Ao longo das décadas, a percepção da sociedade sobre o planeta vermelho mudou - e isso é refletido na cultura pop
Um planeta vermelho, árido, quente e repleto de homens verdes, com antenas e aparência peculiar… Aposto que você já ouviu essa história. A cultura pop nos apresentou a uma mitologia sobre Marte que até hoje está presente nas imaginações e fantasias sobre o planeta e os (possíveis) habitantes.
+++LEIA MAIS: Tudo o que já sabemos sobre o filme gravado no espaço de Elon Musk e Tom Cruise
Há muito tempo, a humanidade é fascinada por Marte - e esse deslumbramento está em contínua evolução e resgate. Não é à toa como os estudos sobre o planeta e as sondas continuam em desenvolvimento e em teste - e um exemplo é a Missão Mars.
De acordo com o UOL, o projeto de 2020 da NASA enviou o veículo Perseverance e um mini-helicóptero para analisar a superfície do planeta no dia 20 de julho. Para a alegria de cientistas e dos admiradores e fãs do planeta, a missão espacial deve chegar ao solo marciano em 18 de fevereiro de 2021.
Na vida real, a história de Marte é um pouco mais monótona do que na ficção. As pesquisas e missões recentes estão muito ultrapassadas secomparadas às histórias de marcianos invadindo a terra e exterminando a humanidade.
+++LEIA MAIS: Uma pedra em Marte foi nomeada em homenagem aos Rolling Stones
Atualmente, robôs vasculham o solo do planeta em busca de algum indício de que já houve vida inteligente por lá. Enquanto isso, obras de ficção sobre o planeta exploram a imaginação e a expectativa (muitas vezes negativa) de grandes contatos entre aliens e a civilização.
Apesar das narrativas de marcianos malvados, horripilantes e arqui-inimigos dos seres humanos, a cultura pop também nos deu o prazer do questionamento. Cada história apresenta o planeta vermelho e os habitantes dele das mais diversas formas: de personagens curiosos, heróis e popstars aos vilões malvados.
Além disso, o planeta é diversas vezes retratado como a única possibilidade futura de sobrevivência dos seres-humanos, que colonizariam Marte depois da destruição da Terra.
Para compreendermos como Marte está representado no imaginário e na ficção da população, expusemos como o Planeta distante e os aliens são enxergados e interpretados pela cultura pop - tudo isso em uma linha cronológica em cada tipo de mídia.
A existência de vida fora da Terra é algo em constante discussão. No entanto, a figura do alien não é relacionada apenas ao planeta vermelho.
+++LEIA MAIS: John Lennon afirma ter sido visitado por alienígenas… duas vezes
Apesar de, muitas vezes, os extraterrestres serem apresentados como uma ameaça, não é sempre assim. Grandes sucessos das telonas transformaram o alienígena em um reflexo dos medos dos próprios humanos, além de uma figura amistosa com uma mensagem de paz.
Um exemplo é o famoso Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), de Steven Spielberg, que apresenta ao público o encontro bem-sucedido entre humanos e extraterrestres. A produção recebeu indicações ao Oscar, Globo de Ouro e diversos outros prêmios - uma amostra de como uma bela história de harmonia entre aliens e seres humanos também alcança popularidade.
Outro exemplo icônico de equilíbrio entre os habitantes da Terra e os alienígenas éE.T o Extraterrestre (1982). Não é coincidência a direção de Steven Spielberg nas duas produções: o cineasta sempre foi fascinado por ufologia, e por meio dos longas conseguiu mostrar ao mundo uma forma única de se pensar narrativas de ficção científica.
+++LEIA MAIS: Como estão os atores mirins de E.T o Extraterrestre?
E.T.: O Extraterrestre é considerado por muitos o maior filme de sci-fi já feito. Sobre um menino que faz amizade com um alienígena, o longa foi indicado a nove estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme.
A figura amistosa do alienígena, contudo, não é sempre apresentada na ficção científica - principalmente quando o assunto é, especificamente, os marcianos.
Há muito tempo, o planeta vermelho instiga astrônomos, autores e curiosos. Ao longo de séculos, obras formaram e modificaram o imaginário popular sobre Marte. Uma das principais obras já escritas foi A Guerra dos Mundos, de Herbert George Wells.
+++ LEIA MAIS: Marinha dos EUA afirma que vídeos sobre OVNIs de Tom DeLonge são reais
A história sobre marcianos inteligentes invadindo a terra e carbonizando os habitantes do planeta fez sucesso - e um adaptação realizada em 1938 mostrou o quanto, de fato, a ficção científica gera medo na população.
No dia 30 de outubro de 1930, foi transmitida na rádio CBS uma suposta invasão alienígena. Como explicou o Observatório da Imprensa, tratava-se de um programa semanal no qual a obra A Guerra dos Mundos era dramatizada em forma de programa jornalístico pelo jovem Orson Wells. Apesar de a introdução do programa explicar a natureza fictícia da história, muitas pessoas sintonizaram mais tarde - e o pânico se instaurou.
