Ao contrário do que a cantora sugeriu, organização não defende troca ilegal de arquivos, segundo comunicado
A Featured Artists Coalition (FAC), que se propõe a proteger os direitos autorais de artistas, mandou um recado a Lily Allen: a coligação não é favorável à troca ilegal de arquivos.
A cantora britânica, que se apresentou no Brasil na semana passada, censurou na mesma época os colegas "ricos e bem-sucedidos" Ed O'Brien (Radiohead) e Nick Mason (Pink Floyd), que teriam postura conivente à pirataria. Em seu blog do MySpace, Allen convocou outros músicos a espalhar a seguinte mensagem: "Troca de arquivos não é legal". Recebeu, de imediato, apoio de Mika e Gary Barlow (Take That), entre outros.
Para defender sua causa, criou, inclusive, o blog I Don't Want To Change the World ("eu não quero mudar o mundo").
O guitarrista O'Brien, de fato, criticou plano do governo britânico que prevê, entre série de punições, o corte do acesso à internet àqueles que ferirem os direitos autorais de artistas. Medida similar está a um passo de ser aprovada na França.
Mas a FAC esclareceu, em post publicado nesta segunda, 21, no site da organização, que também não apoia o compartilhamento gratuito de arquivos. "Declarações feitas em oposição a essa ideia [de que a conexão deve ser cortada] deram a entender que nós endossamos a troca ilícita de arquivos. Esse não é o caso e nunca foi", diz a nota assinada coletivamente. "O trabalho criativo do artista deve ser pago por aqueles que o aproveitam. Sempre que nossa música for usada, royalties devem ser pagos."
O que artistas como Allen não pescaram é o seguinte: O'Brien, Mason e outros integrantes da FAC só não estão certos de que a postura governamental é a mais sábia.
A artilharia se volta contra "sites que tiram benefício comercial do compartilhamento de dados: procurando fazer dinheiro ao liberar nossa música de graça". Típico caso que não recebe endosso da FAC. "Queremos que a indústria e o governo caiam em cima desses patifes ladrões com todo o peso da lei."
Mas fãs que baixem algumas faixas para "checar nosso material" não estão na mira da organização. Recriminá-los - e, por fim, criminalizá-los também - poderia, inclusive, inibir o crescimento do mercado. "Para aqueles de nós que não são tocados nas rádios ou mencionados pela mídia musical - tanto artistas estabilizados como emergentes -, troca de arquivos é uma importante forma de promoção."
Como exemplo, a nota cita Speech Debelle (vencedora do Mercury Prize 2009), White Lies e Little Boots.
"O potencial para autopromoção será severamente prejudicado se todos os pacotes de [bits] '1 e 0' enviados por meio da internet tiverem que ser vasculhados pelo governo, à caça de material 'não-autorizado'", continua a nota.
Os integrantes da FAC também acreditam que as liberdades civis serão sacrificadas pela varredura virtual proposta pelas autoridades britânicas. Suspender contas, por exemplo, só é algo que pode ser feito "por meio de uma invasão em grande escala da privacidade pessoal. (...) Acreditamos que isso seria tanto desproporcional quanto inexequível".
O governo, contudo, não é visto apenas como vilão da história, e pode inclusive ajudar a "indústria fonográfica a fazer a transição do analógico ao digital".
Segundo o comunicado, a FAC foi criada, no começo deste ano, justamente para que artistas fizessem parte da discussão acerca dos direitos autorais, em vez de testemunhar posicionamentos - contra ou a favor da pirataria - à revelia de suas opiniões.