Depois de estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Palmas, Marcelo Yuka no Caminho das Setas chega a Florianópolis e Maceió, nesta sexta, 7
Quase uma semana depois da estreia oficial de Marcelo Yuka no Caminho das Setas, na primeira leva de praças (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Palmas), o músico e ativista que dá nome ao filme, em entrevista à Rolling Stone Brasil, confessa ainda não ter conseguido assistir ao longa na frente de outras pessoas.
É difícil para Yuka assumir esse papel de protagonista, mesmo que seja no filme que retrata a sua vida nos últimos sete anos, dirigido e roteirizado pela cineasta e também jornalista Daniela Broitman. Roteiro, aliás, é um termo que gerou encrencas entre ambos durante todo o processo de filmagem de No Caminho das Setas. Embora amigos de longa data, o músico e a diretora divergiram sobre a ideia de ter uma história-base a seguir. “Eu dizia: ‘Você não vai roteirizar a minha vida’”, conta Yuka. “Ele falava: ‘Você não vai roteirizar minha vida’”, repete Daniela. O músico se justifica: “Fazer cinema é uma coisa muito agressiva. O cinema para as ruas, monta tudo em torno dele”.
A cineasta lembra que até a regulagem da potência do aparelho de ar-condicionado deveria ser imaculada. “Embora seja um documentário, que não possui um roteiro fechado e hermético – diferentemente da ficção –, era preciso de um pré-roteiro”, diz ela. Momentos de grande intimidade eram difíceis para o músico. “No início, era apenas eu com a câmera”, conta a diretora. “Mas depois a equipe cresceu. Então era mais difícil para ele, mesmo.”
Daniela explica que, antes de começar a filmar Marcelo Yuka no Caminho das Setas, ela havia ficado espantada pela forma como o músico era visto por aqueles que não o conheciam direito. Era tratado de formas diferentes: hitmaker, ativista político e até herói por ter sido alvejado por balas de criminosos e, com isso, perdido o movimento das pernas, para proteger uma garota (visão que Yuka refuta). “Eu conhecia ele de verdade. Decidi fazer o filme justamente por tudo aquilo que pode ser visto nele. A ideia era abrir a porta para vários temas. Não achar uma resposta, mas, sim, abrir para uma reflexão sobre os valores da nossa sociedade”.
O documentário preza, justamente, por mostrar um homem comum ali na tela – como qualquer humano, com limitações, fraquezas e brilhantismo, misturados em um grande caldeirão de emoções e sentimentos. “Para mim, existe o Marcelo e existe o Yuka”, diz Daniela. O músico concorda: “As cenas em que é mostrado o Marcelo, não o Yuka, são aquelas que eu mais gosto. Não estou aqui para fazer o papel do bom moço. As biografias, em livros e filmes, que eu mais gosto, são aquelas que mostram um personagem multifacetado”.
O filme, que levou o prêmio de melhor montagem no Festival do Rio, em 2011, ainda mostra o fim da relação de Yuka com O Rappa, dando vozes para todos. “O primeiro e mais aberto para falar sobre isso era o [tecladista Marcelo] Lobato”, relembra Daniela. No fim, o enorme silêncio sobre a saída de Yuka é quebrado e a justificativa que se dá é que o músico, por assinar grande parte das letras dos sucessos da banda, ganhava mais que os demais. “Nós temos família”, justifica, em dado momento, um membro do grupo. Yuka, no hospital ou em casa, recuperando-se após ser baleado, não conseguia compor ou gravar. E a parceria rachou de forma dolorosa para ambos os lados – muitos dos hits d’O Rappa são da época em que Yuka estava na banda; enquanto isso, o ex-baterista ainda está gravando seu disco solo, refeito algumas vezes.
Marcelo Yuka no Caminho das Setas chega, nesta sexta, 7, em novas praças: Florianópolis e Maceió. Em Porto Alegre, a estreia será no dia 14. O longa ainda será exibido em Brasília, mas o cronograma ainda não foi definido.