão uma desorientada temporária, de cinco a dez horas, que permite ao paciente pensar e sentir de novas formas a si mesmo e suas relações.” Se por um lado isso gera confusão, por outro traz à tona novas possibilidades terapêuticas, defende o pesquisador.

Além do TEPT, tais substâncias poderiam dar início a novos tipos de tratamento de doenças como depressão, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), e de dependência química de drogas como álcool, cigarro, cocaína e heroína, porque todos esses problemas têm em comum certos padrões de pensamento repetitivo. “O deprimido tem uma negatividade recorrente da qual não consegue sair, o viciado tem a repetição de questões psicológicas que busca resolver compulsivamente com a droga, o compulsivo- obsessivo tem comportamentos repetitivos que estão associados a padrões de pensamentos repetidos”, explica Schenberg. Essas terapias, no entanto, só podem vir à tona se o investimento em novos estudos não cessar. Além disso, o uso indiscriminado do LSD e de outras substâncias – que adquiridas no tráfico não têm certificado de composição ou origem – pode trazer mais problemas do que benefícios. A ideia é que, caso venham a se tornar viáveis, os tratamentos sejam feitos de forma guiada, com psicoterapeutas que entendam o efeito dessas substâncias e acompanhamento antes e depois do uso.

Schenberg também ressalta que a substância não traz a cura por si só. O que ela gera é um estado cerebral temporário, que é acompanhado de um estado psicológico e emocional, também temporário, e que precisa ser trabalhado com a ajuda de profissionais. “Se o paciente não tiver um apoio psicológico, ele pode se assustar muito com os efeitos, e se for uma pessoa com algum trauma pode até agravar o problema.”

Nos estados unidos, outra substância controversa está prestes a se tornar usada em determinadas terapias: o MDMA, princípio ativo do ecstasy. A “droga do amor”, símbolo de uma segunda onda psicodélica, se popularizou com o surgimento das raves e da cena eletrônica. Mas “MDMA não é ecstasy”, frisa o californiano Brad Burge, diretor de comunicação da ONG Maps (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies, sigla em inglês para Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos). Ecstasy é o nome do comprimido que circula ilegalmente, que supostamente tem a substância em sua composição. No entanto, um número enorme das pílulas comercializadas no tráfico é formado por um coquetel de outras drogas tóxicas e perigosas.

A Maps, que há 30 anos se dedica à pesquisa com psicodélicos, sustentada por doadores, está à frente de estudos avançados de psicoterapia assistida com MDMA, que apresentam um indíce elevado de bons resultados em pacientes com transtorno de estresse pós-traumático que não obtiveram melhoras com outros tratamentos. Segundo a revista Nature, 83% dos que receberam o tratamento com MDMA apresentaram grande melhora ou se curaram.

“Nos estudos realizados pela Maps nos Estados Unidos, Canadá, Israel e Suíça, o MDMA é administrado apenas algumas vezes, ao contrário da maioria dos medicamentos para doenças mentais, que muitas vezes são tomados diariamente por anos, e às vezes até o fim da vida”, ressalta Brad Burge. As sessões de psicoterapia assistida com MDMA, que variam entre duas e cinco, com duração de seis a oito horas, são alternadas com psicoterapia padrão, em um tratamento que dura dez semanas. “Os sintomas são medidos antes do início desse período, após a segunda sessão de MDMA e depois de 12 meses”, detalha.

Uma das pacientes atendidas na psicoterapia com MDMA da Maps foi a norte-americana Elizabeth Matthews, caçula de oito irmãos e marcada por uma infância pobre e difícil, em um bairro violento. “Muitas vezes casas eram incendiadas, e sons de gritos e vidros quebrando eram constantes durante a noite”, ela relatou em 2014, em artigo publicado pela Maps. Elizabeth também foi vítima de abuso sexual, algo que não revelava quando buscava ajuda. “Você tenta esconder de si mesmo. A culpa e a vergonha permaneceram ocultas por décadas.” Anos mais tarde, apesar de uma vida aparentemente equilibrada na Califórnia, casada e formada como terapeuta junguiana, ela se sentia infeliz. Dos 35 aos 55 anos, pulou de terapia em terapia. Tomou antidepressivos por 15 anos e quando a ansiedade era incontrolável apelava para os ansiolíticos. Mas ela garante que a medicação não foi a primeira escolha para gerenciar seus sintomas de trauma. Tentou acupuntura, reiki, retiros, aulas de pilates, ioga e meditação. “Eu precisava de ajuda”, contou. “E os métodos tradicionais estavam ajudando, mas não curavam.”

Elizabeth diz que foi a psicoterapia psicodélica assistida que mudou essa dinâmica. “O MDMA me permitiu falar a verdade da minha experiência”, declarou. Em geral, os pacientes da terapia realizada pela Maps relatam mais ou menos o mesmo: algum progresso, nenhum efeito colateral duradouro e uma melhora permanente. A ONG segue testando a substância em grupos nos Estados Unidos, Canadá, Suíça e Israel e deve apoiar o primeiro estudo clínico com MDMA no Brasil, financiado por crowdfunding. Os dados das pesquisas já realizadas devem ser analisados pela FDA (Food and Drug Administration), segundo Brad Burge.