Impactadas pelo realismo, milhares de pessoas acreditaram que a invasão estava, de fato, sendo transmitida na rádio. Por isso, houve aglomeração nas ruas, congestionamento e caos. Cerca de três cidades foram paralisadas pelo tumulto. O Diário de Notícias falou sobre a confusão: “A emissão radiofônica mostrou-se capaz de relançar medos viscerais dos seres humanos, a ponto de se transformar num fenômeno global de inquietação, pânico... e, diríamos agora, agitação mediática”.
Percebe-se, assim, a transformação de Marte, no imaginário popular, em uma forma simbólica dos próprios humanos questionarem as atitudes e expressarem medo diante de algo desconhecido - mas também o pavor relacionado aos avanços tecnológicos que estavam batendo à porta.
A figura dos marcianos foi explorada por inúmeros desenhos animados infantis entre a década de 1940 e 1960. Um exemplo é o vilão Marvin, o Marciano, dos Looney Tunes. O personagem é um dos mais quietos e usa uma armadura que remete ao deus romano da guerra Marte. Na animação, Marvin tentou destruir a Terra diversas vezes com o dispositivo “Illudium Q-36 Explosive Espaço modulador", contudo, Pernalonga frustrou constantemente os planos do antagonista.
+++LEIA MAIS: 80 anos de Pernalonga: O melhores momentos década a década
Pica-Pau também tem diversas referências ao planeta vermelho e à figura do disco voador e extraterrestres em capítulos como “Um Pica Pau de Marte", “Viagem a Marte" e “Cupins de Marte". O último faz uma sátira aos marcianos durante à Terra - todos na forma de cupins verdes com antenas e espaçonaves.
No mundo das HQs, foi na década de 1950 que John Jones (Caçador de Marte), super-herói da DC, foi introduzido ao enredo da história "The Strange Experiment of Dr. Erdel" em Detective Comics #225. No entanto, o personagem não era um vilão.
O marciano - também verde - tem habilidades incríveis, como invisibilidade, telepatia, transformismo, super força, velocidade e inteligência. Pelo desejo de lutar contra o crime em Gotham City, John Jones foi um dos fundadores da famosa Liga da Justiça.
Outra HQ que se conecta com o planeta vermelho é Watchmen, publicada pela DC Comics entre 1986 e 1987. A história conta com Doutor Manhattan, alter ego de Jonathan Osterman. Ele foi trancado acidentalmente em uma câmara de testes durante um experimento nuclear e foi desintegrado - mas o acidente deu a ele diversos poderes.
Manhattan tem habilidades como reconstrução molecular, projeção de campos de força, teletransporte, ver diferentes períodos no tempo e outras. No entanto, segundo o site Legião dos Heróis, ele vive uma grande crise existencial e passa um tempo refletindo em Marte. No local ele compreende melhor os poderes dele.
A HQ Watchmen fez tanto sucesso que foi adaptada para os cinemas e, mais recentemente, para uma série da HBO. Inclusive, a produção recebeu 26 indicações para o Emmy de 2020, sendo uma das favoritas como grande vencedora da premiação.
+++ LEIA MAIS: Por que Watchmen não deve ganhar uma segunda temporada na HBO?
Nas produções cinematográficas, há diversas obras icônicas que apresentam todas as facetas da imaginação humana sobre Marte.
Ao longo das décadas, como indicou o Diário de Notícias, o planeta vermelho foi representado das mais diversas formas. Invasores de Marte, de 1953, mostra os alienígenas com planos de sabotar a construção de um foguete nuclear. O diretor William Cameron Menzies fez a história ser narrada a partir da perspectiva de uma criança - uma inovação para a época. No entanto, o baixo orçamento prejudicou a aparência dos marcianos.
Na década de 1960, auge da corrida espacial entre União Soviética e Estados Unidos, houve um aumento das produções de ficção científica que envolviam o espaço e alienígenas
Um dos mais icônicos longas certamente foi 2001: Uma Odisseia no Espaço. Apesar de não representar a vida fora da terra como alienígenas humanoides - muito menos como figuras amigáveis - o diretor Stanley Kubrick optou por “sugerir uma superinteligência extraterrestre”.
+++LEIA MAIS: Laranja Mecânica: Malcolm McDowell diz que foi ‘brutal’ trabalhar com Stanley Kubrick
Em entrevista à Playboy, o cineasta disse que os alienígenas teriam evoluído de seres biológicos para "entidades máquinas imortais", e depois para "seres de pura energia e espírito com capacidades ilimitadas e inteligência indomável".
Quando se trata do planeta vermelho, a década de 1960 também trouxe contribuições cinematográficas para o imaginário popular. Em 1964, Robinson Crusoe em Marte foi lançado como uma história sobre astronautas cuja missão no planeta dá errado, necessitando acharem meios para sobreviver e fugir de uma raça de alienígenas. O filme é baseado no livro de Daniel Defoe chamado Robinson Crusoe.
