Cineasta de Laranja Mecânica, morto há dez anos, desistiu de rodar Aryan Papers por conta do lançamento de A Lista de Schindler
A família de Stanley Kubrick está fazendo algumas ligações para estúdios de Hollywood. A intenção: tocar um filme incompleto do cineasta, morto em 1999. As filmagens de Aryan Papers ("papéis arianos"), centrado no Holocausto, deveriam começar no princípio dos anos 90, na República Tcheca. Mas Kubrick optou por paralisar a produção ao descobriu que o colega Steven Spielberg estava prestes um filme de temática semelhante, A Lista de Schindler (1993).
Com a morte do diretor, foram-se junto os planos de levar ao cinema a história de uma judia da Polônia e seu sobrinho. No roteiro de Kubrick, os dois se passam por católicos para tentar escapar da perseguição nazista durante a Segunda Guerra. Agora, Jan Harlan, irmão da viúva, quer recuperar o roteiro engavetado, informou o jornal britânico The Times.
Foram só 13 filmes em meio século de carreira, incluindo De Olhos Bem Fechados, lançado após a morte do cineasta (fica de fora A.I. - Inteligência Artificial, idealizado por ele e dirigido por Steven Spielberg). Qualidade superou quantidade: a maioria conquistou lugar de destaque na filmografia do século 20, como Laranja Mecânica, 2001 - Uma Odisseia no Espaço e Lolita.
Harlan foi produtor executivo de várias obras do diretor, como O Iluminado e Nascido Para Matar, além de ter dirigido o documentário Stanley Kubrick: A Life In Pictures, de 2001.
No começo da década passada, Kubrick e Warner Brothers concordaram em adiar Aryan Papers - o público, afinal, poderia rejeitar nova produção sobre o Holocausto, tão pouco tempo depois de A Lista de Schindler. "Lamento que a produção nunca tenha chegado a ser feita, mas foi uma decisão tomada por Kubrick e Warner; provavelmente, muito sabiamente na época", disse Harlan, durante o Festival de Edimburgo, esta semana. O evento da Escócia comporta a instalação Unfolding the Aryan Papers, com participação de Johanna der Steege, atriz holandesa escalada para o papel principal do filme. A instalação foi idealizada na Universidade de Artes de Londres, por Jane & Louise Wilson, pouco após a família de Kubrick doar documentos relativos a Aryan Papers, em 2007.
Os direitos do filme - que se baseia no romance Wartime Lies, de Louis Begley - continuam nas mãos do estúdio.
De acordo com o Times, Harlan gostaria de alguém como Ang Lee (O Tigre e o Dragão, O Segredo de Brokeback Mountain) para levar adiante o projeto do cunhado. A Warner, por sua vez, não confirmou planos para ressuscitar a produção.
Outro projeto que Kubrick teria largado no meio do caminho envolve cinebiografia de Napoleão Bonaporte.