Em 2017, a terceira fase das pesquisas psi deve incluir um estudo internacional, com centenas de pacientes em vários países do mundo, inclusive o Brasil. De acordo com Burge, deve ser a última etapa antes de liberação da terapia com MDMA, prevista para 2021. E a ONG já faz planos para um futuro um pouco mais à frente. “Depois disso, a Maps será capaz de desenvolver a investigação sobre os usos terapêuticos de outras substâncias, como o LSD, a ayahuasca, a ibogaína e outros usos de MDMA no tratamento de doenças mentais.”

Apesar do sucesso das experiências da Maps, o psiquiatra Felipe Corchs, do IPQ (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas (São Paulo), adverte para possíveis problemas no uso terapêutico de MDMA. O especialista destaca o risco de hipertermia e toxicidade com possibilidade de lesão para o sistema setor enérgico, responsável pela produção da serotonina, chamada vulgarmente de “hormônio do bem-estar”. “Outros efeitos não conhecidos podem existir, mas para isso é preciso fazer investigações científicas”, diz Corchs.

Um ponto destacado pelo psiquiatra é a grande dificuldade para a realização de pesquisas sobre transtorno de estresse pós-traumático no Brasil. A falta de informação piora a situação, tanto da população quanto de profissionais, especialmente os de fora da saúde mental. “As pessoas raramente consideram essa hipótese diagnóstica e não procuram ajuda quando passam por isso.” Segundo Corchs, é comum não serem relatados pelos pacientes os eventos traumáticos, mas apenas os sintomas, o que prejudica a orientação do tratamento.

O médico também chama atenção para outros tratamentos que, segundo ele, podem ser mais benéficos que o MDMA, mas que enfrentam resistência até mesmo por parte dos profissionais da área. “Curiosamente, muitos dos que enaltecem fervorosamente o benefício do uso e de estudos com MDMA condenam pesquisas envolvendo outras técnicas, como a eletroconvulsoterapia (ECT).” Para o médico, é importante não generalizar ou condenar essas pesquisas por motivos mais morais ou ideológicos que científicos. “Na verdade, a ECT tem muito mais evidências de segurança e eficácia que o MDMA, e não é aversiva ou desumana como muitos acreditam.”

Mesmo assim, o médico reconhece que ainda não há estudos suficientes para entender o potencial terapêutico do LSD, MDMA e de outros psicodélicos. “Só a partir dessas pesquisas saberemos se existem ou não doses e posologias seguras.”

Em território Nacional

Brasil se prepara para realizar primeiro estudo com MDMA

O primeiro estudo clínico no Brasil com MDMA deve começar ainda em 2016. Será em pequena escala, com quatro pessoas, conduzido pelo neurocientista Eduardo Schenberg. Sem financiamento, o pesquisador teve de captar recursos para a pesquisa (cerca de R$ 50 mil) por meio de uma campanha de financiamento coletivo. A ONG norte-americana Maps vai apoiar o estudo ajudando na formação dos terapeutas, processo que ocorrerá na Califórnia, para onde o neurocientista segue na segunda quinzena de setembro. “Faremos um curso teórico e depois sessões com MDMA”, diz Schenberg. A Maps também injetará R$ 15 mil na pesquisa e fornecerá a substância. No momento, Schenberg tenta atravessar as muitas etapas burocráticas envolvidas em um estudo como esse. “Estamos juntando documentos para peticionar à Anvisa a licença de importação do MDMA.” Para estudar os efeitos de substâncias psicoativas, Schenberg fundou em 2011 a OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Plantando Consciência, que além da atual pesquisa com MDMA já participou e financiou estudos com ibogaína, LSD e ayahuasca. A partir de julho, o cientista ministra ainda um curso online sobre a história dos psicodélicos, com aulas semanais que seguem até setembro.

Efeitos Opostos

Uso recreativo de psicodélicos não tem nada a ver com terapia

Pode ser que no futuro você consiga sair de um consultório com uma prescrição de tratamento com LSD ou MDMA. Mas, atualmente, fazer isso na balada não vai resolver nenhum problema. É importante não confundir o uso recreativo de substâncias psicodélicas com a terapia psicodélica. “A diferença começa pela intenção do uso: um mira na diversão, o outro busca solução para casos que a ciência até então não conseguiu solucionar”, diz o psiquiatra Wilson Gonzaga. Especialista em dependência química, o médico afirma que psicodélicos podem gerar vício. “O LSD dependência psicológica e o ecstasy é capaz de causar dependência física.” Há ainda o fator genético e social. Uma pessoa saudável pode passar por uma experiência alucinógena sem problemas, mas se já tiver alguma fragilidade emocional ou uma psicose esperando para eclodir, uma pequena dosagem pode desencadear um surto. Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo, em geral drogas como LSD, MDMA, psilocibina (cogumelos) e mescalina (peiote) oferecem riscos menores do que grandes quantidades de álcool – ainda assim, essas substâncias também podem resultar em uma overdose. Para ele, a principal causa disso está no mercado ilegal. “Por se tratarem de substâncias provenientes do tráfico, têm misturas que podem levar a efeitos desastrosos e até à morte.”