O cinema trash, feito com baixo orçamento e qualidade inferior, também retratou o planeta vermelho. Papai Noel Conquista os Marcianos, de 1964, é um clássico exemplo. Considerado um dos piores filmes já feitos sobre o Natal, o longa bizarro segue a jornada de extraterrestres após os mesmos capturarem o Papai Noel para levá-lo à Marte com o objetivo de fabricar brinquedos.
Pulando para a década de 1990, O Vingador do Futuro, estrelado por Arnold Schwarzenegger, trouxe às telonas um trabalhador que se vê envolvido em um esquema de espionagem em Marte. Além disso, o protagonista fica confuso em determinar se os acontecimentos são reais ou consequência de implantes de memória.
+++LEIA MAIS: 4 filmes de Arnold Schwarzenegger que são genuinamente bons
O filme mostra uma tecnologia muito avançada, com os seres humanos colonizando, usando robôs, implantes e utilizando hologramas. Indicado a diversos prêmios, o longa ganhou destaque pelos efeitos visuais, inclusive recebendo a estatueta de Melhores Efeitos Visuais do Oscar.
Outra produção que merece destaque é Marte Ataca! (1996). Dirigido por Tim Burton, o filme une comédia e ficção científica, fazendo uso do ridículo para criticar a própria sociedade norte-americana.
Em cada personagem, Burton brincou com os estereótipos de Hollywood e dos Estados Unidos. No filme, os marcianos dizem que estão em missão de paz, mas quando um hippie joga uma pomba branca no céu, os extraterrestres matam a ave e, assim começa a aventura repleta de alienígenas de aparência verde e grotesca.
O longa foi feito com baixo orçamento e intencionalmente tosco, mas tinha grandes nomes de Hollywood no elenco, como Jack Nicholson, Glenn Close, Pierce Brosnan, Danny DeVito, Natalie Portman e Jack Black. Como indica a descrição do site AdoroCinema, “os marcianos invadem nosso planeta, matando e destruindo tudo no caminho, pois acham bem divertido e querem transformar a Terra em um ‘parque de diversões’".
Com o avanço das tecnologias e estudos sobre Marte, a perspectiva dos filmes de ficção científica mudou. No cinema, o planeta vermelho ainda é uma incógnita em relação aos habitantes e ambiente, mas os humanos não são mais inocentes que deixam a Terra ser invadida pelos aliens.
Agora, os terráqueos também participam de uma odisseia na qual, na tentativa de chegar até o planeta vermelho, os planos dão errado e os personagens precisam encontrar meios de sobreviver. Um exemplo é Missão: Marte, de 2000. O filme foi dirigido por Brian De Palma e acompanha a “primeira missão” ao planeta - que dá errado quando alguns tripulantes são aparentemente mortos enquanto outro fica preso e incomunicável.
Em Planeta Vermelho, também de 2000, os humanos percebem a destruição que causam ao Planeta Terra e buscam colonizar Marte como única forma de sobrevivência.
Outro filme que apresenta os avanços da tecnologia e as mudanças de percepção sobre o planeta vermelho é Perdido em Marte. Dirigido por Ridley Scott e estrelado por Matt Damon, o longa conta a história de um astronauta enviado para o planeta em missão. Após uma tempestade, acreditam que ele está morto e o abandonam. Assim, ele precisa se virar para sobreviver e voltar à Terra.
+++LEIA MAIS: Ridley Scott revela plano para novo Alien: ‘Qual era o propósito dos ovos?’
Perdido em Marte recebeu muitas críticas positivas e diversas indicações ao Oscar e Globo de Ouro - e representa uma era cinematográfica com efeitos visuais avançados e novas perspectivas sobre Marte.
Na cultura pop, o planeta vermelho não aparece apenas em séries, HQs e filmes, mas também na música. Por isso, é impossível falar de Marte e não citar David Bowie, artista britânico revolucionário e considerado um dos músicos mais influentes até a atualidade.
Além de trazer nas letras das canções o fascínio pelo espaço, o cantor lendário tinhadiversos alter egos, e um deles tinha uma conexão direta com o planeta vermelho. Ziggy Stardust é a personalidade do artista que surgiu com o disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972).
Segundo o cantor, Stardust seria uma personagem andrógina que não sabe se é da Terra ou de Marte. Uma espécie de mensageiro de extraterrestres, o alter ego encontrou o rock - e foi um dos personagens responsáveis pela percepção das diversas facetas e habilidades de Bowie.
Além disso, pouco antes de mergulhar completamente na figura do alienígena Ziggy Stardust, o britânico lançou o single “Life on Mars?”, do álbum Hunky Dory (1971), até hoje uma das canções mais celebradas da discografia do artista - e um exemplo da admiração do artista sobre o espaço.
+++LEIA MAIS: David Bowie planejava relançar Ziggy Stardust direto do espaço
Certamente um artista de outro mundo, David Bowie pode levar o título de grande marciano da cultura pop.
+++ DECLACRUZ SOBRE FILHOS, VIDA E MÚSICA: 'ME ENCONTREI NO AMOR, NA FAMÍLIA, NO LADO BOM'